São Paulo, domingo, 17 de outubro de 2010

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Empresas dizem que trabalho de piratas é ruim

Legendas de blogueiros desrespeitam quantidade de texto possível de ser lido

Apesar de rapidez, fãs deixam diálogos muito longos por querer explicar tudo; tradutora estima enxugar 20%

DA ENVIADA AO RIO

A internet sempre acompanhou o lançamento internacional das séries.
Blogueiros e fãs baixam seus programas favoritos e, em uma madrugada, liberam arquivos gratuitos -embora piratas- a quem interessar.
As empresas de legendagem defendem que a qualidade de serviços prestados é inferior. Sabrina Martinez, diretora da Gemini e uma das maiores especialistas em tradução audiovisual, diz que verter ao português todas as palavras é um "desserviço".
"O diálogo fica impossível de ser lido por qualquer ser humano. A boa tradução tem de enxugar", explica ela, que estima perder 20% das palavras durante o processo.
"Consideramos "acompanhável" um máximo de 15 letras por linha de texto."
Além disso, não há a preocupação de padronizar a linguagem nem com o português, diz Marcelo Leite, diretor da Drei Marc. "Se ficar definido que essa é a qualidade que se quer, podemos fazer mais rápido. O mercado dita qual é o critério de bom."
Mas indica que os clientes ainda não aceitam essa tradução "frankenstein".
E, por enquanto, não tem sido financeiramente atraente acelerar muito o procedimento. A "taxa de urgência" encarece a tradução e muitas vezes acarreta mais erros (veja exemplos nesta página).
Gustavo Grossmann, diretor-geral da HBO, diz que custa de US$ 4.000 a US$ 6.000 (R$ 6.600 a R$ 13,2 mil) para traduzir um episódio.
No caso de "True Blood", que apresentou o final da terceira temporada no mesmo dia que os EUA, foi feita uma tradução do próprio canal.
"Teve uma pausa na exibição dos capítulos inéditos e acabamos nos juntando à TV americana. Achamos que seria um bom marketing exibir simultaneamente."
A versão brasileira foi feita a partir de uma cópia não finalizada do capítulo. Com a chegada da edição final, a emissora fez uma revisão e levou o produto ao ar.
"Dá para traduzir em quatro horas, espalhando o processo por três pessoas, mas só fazemos em casos especiais. É muito trabalhoso."

SUBTEXTO
Os tradutores apontam que episódios baseados em fatos reais dificultam a legendagem. "Se você não está a par do conceito em que a série se baseia, pode fazer uma grande bobagem", diz Leite.
Mas ele conta que o mais difícil é entender as ironias de personagens de "House" ou "The Good Wife".
"A nuance e o subtexto do que eles falam pode ser mais importante do que o conteúdo que estão repetindo."
Com isso, são valorizados profissionais com conhecimento do universo retratado. "House", que tem falas muito técnicas sobre procedimentos médicos, fica a cargo sempre da mesma tradutora.
"Por causa da antecipação da estreia, no dia seguinte ao capítulo ser exibido nos EUA tem chegado o roteiro para começarmos a legendagem. Nem sonharíamos com isso antigamente", afirma Sabrina Martinez.
(LVR)


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