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Crítica/teatro/"Eu Estava em Minha Casa..."
Com texto de Lagarce, Cia. Elevador atinge maturidade
SERGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA
O
ano Lagarce, que comemorou no mundo
todo o cinqüentenário
do autor francês, já havia gerado "História de Amor (Últimos
Capítulos)", que revitalizou o
Teatro da Vertigem. Agora,
com "Eu Estava em Minha Casa e Esperava que a Chuva Chegasse", em cartaz até amanhã
no Sesc da av. Paulista, proporciona a maturidade para Cia.
Elevador de Teatro Panorâmico, de Marcelo Lazzaratto.
Mais representado na França
do que Racine e Tchecov, Jean-Luc Lagarce -que ao morrer,
aos 38 anos, deixou 25 peças
traduzidas em mais de 15 línguas- tem a síntese elegante
do ator clássico e a profundidade psicológica do autor russo.
"Eu Estava em Minha Casa..." reúne temas recorrentes
do autor: depois de uma violenta briga com o pai, o filho mais
novo sai de casa para reaparecer anos depois, com uma
doença terminal. Ao lado do
quarto onde agoniza, cinco mulheres remoem lembranças e
expectativas, noite adentro.
Definidas no texto apenas
por suas idades, surgem como a
avó, a mãe e as três irmãs do
protagonista invisível. Cada
uma vivendo no universo próprio de sua idade, podem também ser a mesma personagem
desdobrada e presa em um buraco espaço-temporal.
Aposta
Com um texto difícil nas
mãos, Lazzaratto dobrou a
aposta ao convidar Miriam Mehler para contracenar com as
atrizes-alunas de sua companhia. Desta vez, seu método de
"campo de visão" não rouba
mais o foco e gera uma marcação precisa, caleidoscópica,
dessas cinco mulheres girando
em torno de seis cadeiras (uma
fica vazia, ecoando a dor da ausência). Com a luz um pouco
complicada demais, mas de
grande beleza, Lazzaratto honra seu mestre Márcio Aurélio.
Mehler contagia o elenco
com seu olhar atento e enternecido e a sua imponência hierárquica. Com gestos que resgatam os tempos áureos do
Teatro Brasileiro de Comédia,
tem um contraponto no frescor
de Juliana Pinho, a irmã mais
nova. Um pouco mais empostada, Marina Vieira garante bons
momentos, enquanto que Grácia Navarro, atriz convidada,
não tem a força exigida pelo
personagem da mãe. Mas a
grande surpresa é Carolina Fabri, que assume a irmã mais velha, espinha dorsal da trama,
com vigor impressionante.
A boa tradução de Maria Clara Ferrer e o figurino elegante e
inteligente de Márcio Tadeu
contribuem também para que,
com essa montagem marcante,
o Elevador ultrapasse a etapa
dos exercícios abertos para
conquistar o primeiro time das
companhias paulistas.
EU ESTAVA EM MINHA CASA E
ESPERAVA QUE A CHUVA CHEGASSE
Texto: Jean-Luc Lagarce
Direção: Marcelo Lazzarato
Com: Miriam Mehler, Carolina Fabri
Quando: hoje, às 21h30; amanhã, às
18h
Onde: Unidade Provisória Sesc Paulista (av. Paulista, 119, Bela Visa,
SP, tel. 0/xx/11/3179-3700)
Quanto: de R$ 5 a R$ 20
Avaliação: bom
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