São Paulo, sábado, 17 de novembro de 2007

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Crítica/"Crimes de Autor"

Lelouch privilegia aspecto romântico em uma trama intrincada e divertida

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

P ara Claude Lelouch, o cinema sempre foi um homem e uma mulher. Se possível, com um morto no meio. Não era ao chegar perto dos 50 anos de carreira que isso iria mudar. Menos ainda ao fazer um policial em que estão no centro da intriga dois escritores: a famosa autora de best-sellers Judith Ralitzer (Fanny Ardant) e seu "ghost writer" Pierre Laclos (Dominique Pinon).
A favor de Lelouch conta o "savoir faire" que fez dele, quase sempre, um dos mais bem-sucedidos diretores do cinema francês. É verdade que a expressão "bem-sucedido", quando significa sucesso comercial, nem sempre é bem vista do ponto de vista crítico. Em particular no caso de Lelouch, que ficou marcado pelo ostensivo apelo sentimental de seus maiores sucessos ("Um Homem e uma Mulher" à frente).
Limitá-lo a isso seria, no entanto, desconsiderar suas virtudes. Elas estão, por exemplo, na maneira como expõe com clareza e segurança sua intrincada trama. Em primeiro lugar, existe um "serial killer" que acaba de fugir da prisão e que seduz suas vítimas (crianças) com truques de mágica. Depois, existe o "ghost writer", que também faz mágicas para crianças e encontra num posto de estrada uma moça, Huguette (Audrey Dana), que acaba de ser largada pelo noivo. Seriam o "ghost writer" e o "serial killer" o mesmo homem?
Lelouch lançará ao espectador duas ou três dessas iscas, com pistas e falsas pistas para seguirmos, enquanto desenvolve sua história, em que, para encurtar as coisas, o "ghost writer" busca encontrar um meio de se livrar da ameaçadora patroa e, ao mesmo tempo, se estabelecer por conta própria como autor de sucesso. Diga-se desde já: no roteiro, a trama central se sustenta; os "subplots" nem tanto. E a idéia de lançar iscas ao espectador soa, não raro, arbitrária.
No conjunto, a trama é bem mais interessante na primeira metade, quando é proposta, do que na parte final, em que para chegar à resolução policial do caso não faltam pirotecnias de roteiro.
Mas não se pode esquecer que este é um filme de Lelouch. Tendo um lado policial e um lado romance, parece lógico que o primeiro seja sacrificado. O aspecto romântico, o da aproximação entre o homem e a mulher, é o território em que Lelouch é mestre.
Tudo acaba num beijo, é verdade. Não poderia ser mais convencional e esperado. Mas, nas mãos de Claude Lelouch, é isso que, paradoxalmente, soa mais verdadeiro no conjunto deste "divertissement" bem aceitável.


CRIMES DE AUTOR
Direção:
Claude Lelouch
Produção: França, 2007
Com: Dominique Pinon, Fanny Ardant e Audrey Dana
Onde: Cine Bombril, Espaço Unibanco e circuito
Avaliação: bom



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