São Paulo, quinta-feira, 17 de novembro de 2005

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ARTES PLÁSTICAS/CRÍTICA

Conservador, Panorama retoma discussão da arte pela arte

FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

A 29ª edição do Panorama da Arte Brasileira, com curadoria de Felipe Chaimovich, crítico da Folha, aposta numa visão conservadora da arte. No texto de parede, que apresenta a mostra, o curador afirma que "a arte nacional começa com a fundação da Academia Brasileira de Artes, entre 1816 e 1826" para, a partir daí, explicar que o Panorama irá se basear nos oito gêneros da arte -paisagem, natureza-morta, costume, retrato, emblema, alegoria, religiosidade e história-, então defendidos na Academia.
Ora, afirmar que a arte nacional começa com a Academia não deixa de ser uma visão oficialista, já que toda a produção barroca é ignorada. Atualmente, é consenso que o barroco brasileiro é original em relação à sua matriz européia, e Aleijadinho, um dos grandes mestres brasileiros.
Entretanto, o conservadorismo da mostra se explicita de fato ao usar os gêneros da arte, aplicados na Academia do século 19, para olhar a produção do século 21. Já a própria arte moderna, com a Semana de 22, tinha como um de seus principais embates questionar o academicismo vigente. Mas, e isso é o mais importante, a idéia de uma arte autônoma, que discute apenas ela mesma, princípio fundamental da arte moderna, foi minada pela arte contemporânea.
Em 1967, com a nova objetividade brasileira, artistas como Hélio Oiticica e Lygia Clark apostavam no fim da arte pela arte, propondo um engajamento, não só político como também estético, que rompia os limites do cubo branco. Por isso, a discussão sobre os gêneros se revela vazia, já que busca olhar o presente sob lentes do passado, observando mais os conteúdos das obras do que as pesquisas por trás destes.
Coincidentemente, esse retorno ao passado tem se revelado uma tendência. Tanto a última Bienal de São Paulo quanto a Bienal do Mercosul separaram obras por suporte, enquanto a arte contemporânea busca romper fronteiras. Talvez seja aconchegante se ater a princípios internos da arte, mas quando esse passo já foi rompido, torna-se estéril reavivar o debate.
Passar pela mostra é constatar que há mais uma camisa de força para as obras do que um estímulo à reflexão. Olhar para "Experiência de Cinema", de Rosângela Rennó, uma das melhores obras da mostra, sob o carimbo "alegoria", é reduzir um trabalho que tensiona o caráter eterno da imagem fotográfica ao projetá-la sob fumaça. O que Chaimovich propõe é andar num carro de alta potência olhando apenas pelo espelho retrovisor.
Apesar da concepção retrógrada, a seleção traz um amplo espectro da produção nacional, especialmente de obras recentes, como a casa desconstruída, de José Bechara, e a foto da posse de Lula, de Mauro Restiffe. Entre os destaques, estão a instalação de Chiara Banfi, que rompe com os limites da mostra, as obras de Diego Belda e João Loureiro, esculturas refinadas e com bom diálogo e os grafites de Kboco e Herbert Baglione, tendência sendo incorporada novamente à arte contemporânea. É pouco para uma bienal da importância do Panorama, que deveria olhar para a futuro e não se amarrar ao passado.


Panorama da Arte Brasileira 2005
  

Quando: ter. a dom., das 10h às 18h; até 8/1
Onde: MAM-SP (pq. Ibirapuera, portão 3, tel. 0/xx/11/5549-9688)
Quanto: R$ 5,50


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