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São Paulo, sexta-feira, 17 de outubro de 2003

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CINEMA/ESTRÉIAS

"AOS TREZE"

Sem julgamentos, filme aborda a relação entre duas adolescentes

Retrato teen feminino disseca hedonismo e consumismo

CÁSSIO STARLING CARLOS
EDITOR DO FOLHATEEN

A adolescência parece mais um filme de terror. Enquanto alguns vagam feito zumbis em busca de sua alma gêmea, outros se lançam como vampiros no pescoço dos que integram a turma. Não é à toa que o terror é o gênero "teen" favorito.
Por uns, "Aos Treze" será visto como um drama sobre uma garota que ao chegar aos 13 anos, espécie de limiar da adolescência, se lança com toda a força na "perdição" (sexo e drogas, leia-se). De fato, "Aos Treze" é um filme de terror em que às vezes se é zumbi, em outras, vampiro.
Tracy (Evan Rachel Wood, excepcional) leva uma vida tradicional, brincando de Barbie com as amiguinhas, até que descobre Evie (Nikki Reed), a famosa "gostosa da escola", a popular, a mais bem-vestida, a "cool".
Para se integrar, para se tornar "cool", Tracy vai entregar tudo que tem a Evie, inclusive o próprio quarto e o pescoço.
"Aos Treze" costuma ser comparado ao impactante "Kids", de Larry Clark, do qual seria uma versão "light", sobre e para meninas, passada numa América metropolitana, suburbana e amoral.
Pode ser. Mas o filme se assemelha mais a uma versão de terror das série "Melrose" e "Popular".
A inteligência aqui consiste em fazer o fantástico assombrar o reino do banal. Hedonismo e consumismo, moedas de troca indispensáveis para ser "moderno", ganham nuanças assombrosas, a ponto de o espectador se questionar se prazer e gasto são tão "inocentes" quanto podem parecer.
O melhor é que "Aos Treze" não se resume a um projeto de adultos, não é uma tentativa de retratar o lado escuro da juventude contemporânea numa perspectiva moral.
O roteiro foi escrito a quatro mãos pela diretora Catherine Hardwicke e pela atriz Nikki Reed (aos 13 anos), que jogou nele sua própria experiência. Isso reforça a impressão de autenticidade que é um dos pontos fortes do filme.
Para conquistar o interesse do espectador adolescente, a diretora filma de uma maneira nervosa, câmera na mão em tempo integral, aproximando a estética tanto do videoclipe quanto das exigências realistas da história.
Quando relata o efeito das drogas, não é careta. Mostra o efeito de prazer, a diversão, sem esquecer a "badtrip" e o descontrole.
Quando filma a entrega ao consumismo, exibe garotas lindas e gostosas metidas em jeans e tops apertadinhos, perfuradas de piercings e loucas por tattoos, mas enxerga também que para atingir esse ápice do prazer foi preciso roubar e trapacear.
Hedonismo e consumismo, ilustra "Aos Treze", tornaram-se de tal maneira forças de identificação na sociedade contemporânea que nem os adultos conseguem escapar delas.
Por tratar com honestidade desses comportamentos comuns às gerações que hoje representam papéis de pais e de filhos, "Aos Treze" poderia ter sido lançado com o slogan "um filme para toda a família". Não estaria mentindo.


Aos Treze
Thirteen
   
Direção: Catherine Hardwicke
Produção: EUA/Inglaterra, 2003
Com: Evan Rachel Wood, Nikki Reed
Quando: estréia hoje, no Frei Caneca Unibanco Arteplex 9 e circuito


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