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CINEMA/ESTRÉIAS
"AOS TREZE"
Sem julgamentos, filme aborda a relação entre duas adolescentes
Retrato teen feminino disseca hedonismo e consumismo
CÁSSIO STARLING CARLOS
EDITOR DO FOLHATEEN
A adolescência parece
mais um filme de terror. Enquanto alguns vagam feito zumbis em busca de sua alma gêmea,
outros se lançam como vampiros
no pescoço dos que integram a
turma. Não é à toa que o terror é o
gênero "teen" favorito.
Por uns, "Aos Treze" será visto
como um drama sobre uma garota que ao chegar aos 13 anos, espécie de limiar da adolescência, se
lança com toda a força na "perdição" (sexo e drogas, leia-se). De
fato, "Aos Treze" é um filme de
terror em que às vezes se é zumbi,
em outras, vampiro.
Tracy (Evan Rachel Wood, excepcional) leva uma vida tradicional, brincando de Barbie com as
amiguinhas, até que descobre
Evie (Nikki Reed), a famosa "gostosa da escola", a popular, a mais
bem-vestida, a "cool".
Para se integrar, para se tornar
"cool", Tracy vai entregar tudo
que tem a Evie, inclusive o próprio quarto e o pescoço.
"Aos Treze" costuma ser comparado ao impactante "Kids", de
Larry Clark, do qual seria uma
versão "light", sobre e para meninas, passada numa América metropolitana, suburbana e amoral.
Pode ser. Mas o filme se assemelha mais a uma versão de terror
das série "Melrose" e "Popular".
A inteligência aqui consiste em
fazer o fantástico assombrar o reino do banal. Hedonismo e consumismo, moedas de troca indispensáveis para ser "moderno",
ganham nuanças assombrosas, a
ponto de o espectador se questionar se prazer e gasto são tão "inocentes" quanto podem parecer.
O melhor é que "Aos Treze" não
se resume a um projeto de adultos, não é uma tentativa de retratar o lado escuro da juventude
contemporânea numa perspectiva moral.
O roteiro foi escrito a quatro
mãos pela diretora Catherine
Hardwicke e pela atriz Nikki Reed
(aos 13 anos), que jogou nele sua
própria experiência. Isso reforça a
impressão de autenticidade que é
um dos pontos fortes do filme.
Para conquistar o interesse do
espectador adolescente, a diretora
filma de uma maneira nervosa,
câmera na mão em tempo integral, aproximando a estética tanto
do videoclipe quanto das exigências realistas da história.
Quando relata o efeito das drogas, não é careta. Mostra o efeito
de prazer, a diversão, sem esquecer a "badtrip" e o descontrole.
Quando filma a entrega ao consumismo, exibe garotas lindas e
gostosas metidas em jeans e tops
apertadinhos, perfuradas de piercings e loucas por tattoos, mas enxerga também que para atingir esse ápice do prazer foi preciso roubar e trapacear.
Hedonismo e consumismo,
ilustra "Aos Treze", tornaram-se
de tal maneira forças de identificação na sociedade contemporânea que nem os adultos conseguem escapar delas.
Por tratar com honestidade desses comportamentos comuns às
gerações que hoje representam
papéis de pais e de filhos, "Aos
Treze" poderia ter sido lançado
com o slogan "um filme para toda
a família". Não estaria mentindo.
Aos Treze
Thirteen
Direção: Catherine Hardwicke
Produção: EUA/Inglaterra, 2003
Com: Evan Rachel Wood, Nikki Reed
Quando: estréia hoje, no Frei Caneca
Unibanco Arteplex 9 e circuito
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