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Livro e colóquio discutem herança do teatro russo
Béatrice Picon-Vallin lança coletânea em encontro
JULIANA LUGÃO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Em sua introdução à coletânea "A Cena em Ensaios"(ed.
Perspectiva, 176 págs., R$ 42),
Béatrice Picon-Vallin conta como, durante um estágio na
Rússia, nos anos 1960, descobriu que o teatro podia ser "tão
necessário quanto pão".
Foi o teatro russo, mais especificamente o encenador Vsevolod Meyerhold (1874-1940),
que a intrigou para o resto da
vida. E também é ele que faz a
pesquisadora francesa, teatróloga e ensaísta apresentar hoje
a conferência de abertura do
Colóquio Internacional de Teatro Russo (informações em
www.fflch.usp.br/sce).
O colóquio receberá ainda
Vassíli Tolmatchióv, da Universidade de Moscou, e Vadim
Shcherbakov, do Instituto Estatal de Pesquisa de Arte de
Moscou, além de especialistas
brasileiros como Jacó Guinsburg e Boris Schnaiderman.
Segundo Arlete Cavaliere, a
organizadora, o encontro discutirá a literatura dramática e a
encenação russas e os impactos
que elas têm na cena mundial
contemporânea.
Nova coletânea
É também no colóquio que
será lançada a segunda coletânea de ensaios de Picon-Vallin
no Brasil. A primeira é de 2006,
uma edição quase independente da editora Pequeno Gesto
("A Arte do Teatro - Entre Tradição e Vanguarda", 144 págs.,
R$ 30). Com a mesma organizadora, Fátima Saadi, Picon-Vallin volta a publicar seus artigos em português.
Em "A Cena em Ensaios", Picon-Vallin parte de diversas
formas de arte para mostrar como elas se inserem no teatro,
dando a entender que acredita
no conceito de obra de arte total, do início do século 20:
"Acredito no teatro como um
lugar de reunião, tanto das pessoas, que estão cada vez mais
isoladas na frente de seus computadores, quanto das artes",
disse a pesquisadora à Folha,
por telefone.
"Mesmo no teatro pobre de
Grotowski, você pode ver uma
reunião de todas as artes no jogo dos atores. O trabalho do
ator é algo de muito completo."
Começando por um capítulo-ensaio que fala da necessidade de os atores dominarem técnicas circenses e de o teatro ter
uma essência tão popular e alegre como as quermesses, passando pela música erudita e
terminando pela interinfluência do cinema em surgimento e
do teatro, Picon-Vallin mostra
como questões já inauguradas
por Meyerhold estão até hoje
presentes nas questões da cena, em trabalhos de encenadores contemporâneos.
"Mesmo fora de regimes totalitários, há trabalhos como o
do grupo Théâtre du Soleil, que
são tão necessários quanto o
pão, porque nos dão uma outra
energia para a vida."
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