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31ª Mostra de SP
Amor demais move "O Passado"
Filme aborda laço entre ex-amantes, a partir da separação de um casal, depois de 12 anos de romance
Babenco, o diretor, defende
personagem obsessiva e diz
que "comportamento dos
que saem da normalidade é
o interesse da dramaturgia"
DA REPORTAGEM LOCAL
"O Passado", novo filme do
cineasta Hector Babenco, baseia-se no romance homônimo
do escritor argentino Alan
Pauls (Cosac Naify) e também
numa certeza do diretor:
"Quem manda na relação é a
mulher. Por mais que o homem
seja agressivo nos negócios, por
mais que ele seja autodeterminado nas atitudes empresariais
e comportamentais, o vetor da
relação é a mulher".
No caso de "O Passado", a
mulher continua mandando,
mesmo após o fim da relação.
Sofía (Analía Couceyro) não
desiste de ter um papel na vida
de Rímini (Gael García Bernal),
com quem viveu um romance
de 12 anos, ainda que ele se case
pela segunda ou terceira vez.
Babenco afirma que "os personagens que saem da normalidade são os que interessam à
dramaturgia". E a ele, especialmente, interessam aqueles que
"carregam uma loucura com
aparência de normalidade".
Foi a aparência de mulher
comum da "grande atriz" Analía Couceyro que pesou na escolha do diretor sobre ela. "Todas as outras que vinham para
os testes eram ou bonitas demais ou atrevidas demais ou
gostosas demais. Não tinham
nada a ver com as mulheres da
vida real", afirma.
Argentina
Assim como havia feito em
"Coração Iluminado" (1998),
outro título seu a tratar de memórias afetivas, Babenco retornou à Argentina para filmar "O
Passado", que é falado em espanhol e tem elenco argentino, à
parte o mexicano García Bernal
no papel do protagonista e uma
participação especial do brasileiro Paulo Autran (1922-2007), filmada em São Paulo.
Nascido na região litorânea
de Mar del Plata e radicado no
Brasil desde a juventude, Babenco naturalizou-se brasileiro
antes de filmar "Lúcio Flávio
-°Passageiro da Agonia" (1977),
um filme-denúncia sobre a violência e a corrupção no Brasil.
"Está claro que sou um brasileiro que nasceu na Argentina.
Mas não posso erradicar meus
17 anos vividos lá, esse período
das descobertas", diz, sobre a
escolha de fazer de seu "O Passado" um filme argentino, co-produzido com o Brasil.
Além de inaugurar a 31ª Mostra Internacional de Cinema de
São Paulo, o filme integra a programação do Festival Internacional de Roma (18/10 a 27/10).
A adaptação para o cinema
das 530 páginas do romance "O
Passado" consumiu um ano e
meio de trabalho de Babenco e
de sua co-roteirista Marta Góes
e nove versões, que contaram
com diversos colaboradores.
Babenco conta que eliminou
diversas tramas paralelas e se
concentrou na história dos personagens principais, porque
quis fazer um filme "seco, em
carne viva".
Metalinguagem
Por isso também evitou interferências metalingüísticas
nas escolhas dos trabalhos que
o tradutor Rímini desempenha
durante a história, executando
legendas para filmes.
"A metalinguagem tem uma
aparência de inteligência. Mas
seria um golpe baixo. Não caí
na tentação de colocá-lo traduzindo "Rocco e seus Irmãos",
por exemplo. É tudo lixo [os filmes que aparecem dentro do
filme]", afirma Babenco.
Na montagem, o diretor dispensou diversas cenas que considerava reiterativas. "Continuo querendo desafiar o espectador, não facilitar sua vida.
Não acho que seja preciso atirar goiabada para ele, como fazia o Chacrinha", diz.
Babenco avalia que o resultado que alcançou em "O Passado" o transforma no melhor filme de sua carreira, superior até
a "Pixote - A Lei do Mais Fraco"
(1981), sucesso em escala mundial que lhe abriu as portas de
Hollywood . "Em "Pixote" ainda
havia uma busca [formal], aqui
há um desgarramento", afirma.
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