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Crítica/"Crimes de Autor"
Lelouch privilegia aspecto romântico em uma trama intrincada e divertida
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
P
ara Claude Lelouch, o
cinema sempre foi um
homem e uma mulher.
Se possível, com um morto no
meio. Não era ao chegar perto
dos 50 anos de carreira que isso
iria mudar. Menos ainda ao fazer um policial em que estão no
centro da intriga dois escritores: a famosa autora de best-sellers Judith Ralitzer (Fanny Ardant) e seu "ghost writer" Pierre Laclos (Dominique Pinon).
A favor de Lelouch conta o
"savoir faire" que fez dele, quase sempre, um dos mais bem-sucedidos diretores do cinema
francês. É verdade que a expressão "bem-sucedido", quando significa sucesso comercial,
nem sempre é bem vista do
ponto de vista crítico. Em particular no caso de Lelouch, que
ficou marcado pelo ostensivo
apelo sentimental de seus
maiores sucessos ("Um Homem e uma Mulher" à frente).
Limitá-lo a isso seria, no entanto, desconsiderar suas virtudes. Elas estão, por exemplo,
na maneira como expõe com
clareza e segurança sua intrincada trama. Em primeiro lugar,
existe um "serial killer" que
acaba de fugir da prisão e que
seduz suas vítimas (crianças)
com truques de mágica. Depois,
existe o "ghost writer", que
também faz mágicas para
crianças e encontra num posto
de estrada uma moça, Huguette (Audrey Dana), que acaba de
ser largada pelo noivo. Seriam o
"ghost writer" e o "serial killer"
o mesmo homem?
Lelouch lançará ao espectador duas ou três dessas iscas,
com pistas e falsas pistas para
seguirmos, enquanto desenvolve sua história, em que, para
encurtar as coisas, o "ghost writer" busca encontrar um meio
de se livrar da ameaçadora patroa e, ao mesmo tempo, se estabelecer por conta própria como autor de sucesso. Diga-se
desde já: no roteiro, a trama
central se sustenta; os "subplots" nem tanto. E a idéia de
lançar iscas ao espectador soa,
não raro, arbitrária.
No conjunto, a trama é bem
mais interessante na primeira
metade, quando é proposta, do
que na parte final, em que para
chegar à resolução policial do
caso não faltam pirotecnias de
roteiro.
Mas não se pode esquecer
que este é um filme de Lelouch.
Tendo um lado policial e um lado romance, parece lógico que
o primeiro seja sacrificado. O
aspecto romântico, o da aproximação entre o homem e a mulher, é o território em que Lelouch é mestre.
Tudo acaba
num beijo, é verdade. Não poderia ser mais convencional e
esperado. Mas, nas mãos de
Claude Lelouch, é isso que, paradoxalmente, soa mais verdadeiro no conjunto deste "divertissement" bem aceitável.
CRIMES DE AUTOR
Direção: Claude Lelouch
Produção: França, 2007
Com: Dominique Pinon, Fanny Ardant
e Audrey Dana
Onde: Cine Bombril, Espaço Unibanco e
circuito
Avaliação: bom
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