DA REPORTAGEM LOCAL

Jorge Ben Jor não é o único excêntrico que andará pelos palcos paulistanos no próximo fim de semana. O "Rei" Roberto Carlos, 63, quebra no próximo sábado, no Pacaembu, o jejum de nunca haver se apresentado num estádio na cidade de São Paulo.
Trata-se da primeira apresentação, aqui, da turnê "Pra Sempre", que estreou em julho, em Porto Alegre (RS). Como tem sido praxe em sua história, mudanças e novidades serão sutis -mas, sim, acontecerão. Se for cumprido o roteiro pré-programado (leia quadro à dir.), estará de volta a seu repertório após longa ausência o rock desacelerado "Ilegal, Imoral ou Engorda" (76), dele e de Erasmo Carlos.
E então RC, notório religioso avesso a termos como "inferno", "mal" e "gozar" nos últimos anos, cantará novamente versos rebeldes e zangados como "que culpa tenho eu, me diga amigo meu?/ será que tudo que eu gosto é ilegal, é imoral ou engorda?".
Outra novidade em "Pra Sempre" é a que coloca em planos equivalentes o humor mercadológico e o apetite assistencialista do tipo o projeto Fome Zero do governo Lula. RC é agora garoto-propaganda da Nestlé, que bolou para o show no Pacaembu um programa especial para o setor de arquibancadas do estádio: até o dia 20 (ou até que se esgotem), ingressos daquele setor poderão ser obtidos em troca da combinação de R$ 10, uma lata fechada de 400g de Nescau e uma lata fechada de Leite Moça. Os produtos serão doados para a sociedade assistencial São Vicente de Paulo.
O aporte de público para o qual são inacessíveis os preços entre R$ 30 e R$ 140 das cadeiras do estádio é assim caracterizado pelo diretor de comunicação e marketing da Nestlé, Mário Castelar: "Nossos consumidores são beneficiados porque têm acesso facilitado pelos ingressos populares. Pessoas que precisam são beneficiadas porque recebem alimentos. E nossas marcas são beneficiadas porque realizam os sonhos das pessoas e colocamos em prática a proposta de fazer o bem."
Castelar se refere ao slogan atual da empresa, que vende que "Nestlé faz bem". "Não há ninguém melhor do que Roberto Carlos para materializar esse tema. Ele é uma pessoa do bem e assim será "pra sempre"."
A Nestlé afirma que o compromisso inicial estabelecido é para 27 shows, mas não revela o investimento que está fazendo na turnê de RC. Esse, por sua vez, mostra vir recuperando o ritmo de atividades artísticas, desacelerado a partir da doença e morte da mulher Maria Rita, em 1999.
Vice-presidente da gravadora Sony, Alexandre Schiavo confirma que Roberto está gravando um CD de intérprete: "Ele já havia pensado muitas vezes nesse projeto. É uma idéia antiga. Roberto vem trabalhando intensamente nesse disco". O que ele não confirma é que seria um disco de canções em inglês, emprestadas de nomes como Elvis Presley. (PAS)