São Paulo, sexta-feira, 17 de outubro de 2008

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"Eu era muito nerd, e ainda sou", diz Stipe

Aos 48, líder do R.E.M. diz que aprendeu a "se aceitar" e a projetar atitude "falsa'

Cantor diz "gostar de sentir" as cidades nas quais faz show; banda se apresenta em Porto Alegre, no Rio e em São Paulo, em novembro


Ints Kalnins - 12.set.08/Reuters
O vocalista do R.E.M., Michael Stipe, e o guitarrista, Peter Buck, em show em Riga, na Letônia

DE NOVA YORK

Aos 48, Michael Stipe diz que faz rock com o mesmo vigor dos 25 e que os brasileiros podem esperar shows melhores do que o único que o R.E.M. fez no país até agora, em 2001, no Rock in Rio. Na entrevista abaixo, ele fala sobre a nova fase da banda (formada também pelo baixista Mike Mills e o guitarrista Peter Buck) e suas andanças pelo Rio.
(DANIEL BERGAMASCO)

 

FOLHA - O que o Brasil pode esperar dos shows do R.E.M.?
MICHAEL STIPE
- Os shows serão diferentes do de 2001. Serão melhores. A banda está tocando muito bem. Temos novos sons, mas tocamos também os hits, porque as pessoas amam ouvi-los e nós, tocá-los.

FOLHA - Menos "Shiny Happy People", naturalmente...
STIPE
- Sim, isso não vai acontecer. É uma música divertida, mas é para crianças, não é algo que eu queira tocar novamente. Então selecionamos músicas que vão até nosso primeiro álbum, dependendo do lugar. Me conte, que músicas são populares no Brasil? Provavelmente tocaremos "I've Being High", "She Just Wants to Be", "Country Feedback".

FOLHA - Alguma chance para "Everybody Hurts"?
STIPE
- Não tocamos ainda na turnê, mas pode acontecer. O repertório é mais rápido, mais rock and roll, mas tenho pensado nisso. No lugar dela, tocamos "Let Me In", que fiz para o Kurt Cobain. E "Ignoreland", que é uma música política, que nunca tocamos antes.

FOLHA - Por que você diz que nesse último disco a banda está se "comunicando" melhor?
STIPE
- Estamos juntos há 28 anos, e às vezes você se esquece de como conversar. Não acho que nossos shows estivessem sofrendo com isso, mas os discos estavam. Com "Accelerate", nós nos sentamos à mesa e dissemos: "Precisamos resolver isso". Agora está tudo resolvido. Fizemos uma boa gravação e seguimos em frente. A "aceleração" do disco reflete como nos sentimos hoje.

FOLHA - Em SP, os ingressos custam entre R$ 200 e R$ 500. Você se preocupa com esses detalhes aos fechar um show?
STIPE
- Mais do que outras bandas, nós trabalhamos próximos ao produtor para nos certificarmos de que o preço seja o que deve ser, que seja acessível. Nos disseram que é. [Depois, com o gravador desligado, faz uma série de perguntas sobre o preço dos ingressos e qual o poder de compra no Brasil.]

FOLHA - Em turnê, é possível conhecer algo das cidades?
STIPE
- Sim, porque faço um esforço. Estou muito ansioso para ir a SP. Vou querer andar pela cidade, procurar um museu, um bom café, um bom restaurante e simplesmente estar na rua. Gosto de sentir o lugar.

FOLHA - Guarda lembranças do Rio?
STIPE
- O show foi maravilhoso. Foo Fighters estava tocando lá, era aniversário do Dave [Grohl], e comemoramos nos bastidores. Levamos caipirinha ao palco, brindamos ao Brasil. Mas a maior lembrança é a de estar em Ipanema, andando pela vizinhança. Consegui escapar dos paparazzi e entrei em um café, tomei uma frutinha chamada [soletra] A, C, A, I... Açaí? E fiquei andando, vendo a arquitetura, ouvindo pessoas.

FOLHA - Sobre política: com a turnê, deixará de votar?
STIPE
- Acabei de votar. Mandei hoje meu voto para Barack Obama [candidato democrata à Casa Branca, pelo programa de voto antecipado]. Obama conseguiu falar com um vasto número de pessoas, em um país tão complexo, e entusiasmá-las. Os EUA precisam dele.

FOLHA - Como se sente sobre o moralismo na América? Você se assumiu gay...
STIPE
- [Interrompendo] ...1994 foi o ano em que decidi assumir minha homossexualidade. Todas as vezes em que falo sobre isso em público, isso é descoberto por uma nova geração. Mas sobre moralidade... Bem, vejo a educação desse país passar de mal a pior, e em um ambiente assim você encontra intolerância. E as pessoas ficam mais fáceis de manipular. Por isso, as verbas para educação pública têm diminuído.

FOLHA - Em "Supernatural Superserious" (do álbum "Accelerate"), você fala sobre humilhação a adolescentes. Sofria com isso?
STIPE
- A música não é autobiográfica. Mas eu era totalmente nerd, e ainda sou. Você não precisa ser um adulto, pode ser uma criança que consegue rir de si mesma. E eu sou assim. Estou projetando essa atitude de "não-nerdismo", e as pessoas aceitam e compram, mas ela é completamente falsa [risos].

FOLHA - Como vê, hoje, a cena musical independente, que o projetou?
STIPE
- Parte da melhor música que eu já ouvi está sendo feita agora. The National, MGMT... Santogol fez o disco do verão.


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