|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"Eu era muito nerd, e ainda sou", diz Stipe
Aos 48, líder do R.E.M. diz que aprendeu a "se aceitar" e a projetar atitude "falsa'
Cantor diz "gostar de sentir" as cidades nas quais faz show; banda se apresenta em Porto Alegre, no Rio e em São Paulo, em novembro
Ints Kalnins - 12.set.08/Reuters
|
|
O vocalista do R.E.M., Michael Stipe, e o guitarrista, Peter Buck, em show em Riga, na Letônia
DE NOVA YORK
Aos 48, Michael Stipe diz que
faz rock com o mesmo vigor dos
25 e que os brasileiros podem
esperar shows melhores do que
o único que o R.E.M. fez no país
até agora, em 2001, no Rock in
Rio. Na entrevista abaixo, ele
fala sobre a nova fase da banda
(formada também pelo baixista
Mike Mills e o guitarrista Peter
Buck) e suas andanças pelo Rio.
(DANIEL BERGAMASCO)
FOLHA - O que o Brasil pode esperar dos shows do R.E.M.?
MICHAEL STIPE - Os shows serão
diferentes do de 2001. Serão
melhores. A banda está tocando muito bem. Temos novos
sons, mas tocamos também os
hits, porque as pessoas amam
ouvi-los e nós, tocá-los.
FOLHA - Menos "Shiny Happy People", naturalmente...
STIPE - Sim, isso não vai acontecer. É uma música divertida,
mas é para crianças, não é algo
que eu queira tocar novamente.
Então selecionamos músicas
que vão até nosso primeiro álbum, dependendo do lugar. Me
conte, que músicas são populares no Brasil? Provavelmente
tocaremos "I've Being High",
"She Just Wants to Be",
"Country Feedback".
FOLHA - Alguma chance para
"Everybody Hurts"?
STIPE - Não tocamos ainda na
turnê, mas pode acontecer. O
repertório é mais rápido, mais
rock and roll, mas tenho pensado nisso. No lugar dela, tocamos "Let Me In", que fiz para o
Kurt Cobain. E "Ignoreland",
que é uma música política, que
nunca tocamos antes.
FOLHA - Por que você diz que nesse
último disco a banda está se "comunicando" melhor?
STIPE - Estamos juntos há 28
anos, e às vezes você se esquece
de como conversar. Não acho
que nossos shows estivessem
sofrendo com isso, mas os discos estavam. Com "Accelerate",
nós nos sentamos à mesa e dissemos: "Precisamos resolver isso". Agora está tudo resolvido.
Fizemos uma boa gravação e
seguimos em frente. A "aceleração" do disco reflete como
nos sentimos hoje.
FOLHA - Em SP, os ingressos custam entre R$ 200 e R$ 500. Você se
preocupa com esses detalhes aos fechar um show?
STIPE - Mais do que outras bandas, nós trabalhamos próximos
ao produtor para nos certificarmos de que o preço seja o que
deve ser, que seja acessível. Nos
disseram que é. [Depois, com o
gravador desligado, faz uma série de perguntas sobre o preço
dos ingressos e qual o poder de
compra no Brasil.]
FOLHA - Em turnê, é possível conhecer algo das cidades?
STIPE - Sim, porque faço um esforço. Estou muito ansioso para ir a SP. Vou querer andar pela cidade, procurar um museu,
um bom café, um bom restaurante e simplesmente estar na
rua. Gosto de sentir o lugar.
FOLHA - Guarda lembranças do
Rio?
STIPE - O show foi maravilhoso.
Foo Fighters estava tocando lá,
era aniversário do Dave
[Grohl], e comemoramos nos
bastidores. Levamos caipirinha
ao palco, brindamos ao Brasil.
Mas a maior lembrança é a de
estar em Ipanema, andando pela vizinhança. Consegui escapar dos paparazzi e entrei em
um café, tomei uma frutinha
chamada [soletra] A, C, A, I...
Açaí? E fiquei andando, vendo a
arquitetura, ouvindo pessoas.
FOLHA - Sobre política: com a turnê, deixará de votar?
STIPE - Acabei de votar. Mandei
hoje meu voto para Barack
Obama [candidato democrata à
Casa Branca, pelo programa de
voto antecipado]. Obama conseguiu falar com um vasto número de pessoas, em um país
tão complexo, e entusiasmá-las. Os EUA precisam dele.
FOLHA - Como se sente sobre o moralismo na América? Você se assumiu gay...
STIPE - [Interrompendo]
...1994 foi o ano em que decidi
assumir minha homossexualidade. Todas as vezes em que falo sobre isso em público, isso é
descoberto por uma nova geração. Mas sobre moralidade...
Bem, vejo a educação desse país
passar de mal a pior, e em um
ambiente assim você encontra
intolerância. E as pessoas ficam
mais fáceis de manipular. Por
isso, as verbas para educação
pública têm diminuído.
FOLHA - Em "Supernatural Superserious" (do álbum "Accelerate"),
você fala sobre humilhação a adolescentes. Sofria com isso?
STIPE - A música não é autobiográfica. Mas eu era totalmente
nerd, e ainda sou. Você não precisa ser um adulto, pode ser
uma criança que consegue rir
de si mesma. E eu sou assim.
Estou projetando essa atitude
de "não-nerdismo", e as pessoas
aceitam e compram, mas ela é
completamente falsa [risos].
FOLHA - Como vê, hoje, a cena musical independente, que o projetou?
STIPE - Parte da melhor música
que eu já ouvi está sendo feita
agora. The National, MGMT...
Santogol fez o disco do verão.
Texto Anterior: Acelera, Stipe Próximo Texto: Frases Índice
|