São Paulo, domingo, 17 de dezembro de 2006

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Mônica Bergamo

@ - bergamo@folhasp.com.br

(re)construindo Deborah

Ana Ottoni/Folha Imagem
Uma das cinco tatuagens de Deborah é coberta com maquiagem especial


Para mostrar "a pessoa Deborah", a atriz evita pré-estréias, revela os livros que lê, não fala do ex e só quer aparecer em revistas "bacanas" de moda

São menos de duas da tarde quando Deborah Secco chega ao estúdio da Globo. "Bom dia, amiguinhos! É bom estar com vocês", ela grita no corredor e abraça, uma a uma, as camareiras e maquiadoras da emissora. "Vai querer quantos brigadeiros hoje, Deborah?", pergunta uma delas. "Hum... Traz dois pães de queijo, dois brigadeiros e uma Coca light, amor." A camareira reclama: "Ah, não! Vou trazer uns três brigadeiros de uma vez! Depois você fica pedindo mais". "Traz mesmo. Eu trabalho tanto... [suspira] Posso me dar ao direito de fazer umas m... de vez em quando, você não acha?"

 

Elas têm sido poucas: Deborah, que atualmente é a personagem principal da novela das 7, a freira Elizabeth, decidiu passar por um "upgrade de imagem". Contratou um agente para traçar estratégias e conseguir que as pessoas vejam "a pessoa Deborah como ela é". Mas para quê, se a atriz já é uma estrela, com 12 novelas no currículo, três como protagonista? "É que ela brilha na TV, mas não fora", explica Ike Cruz, o agente, ou "o boss", como diz Deborah. Aparecer, ela aparecia. "Mas não em revistas de moda, e sim de fofoca, sempre com ar triste, sem auto-estima", diz o "boss". "Em relação a campanhas publicitárias, capas de revistas bacanas, ela andava apagada. Estou correndo atrás. Ela vai fazer a "Nova" em janeiro, a "Estilo" em fevereiro, a "Uma". E vamos fechar a "Vogue RG". Tô plantando."
 

O mapeamento dos veículos que ajudam no "upgrade" é fundamental. "Eu expliquei para a Deborah que não vamos fazer a "Manequim" para fazer a "Vogue RG". Eu explico a ela que o cliente bom está à espreita de um deslize. A "Vogue RG" era bacana fazer. Se dois meses antes você faz a "Manequim", ele vai pensar: a gente ia pautar e ela faz essa m..."
  A idéia central é livrar Deborah da imagem de "menina volúvel, afetivamente frágil", explica Ike. "Precisamos mostrar a Deborah mais madura, centrada no trabalho, que quer um relacionamento estável. Ela já é estrela. Vamos só corrigir a imagem para não ser mais vista como garota inconseqüente."
 

Saia de lã cós-alto, camisa toda abotoada -figurino da freira Elizabeth-, Deborah anda na Globo com uma pasta debaixo do braço. "Todas as minhas entradas estão marcadas com clipes, "tá" vendo? Sou suuuper CDF", diz. " Sou certinha", repete, tirando as sandálias de salto para apoiar os pés no balcão de maquiagem.
 

Ela passa uma hora na sessão. Cobre as cinco tatuagens do corpo. Duas delas fazem referência ao ex-namorado Falcão, vocalista do O Rappa: a frase no pé "Falcão, amor eterno, amor verdadeiro", e a palavra "Jet", no pulso. "Ai, nem gosto de falar. Era o apelido dele..." A atriz pretende fazer novos desenhos. "Ainda vou tatuar uma super borboleta aqui ó... na costela, sabe?".
 

Deborah evita falar do ex. "Eu não falo mais da minha vida pessoal", repetia no programa do Faustão, domingo passado, diante das perguntas do público. Faz parte do "upgrade de imagem". "Aprendi que, na primeira vez que o jornalista pergunta, eu posso dizer "não". Na segunda, eu aviso: "Você está sendo deselegante". Na terceira, encerro a entrevista. Mas o Ike cuida disso para mim antes", diz ela. "O importante é fazer o público perceber que ela era uma menina e tinha, entre aspas, o direito de errar. Agora, ela está com 27, ou seja, mais para 30 que para 20. A menina ficou para trás."
 

