São Paulo, Sexta-feira, 17 de Dezembro de 1999


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ANÁLISE
Não ao "cinema para criança pobre"

MÔNICA RODRIGUES DA COSTA
Editora da Folhinha

"O Trapalhão e a Luz Azul", com Renato Aragão e Dedé Santana, continua com o modelo de atuação dos Trapalhões da TV como destaque e tem boas cenas de cinema, misturadas a shows televisionados de supostas estrelas da música popular.
Por sua vez, "Requebra", com Xuxa, segue a representação da apresentadora na TV, somada a belas coreografias. A fotografia se vale da beleza da protagonista, mas há cenas suas como modelo que nada têm a ver com o papel de jornalista guerreira.
O enredo de "O Trapalhão e a Luz Azul" é mais complexo e de melhor qualidade do que o do filme de Renato Aragão do ano passado, o do fantasma Simão.
Mostra um reino curioso, que duplica a realidade ao contrário. Há passagens de sonhos que são fundidas com a experiência nesse mundo paralelo, que tem rei, princesa e princípios éticos. Em geral, os atores são competentes, mesmo nas cenas mais "fakes", que lembram de longe o início da trajetória dos Trapalhões na TV.
Já o enredo de "Requebra" é dificultado pela má atuação do elenco. Exemplo: a jornalista Nena (Xuxa) é contra drogas (o que é louvável), repete isso a três por dois e em nenhum momento consegue convencer. Talvez porque o roteiro não preveja frases inteligentes.
A trama é um concurso de dança que a turma de Nena monta para salvar uma escola da falência, a qual está ameaçada por uma turma do mal "trash", cujo estilo, apesar de mais engraçado, destoa da intenção naturalista do resto.
Talvez não faça mal a ninguém assistir a esses filmes. Talvez o problema seja a inutilidade de resenhar esse tipo de filme, que não exige reflexão estética ou de conteúdo. Não há desafio criativo que se leve em conta. É uma previsibilidade sem fim. Feito para ser de fácil digestão. O que pode causar náusea em um gosto minimamente sofisticado.
Porque o padrão televisivo no cinema é cansativo. O ritmo, redundante; as canções, previsíveis; as tramas, comuns; as paixões, superficiais. Porque são preferíveis os filmes que entretenham e transmitam informações desafiadoras, simultaneamente. É melhor a miséria brasileira de "Central do Brasil", a tragédia de "A Vida É Bela", o ritmo mais lento das crianças mineiras do interior de "Menino Maluquinho 2". Ou, ainda, a relação ousada entre ciência e mito que "Castelo Rá-Tim-Bum, o Filme" sugere.
Não é possível que seja considerado sério o argumento de que os produtos de Xuxa e Aragão vão estourar no mercado, principalmente porque atraem o público de baixa renda. É chocante a impossibilidade de veicular para crianças pobres filmes com a marca da excelência.


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