São Paulo, domingo, 17 de dezembro de 2006

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Livro expõe em fotos cem anos da vida feminina

"Século XX - A Mulher Conquista o Brasil" reúne produção de fotógrafos como Jean Manzon, Benjamin Abrahão e J.R. Duran

Enfermeiras prontas para ir à guerra, nos anos 40, e Clarice Lispector em manifestação, nos 60, estão entre as 166 imagens do painel

MÁRIO MAGALHÃES
DA SUCURSAL DO RIO

É difícil imaginar como a trajetória das mulheres no Brasil do século 20 teria sido retratada se, na maior parte do tempo, não fossem homens, e sim as próprias, quem estivesse por trás das lentes. Foi somente nas décadas finais que elas, como em tantas outras frentes, se impuseram na fotografia.
Um painel de cem anos da vida feminina nacional, em 166 imagens, na ampla maioria com assinaturas masculinas, chega às livrarias nesta semana em "Século XX - A Mulher Conquista o Brasil" (Aprazível Edições, 204 págs., R$ 150).
É um livro de arte com fotos produzidas por quem marcou a atividade no país, como Augusto Malta (no Rio do começo do século), Jean Manzon (do legendário time da revista "O Cruzeiro") e Benjamin Abrahão (documentarista do bando de Maria Bonita e Lampião).
Há também -e estes se mantêm na ativa- Evandro Teixeira (com uma peça do ensaio na região de Canudos cem após a rebelião), J.R. Duran (o retratista das musas) e outros autores expressivos. Fotógrafas como Vânia Toledo e Nana Moraes contribuem com trabalhos mais recentes.
A despeito do apelo estético de belos registros, talvez o mais fascinante no passeio histórico organizado pelo editor Leonel Kaz e pela coordenadora editorial Nigge Piovesan Loddi seja o (re)encontro com rostos que engrandeceram os anos 1900.
A candidata a deputada Bertha Lutz discursa em um morro na década de 30; na de 40, enfermeiras se preparam para ir à guerra; na de 50, a tenista Maria Esther Bueno conquista o torneio de Wimbledon.
Na de 60, a escritora Clarice Lispector participa de uma manifestação; na de 70, Regina Duarte protagoniza o seriado "Malu Mulher"; na de 80, Marli de Oliveira Soares -heroína do combate à violência- tenta reconhecer em uma fileira de policiais os assassinos do irmão.
Uma coleção de mulheres esplendorosas (Maria Della Costa e Sônia Braga o embelezam) e de instantâneos dos costumes (no princípio, nem os tornozelos femininos se revelavam nos salões), o livro é, na essência, uma crônica social -exibe desde operárias na fábrica a funcionárias de uma companhia telefônica.
A presença das mulheres nas contendas políticas aparece na campanha pelo sufrágio feminino, em ato contra a carestia, nas marchas da família que isolaram João Goulart em 1964 e na oposição ao regime militar, representada por Zuzu Angel.
No olhar do editor Kaz, o livro evoca um país no qual "havia nas relações uma elegância que se perdeu na turbulência individualista e consumista". De milhares de imagens garimpadas pela Companhia da Memória e Vladimir Sachetta, sobraram em média cem para a escolha de cada uma a publicar.
A edição teve o patrocínio de R$ 500 mil da Bradesco Seguros, por meio de lei de incentivo do Ministério da Cultura. Textos da escritora Nélida Piñon, da filósofa Marilena Chaui e da feminista Schuma Schumaher sobre a condição feminina emolduram as fotos que contam a história.


SÉCULO XX - A MULHER CONQUISTA O BRASIL
Organizadores:
Leonel Kaz e Nigge Piovesan Loddi
Editora: Aprazível
Quanto: R$ 150 (204 págs.)


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