Juliana Paes, na mesma novela, entra na sala de maquiagem: "Amigaaa!". Deborah a pega no colo -"Gostoosa!"- e faz a atriz mostrar o abdômen: "Olha isso, gente! É duro! Duro! Tem gominhos! Minha irmã viu e ficou pas-sa-da". Juliana ergue a blusa e mostra a calcinha: "Amiga, essa calcinha é tu-do! Não marca! É demais!". E Deborah: "A bunda dela não mexe. Mostra, Ju! "Totósa'!". E ergue a saia de Juliana, dando tapinhas no bumbum da amiga. "Isso é a bunda mais dura e "totósa" do Brasil, amigaaa!"
 

As duas discutem o almoço. Juliana: "Amiga, vamos pedir comida no [restaurante vegetariano] Fruta do Pé?". Deborah responde: "Fruta do Pé? Ah, amiga, vamos pedir estrogonofe no bistrô, vai?". E Juliana: "Estrogonofe, amiga? Ainda é quinta, dia de dieta, amiga! De jeito nenhum!". Deborah pede estrogonofe. Juliana, salada.
"Acho que o ator tem de expor para o público o que serve de exemplo. Admiro a Angelina Jolie, que adota crianças. Isso tem que ser mostrado. Agora, o fato de eu não malhar, por exemplo, não é uma coisa legal de dizer. Por outro lado, posso falar sobre incentivo à leitura", diz Deborah. E conta a lista do que andou lendo: "O Código Da Vinci", "O Caçador de Pipas" e "Travessuras da Menina Má". "Pego no pé do boss [Ike Cruz] para ele ler", diz a atriz.
 

Deborah diz que tem levado a vida caseira de sempre: o "boss" a ensinou "a não ser arroz-de-festa", já que o público teria "atração pelo mistério". "Eu aprendi que não preciso ir às pré-estréias. Eu amo o Chico [Buarque], por exemplo, mas não tenho a necessidade de ver o show dele no primeiro dia." Para ir a algumas festas, ela cobra "cachê de presença". "O preço depende do evento", diz Ike. "Seleciono os mais direcionados à moda, produtos de beleza, xampu, perfume. Leilão de gado? Nem pensar. Ela não é carne de açougue."
 

No estúdio, Deborah contracena com Betty Faria, sua "mãe" na novela. Estrela num tempo em que os atores viviam principalmente de seus cachês, e não de campanhas publicitárias, e não eram perseguidos por paparazzi, Betty diz que só este ano contratou um empresário. "Mas ele não vai me mandar ficar careta."
 

São mais de 20h quando Deborah vai para casa, um flat na Barra -seu novo apartamento está em reforma. Quando entra na casa, oferece a geladeira: "Pega brigadeirão lá!". Deborah vive sozinha. E se diz "muito carente" pois tem "deficiência grave para fazer amigos".
 

Tomando banho de porta aberta, ela conta: "Agora, eu não atendo mais a imprensa. O Ike decide por mim. Uma lição que ele me deu é: ame seu vizinho, mas faça sua cerca. Preciso ficar com um pé atrás, expor menos a intimidade". O cabeleireiro chega, ela abre a porta enrolada na toalha -que, de repente, cai. "Coloquei silicone, mas meu peito não ficou duro. Olha só! [dá tapinhas no seio]."
 

Deborah, que em 2004 estrelou a campanha de uma cerveja popular em que aparecia no cartaz de biquíni com o slogan "Está é a Deborah... Seca por uma Lokal", diz que rejeitou três campanhas publicitárias nos últimos meses. "Não combinavam comigo." Ela agora só mantém contrato com a L'Oréal. "Quero que me vejam como eu sou. Só isso."


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