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VANESSA VÊ TV
VANESSA BARBARA - vanessa.barbara@uol.com.br
No meu tempo
NO MEU tempo, a televisão era diferente. Para começar, havia a supremacia do dublado -todos os filmes,
séries e programas estrangeiros recebiam uma buliçosa versão com
sotaque carioca, provavelmente feita pelo mesmo sujeito, que ganhava
uma miséria e imitava as vozes de
todo o elenco: dos velhos, das moças, das crianças e dos galos.
No meu tempo, havia televisões
em preto e branco de cinco
polegadas com rádio AM/FM, que
só sintonizavam à base de petelecos
e mandinga brava. Havia a frequência UHF e um cheiro permanente
de queimado saindo de trás do
televisor.
Nos idos d'antanho, as antenas
eram Plasmatic, tinham a forma
triangular e um Bombril na ponta. A
gente costumava revezar o membro
da família encarregado de ficar de
pé, ao lado do aparelho, segurando
a antena num ângulo específico -o
braço esquerdo levemente arqueado, os joelhos dobrados, o pescoço
pra trás. Era como nós praticávamos a ioga naquela época.
As partidas de futebol eram mais
proveitosas: todos os jogadores tinham a coloração esverdeada e cada atleta recebia a marcação cerrada de um habilidoso irmão gêmeo.
Nunca dava pra ver a bola e, aparentemente, os 22 elementos em
campo usavam a mesma cor de uniforme, rolando a pelota fraternalmente para o mesmo time. Era bonito o futebol no meu tempo.
À tarde, a gente assistia ao game-show "SuperMarket" (Band), uma
despropositada gincana dentro de
um supermercado. Acertávamos a
resposta das charadas que o Ricardo Corte Real fazia sobre produtos
lácteos, extrato de tomate e desinfetante. Sabíamos de cor em que corredor ficava o pepino em conserva e
a maionese gigante. Era durante o
"SuperMarket" que a luz de casa
começava a falhar, anunciando a
hora de ir tomar banho (antes que
os vizinhos sugassem toda a energia local).
A televisão de outrora valorizava
a rapidez de raciocínio (imagens oscilantes), a incerteza filosófica ("O
que foi que ele disse?") e a imaginação do espectador, pois nunca dava
pra distinguir com clareza o que estava acontecendo ("Olha, mãe, eu
acho que tem um óvni ali atrás do
Cid Moreira.").
Com o advento da transmissão
em alta resolução, tela de cristal líquido Full HD e som estéreo 5.1, ficou mais chato assistir à televisão.
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