São Paulo, sábado, 17 de novembro de 2007

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Crítica/teatro/"Eu Estava em Minha Casa..."

Com texto de Lagarce, Cia. Elevador atinge maturidade

SERGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA

O ano Lagarce, que comemorou no mundo todo o cinqüentenário do autor francês, já havia gerado "História de Amor (Últimos Capítulos)", que revitalizou o Teatro da Vertigem. Agora, com "Eu Estava em Minha Casa e Esperava que a Chuva Chegasse", em cartaz até amanhã no Sesc da av. Paulista, proporciona a maturidade para Cia. Elevador de Teatro Panorâmico, de Marcelo Lazzaratto. Mais representado na França do que Racine e Tchecov, Jean-Luc Lagarce -que ao morrer, aos 38 anos, deixou 25 peças traduzidas em mais de 15 línguas- tem a síntese elegante do ator clássico e a profundidade psicológica do autor russo.
"Eu Estava em Minha Casa..." reúne temas recorrentes do autor: depois de uma violenta briga com o pai, o filho mais novo sai de casa para reaparecer anos depois, com uma doença terminal. Ao lado do quarto onde agoniza, cinco mulheres remoem lembranças e expectativas, noite adentro.
Definidas no texto apenas por suas idades, surgem como a avó, a mãe e as três irmãs do protagonista invisível. Cada uma vivendo no universo próprio de sua idade, podem também ser a mesma personagem desdobrada e presa em um buraco espaço-temporal.

Aposta
Com um texto difícil nas mãos, Lazzaratto dobrou a aposta ao convidar Miriam Mehler para contracenar com as atrizes-alunas de sua companhia. Desta vez, seu método de "campo de visão" não rouba mais o foco e gera uma marcação precisa, caleidoscópica, dessas cinco mulheres girando em torno de seis cadeiras (uma fica vazia, ecoando a dor da ausência). Com a luz um pouco complicada demais, mas de grande beleza, Lazzaratto honra seu mestre Márcio Aurélio.
Mehler contagia o elenco com seu olhar atento e enternecido e a sua imponência hierárquica. Com gestos que resgatam os tempos áureos do Teatro Brasileiro de Comédia, tem um contraponto no frescor de Juliana Pinho, a irmã mais nova. Um pouco mais empostada, Marina Vieira garante bons momentos, enquanto que Grácia Navarro, atriz convidada, não tem a força exigida pelo personagem da mãe. Mas a grande surpresa é Carolina Fabri, que assume a irmã mais velha, espinha dorsal da trama, com vigor impressionante.
A boa tradução de Maria Clara Ferrer e o figurino elegante e inteligente de Márcio Tadeu contribuem também para que, com essa montagem marcante, o Elevador ultrapasse a etapa dos exercícios abertos para conquistar o primeiro time das companhias paulistas.


EU ESTAVA EM MINHA CASA E ESPERAVA QUE A CHUVA CHEGASSE
Texto:
Jean-Luc Lagarce
Direção: Marcelo Lazzarato
Com: Miriam Mehler, Carolina Fabri
Quando: hoje, às 21h30; amanhã, às 18h
Onde: Unidade Provisória Sesc Paulista (av. Paulista, 119, Bela Visa, SP, tel. 0/xx/11/3179-3700)
Quanto: de R$ 5 a R$ 20
Avaliação: bom



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