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ARTES PLÁSTICAS/CRÍTICA
Conservador, Panorama retoma discussão da arte pela arte
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
A 29ª edição do Panorama da
Arte Brasileira, com curadoria de Felipe Chaimovich, crítico
da Folha, aposta numa visão conservadora da arte. No texto de parede, que apresenta a mostra, o
curador afirma que "a arte nacional começa com a fundação da
Academia Brasileira de Artes, entre 1816 e 1826" para, a partir daí,
explicar que o Panorama irá se
basear nos oito gêneros da arte
-paisagem, natureza-morta,
costume, retrato, emblema, alegoria, religiosidade e história-,
então defendidos na Academia.
Ora, afirmar que a arte nacional
começa com a Academia não deixa de ser uma visão oficialista, já
que toda a produção barroca é ignorada. Atualmente, é consenso
que o barroco brasileiro é original
em relação à sua matriz européia,
e Aleijadinho, um dos grandes
mestres brasileiros.
Entretanto, o conservadorismo
da mostra se explicita de fato ao
usar os gêneros da arte, aplicados
na Academia do século 19, para
olhar a produção do século 21. Já a
própria arte moderna, com a Semana de 22, tinha como um de
seus principais embates questionar o academicismo vigente. Mas,
e isso é o mais importante, a idéia
de uma arte autônoma, que discute apenas ela mesma, princípio
fundamental da arte moderna, foi
minada pela arte contemporânea.
Em 1967, com a nova objetividade brasileira, artistas como Hélio
Oiticica e Lygia Clark apostavam
no fim da arte pela arte, propondo
um engajamento, não só político
como também estético, que rompia os limites do cubo branco. Por
isso, a discussão sobre os gêneros
se revela vazia, já que busca olhar
o presente sob lentes do passado,
observando mais os conteúdos
das obras do que as pesquisas por
trás destes.
Coincidentemente, esse retorno
ao passado tem se revelado uma
tendência. Tanto a última Bienal
de São Paulo quanto a Bienal do
Mercosul separaram obras por
suporte, enquanto a arte contemporânea busca romper fronteiras.
Talvez seja aconchegante se ater a
princípios internos da arte, mas
quando esse passo já foi rompido,
torna-se estéril reavivar o debate.
Passar pela mostra é constatar
que há mais uma camisa de força
para as obras do que um estímulo
à reflexão. Olhar para "Experiência de Cinema", de Rosângela
Rennó, uma das melhores obras
da mostra, sob o carimbo "alegoria", é reduzir um trabalho que
tensiona o caráter eterno da imagem fotográfica ao projetá-la sob
fumaça. O que Chaimovich propõe é andar num carro de alta potência olhando apenas pelo espelho retrovisor.
Apesar da concepção retrógrada, a seleção traz um amplo espectro da produção nacional, especialmente de obras recentes,
como a casa desconstruída, de José Bechara, e a foto da posse de
Lula, de Mauro Restiffe. Entre os
destaques, estão a instalação de
Chiara Banfi, que rompe com os
limites da mostra, as obras de Diego Belda e João Loureiro, esculturas refinadas e com bom diálogo e
os grafites de Kboco e Herbert Baglione, tendência sendo incorporada novamente à arte contemporânea. É pouco para uma bienal
da importância do Panorama,
que deveria olhar para a futuro e
não se amarrar ao passado.
Panorama da Arte Brasileira 2005
Quando: ter. a dom., das 10h às 18h; até
8/1
Onde: MAM-SP (pq. Ibirapuera, portão 3,
tel. 0/xx/11/5549-9688)
Quanto: R$ 5,50
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