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ANÁLISE
Não ao "cinema para criança pobre"
MÔNICA RODRIGUES DA COSTA
Editora da Folhinha
"O Trapalhão e a Luz Azul",
com Renato Aragão e Dedé
Santana, continua com o modelo de atuação dos Trapalhões da
TV como destaque e tem boas
cenas de cinema, misturadas a
shows televisionados de supostas estrelas da música popular.
Por sua vez, "Requebra", com
Xuxa, segue a representação da
apresentadora na TV, somada a
belas coreografias. A fotografia
se vale da beleza da protagonista, mas há cenas suas como modelo que nada têm a ver com o
papel de jornalista guerreira.
O enredo de "O Trapalhão e a
Luz Azul" é mais complexo e de
melhor qualidade do que o do
filme de Renato Aragão do ano
passado, o do fantasma Simão.
Mostra um reino curioso, que
duplica a realidade ao contrário. Há passagens de sonhos
que são fundidas com a experiência nesse mundo paralelo,
que tem rei, princesa e princípios éticos. Em geral, os atores
são competentes, mesmo nas
cenas mais "fakes", que lembram de longe o início da trajetória dos Trapalhões na TV.
Já o enredo de "Requebra" é
dificultado pela má atuação do
elenco. Exemplo: a jornalista
Nena (Xuxa) é contra drogas (o
que é louvável), repete isso a
três por dois e em nenhum momento consegue convencer.
Talvez porque o roteiro não
preveja frases inteligentes.
A trama é um concurso de
dança que a turma de Nena
monta para salvar uma escola
da falência, a qual está ameaçada por uma turma do mal
"trash", cujo estilo, apesar de
mais engraçado, destoa da intenção naturalista do resto.
Talvez não faça mal a ninguém assistir a esses filmes. Talvez o problema seja a inutilidade de resenhar esse tipo de filme, que não exige reflexão estética ou de conteúdo. Não há desafio criativo que se leve em
conta. É uma previsibilidade
sem fim. Feito para ser de fácil
digestão. O que pode causar
náusea em um gosto minimamente sofisticado.
Porque o padrão televisivo no
cinema é cansativo. O ritmo, redundante; as canções, previsíveis; as tramas, comuns; as paixões, superficiais. Porque são
preferíveis os filmes que entretenham e transmitam informações desafiadoras, simultaneamente. É melhor a miséria brasileira de "Central do Brasil", a
tragédia de "A Vida É Bela", o
ritmo mais lento das crianças
mineiras do interior de "Menino Maluquinho 2". Ou, ainda, a
relação ousada entre ciência e
mito que "Castelo Rá-Tim-Bum, o Filme" sugere.
Não é possível que seja considerado sério o argumento de
que os produtos de Xuxa e Aragão vão estourar no mercado,
principalmente porque atraem
o público de baixa renda. É chocante a impossibilidade de veicular para crianças pobres filmes com a marca da excelência.
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