São Paulo, terça, 17 de novembro de 1998

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Músico é taxado de conservador


CASSIANO ELEK MACHADO
da Reportagem Local

Em 22 de setembro deste ano, o jornal "The New York Times" cravou na capa de seu suplemento cultural: "O Jazz at Lincoln Center é um dos projetos culturais mais bem-sucedidos da história de Nova York".
Ao lado da frase, uma foto ocupando a maior parte da página mostrava Wynton Marsalis com seu trompete, ambos (ele e o instrumento) olhando para baixo.
Por que olhava para o chão o líder de "um dos projeto culturais mais bem-sucedidos..."? Talvez porque Marsalis levaria na reportagem, juntamente com elogios de grosso calibre ("o músico de jazz mais celebrado de seu tempo"), mais uma saraivada de críticas.
E qual era o pilar em torno do qual se amontoavam os críticos de Marsalis?
"Ele é conservador", expressavam de diversos modos artistas como o saxofonista Sonny Fortune (que tocou com Miles Davis) e o compositor e pianista George Russell (ex-Dizzy Gillespie).
Curioso ou não, é justamente esse o argumento que faz de Marsalis "o músico de jazz mais celebrado de seu tempo", como diz o jornal.
Poucos podem dizer nos anos 90 que conservaram tanto a história do jazz como o trompetista e diretor do Jazz at Lincoln Center.
Nascido em Nova Orleans, o berço do jazz, Marsalis mostra, com o swing da Lincoln Center Jazz Orchestra (que se apresenta hoje em São Paulo), que o berço ainda balança. Mas esse balangar que propõe a música apresentada no Lincoln Center de fato não é muito distinto em sua essência do que o que o conterrâneo de Marsalis Louis Armstrong distribuía em salões nos anos 40.
Qual o problema disso? "Nenhum", diz a maioria, que aproveita a sofisticação inquestionável do sopro de Marsalis.
Qual o problema? "Gravíssimo", respondem alguns "jazzólogos".
"Ele fez muito para achar a essência do jazz e para distorcê-la. Colocou uma surdina no principal ingrediente do jazz, que é a inovação", diz o compositor e pianista George Russell.
Marsalis pode tocar apontando para o chão, mas não desvia o balanço de sua música de acordo com resmungos alheios. O Jazz at Lincoln Center continua ascendente. Em breve, o programa dá início à construção do primeiro auditório de mais de mil lugares com acústica desenhada especialmente para o jazz, no Columbus Circle, a poucos metros do Central Park, em Nova York.



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