São Paulo, domingo, 17 de outubro de 2004

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MÚSICA

Artista reagrupa Banda do Zé Pretinho para mostrar CD que gravou só e fala dos súditos Racionais e Nação Zumbi

Homem-banda, Ben Jor reina na multidão

Luciana Whitaker/Folha Imagem
Jorge Ben Jor ensaia com sua Banda do Zé Pretinho, no Rio, para show que mostra pela primeira vez em SP na sexta e no sábado


PEDRO ALEXANDRE SANCHES
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

É hora de reagrupar a Banda do Zé Pretinho. Jorge Ben Jor, 62, chega animado ao galpão da gravadora Universal, no Rio, onde vai ensaiar a conversão do recém-lançado disco "Reactivus Amor Est (Turba Philosophorum)" em show de banda e "band leader".
"Para animar a festa", dispara, como em substituição a um "oi" ou "boa noite". Fará poucos ensaios até os shows marcados para São Paulo na sexta e no sábado próximos -afinal, vem azeitando sua Banda do Zé Pretinho por quase três décadas de estrada.
Ben Jor tem gostado de explicar que trabalhou sozinho no novo CD, produzindo, compondo, cantando e tocando feito homem-banda. Mas mistérios se escondem atrás de sua solidão produtiva, e ele não facilita a resolução dos enigmas -leia abaixo como ele explica o que é Jorlando Rollins Music, a que são creditados os arranjos e programações eletrônicas do álbum.
Seja Jorlando Rollins uma pessoa, um grupo ou uma entidade secreta, o fato é que Ben Jor nunca está realmente só. Falando à Folha antes do ensaio, comenta a amizade com o rapper Mano Brown (que batizou seus filhos de Jorge e Domingas, em homenagem a ele e a sua mulher) e com outros dos muitos artistas mais jovens que o cultuam como rei.
Comenta também o comboio Los Sebosos Postizos, que reúne músicos das bandas pernambucanas Nação Zumbi e Mundo Livre S/A em torno de releituras de suas composições dos anos 60 e 70. E então vai ensaiar, contente.
 

Folha - Como você fará para reproduzir no palco um CD que se utiliza tanto de recursos eletrônicos?
Jorge Ben Jor -
É, reproduzir direto não dá, né? Teria que ter dois teclados, um DJ... Seria até mais fácil que fazer com banda. Mas estamos passando algumas frases dos sintetizadores para os metais.

Folha - Quem ou o que é Jorlando Rollins Music?
Ben Jor -
São meus assistentes musicais, que trabalham comigo, mas não interferem no meu trabalho. Eles dão as dicas de como é que a gente pode fazer, mas o trabalho todo foi meu mesmo, produzido e tocado por mim. Só não toquei pandeiro e conga no disco.

Folha - Foi você que fez as programações eletrônicas?
Ben Jor -
Não, as programações... Fiz, sim, em Orlando (EUA), onde comecei a gravar. Gravei um pouco lá, um pouco aqui, em todo lugar.

Folha - Esses assistentes são músicos conhecidos?
Ben Jor -
Não, não são. É mais esse pessoal que existe muito nos Estados Unidos, que não chega a ser DJ, é mais pessoal técnico de estúdio, de gravação, que conhece detalhes de como plugar, tira vantagem de tudo. É uma coisa incrível, lá há universidade para isso. Eles dominam a técnica, você fica bobo. Mas não passam para ninguém também. Me ensinaram, senão não daria para fazer.

Folha - O novo disco remete à fase dos anos 80, dos sintetizadores de Lincoln Olivetti, não?
Ben Jor -
Aprendi muito com Lincoln Olivetti, Serginho Trambone, aquela cozinha e aquela metaleira toda. Como músico que gosto de ser e quero ser, é bom para mim estar perto deles, porque aprendo mais. Foi muito boa aquela fase, fiz um disco todinho com Lincoln, "Alô, Alô, Como Vai?" (80). Foi tão difícil que nenhuma banda conseguia tocar. Fui muito criticado na época, mas era uma inovação. Hoje todo mundo faz. Mas, realmente, eles foram os pioneiros desse som, passaram para as bandas que tocavam em baile.

Folha - Lincoln Olivetti não é um dos Jorlando Rollins Music?
Ben Jor -
Não. Ele poderia até ser, porque ele faz tudo sozinho. Lincoln é uma escola. Você chega na casa dele, ele está lá com uma luzinha que só ele enxerga, não mexe em nada. Não tem ninguém, não tem roadie, nada -é só ele.

Folha - Como foi sua participação no show que vai virar o primeiro DVD dos Racionais MC's?
Ben Jor -
Mano Brown me chamou lá para fazer, falei "vou". Estava chovendo, o Sesc lotado. Eles são poderosos, quando chegaram todo mundo começou a cantar, foi arrepiante. Sempre falo com Mano Brown, ele me liga ou às vezes eu ligo para ele, brincamos falando dos nossos times.
Na periferia de São Paulo as músicas mais pedidas são "Jesualda" (75), "A Princesa e o Plebeu" (64), "Magnólia" (74), "Domênica" (70), só coisa de baú, que aprendem em baile. No show dos Racionais veio garoto me perguntar: "Você que é o dono de "vamos passear no parque" [trecho de "Domingas", citada pelos Racionais em "Fim de Semana no Parque"]? Falo "sou eu".

Folha - Você já ouviu Los Sebosos Postizos?
Ben Jor -
Já vi, tocam só música minha. Eu já gosto da Nação Zumbi há mais de dez anos. Vi quando estavam começando, achei uma coisa diferente na praça, uma sonoridade forte, de tambores, aquela coisa bem tribal, guitarra elétrica. E depois tinha um cara tocando cavaquinho, suingando, pô, era Fred Zero Quatro [do Mundo Livre S/A]. Que legal, é uma história nova. A música do Nordeste só vinha como baião, xote, essas coisas. Eles chegaram, foi sensacional.

Folha - O que você acha da releitura soturna que fazem de sua obra, sempre tida como alegre?
Ben Jor -
É, no meu disco "Músicas para Tocar em Elevador" (97), gravei "Charles Jr." com a Nação Zumbi, já era toda soturna, tipo "Maracatu Atômico". É um estilo, eles sentem quando cantam.
"Oba, Lá Vem Ela" (70) tem uma gravação bonita do Charlie Brown Jr., eles são meus amigos. Bato papo com todo esse pessoal mais novo, eles gostam do meu som. Há coisas que fazem que eu gostaria de ter feito.


JORGE BEN JOR - Show de apresentação do disco "Reactivus Amor Est (Turba Philosophorum)". Onde: DirecTV Music Hall (av. Jamaris, 213, Moema, tel. 0/xx/ 11/6846-6040). Quando: sexta (dia 22) e sábado (23), às 22h. Quanto: R$ 40 a R$ 100 (no DirecTV Music Hall, Teatro Abril e livrarias Fnac e Saraiva Megastore).


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