São Paulo, quarta-feira, 17 de outubro de 2007

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31ª Mostra de SP

Amor demais move "O Passado"

Filme aborda laço entre ex-amantes, a partir da separação de um casal, depois de 12 anos de romance

Babenco, o diretor, defende personagem obsessiva e diz que "comportamento dos que saem da normalidade é o interesse da dramaturgia"

DA REPORTAGEM LOCAL

"O Passado", novo filme do cineasta Hector Babenco, baseia-se no romance homônimo do escritor argentino Alan Pauls (Cosac Naify) e também numa certeza do diretor: "Quem manda na relação é a mulher. Por mais que o homem seja agressivo nos negócios, por mais que ele seja autodeterminado nas atitudes empresariais e comportamentais, o vetor da relação é a mulher".
No caso de "O Passado", a mulher continua mandando, mesmo após o fim da relação. Sofía (Analía Couceyro) não desiste de ter um papel na vida de Rímini (Gael García Bernal), com quem viveu um romance de 12 anos, ainda que ele se case pela segunda ou terceira vez.
Babenco afirma que "os personagens que saem da normalidade são os que interessam à dramaturgia". E a ele, especialmente, interessam aqueles que "carregam uma loucura com aparência de normalidade".
Foi a aparência de mulher comum da "grande atriz" Analía Couceyro que pesou na escolha do diretor sobre ela. "Todas as outras que vinham para os testes eram ou bonitas demais ou atrevidas demais ou gostosas demais. Não tinham nada a ver com as mulheres da vida real", afirma.

Argentina
Assim como havia feito em "Coração Iluminado" (1998), outro título seu a tratar de memórias afetivas, Babenco retornou à Argentina para filmar "O Passado", que é falado em espanhol e tem elenco argentino, à parte o mexicano García Bernal no papel do protagonista e uma participação especial do brasileiro Paulo Autran (1922-2007), filmada em São Paulo.
Nascido na região litorânea de Mar del Plata e radicado no Brasil desde a juventude, Babenco naturalizou-se brasileiro antes de filmar "Lúcio Flávio -°Passageiro da Agonia" (1977), um filme-denúncia sobre a violência e a corrupção no Brasil.
"Está claro que sou um brasileiro que nasceu na Argentina. Mas não posso erradicar meus 17 anos vividos lá, esse período das descobertas", diz, sobre a escolha de fazer de seu "O Passado" um filme argentino, co-produzido com o Brasil.
Além de inaugurar a 31ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, o filme integra a programação do Festival Internacional de Roma (18/10 a 27/10).
A adaptação para o cinema das 530 páginas do romance "O Passado" consumiu um ano e meio de trabalho de Babenco e de sua co-roteirista Marta Góes e nove versões, que contaram com diversos colaboradores.
Babenco conta que eliminou diversas tramas paralelas e se concentrou na história dos personagens principais, porque quis fazer um filme "seco, em carne viva".

Metalinguagem
Por isso também evitou interferências metalingüísticas nas escolhas dos trabalhos que o tradutor Rímini desempenha durante a história, executando legendas para filmes.
"A metalinguagem tem uma aparência de inteligência. Mas seria um golpe baixo. Não caí na tentação de colocá-lo traduzindo "Rocco e seus Irmãos", por exemplo. É tudo lixo [os filmes que aparecem dentro do filme]", afirma Babenco.
Na montagem, o diretor dispensou diversas cenas que considerava reiterativas. "Continuo querendo desafiar o espectador, não facilitar sua vida. Não acho que seja preciso atirar goiabada para ele, como fazia o Chacrinha", diz.
Babenco avalia que o resultado que alcançou em "O Passado" o transforma no melhor filme de sua carreira, superior até a "Pixote - A Lei do Mais Fraco" (1981), sucesso em escala mundial que lhe abriu as portas de Hollywood . "Em "Pixote" ainda havia uma busca [formal], aqui há um desgarramento", afirma.


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