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Livro expõe em fotos cem anos da vida feminina
"Século XX - A Mulher Conquista o Brasil" reúne produção de
fotógrafos como Jean Manzon, Benjamin Abrahão e J.R. Duran
Enfermeiras prontas para ir à
guerra, nos anos 40, e Clarice
Lispector em manifestação,
nos 60, estão entre as
166 imagens do painel
MÁRIO MAGALHÃES
DA SUCURSAL DO RIO
É difícil imaginar como a trajetória das mulheres no Brasil
do século 20 teria sido retratada se, na maior parte do tempo,
não fossem homens, e sim as
próprias, quem estivesse por
trás das lentes. Foi somente nas
décadas finais que elas, como
em tantas outras frentes, se impuseram na fotografia.
Um painel de cem anos da vida feminina nacional, em 166
imagens, na ampla maioria
com assinaturas masculinas,
chega às livrarias nesta semana
em "Século XX - A Mulher Conquista o Brasil" (Aprazível Edições, 204 págs., R$ 150).
É um livro de arte com fotos
produzidas por quem marcou a
atividade no país, como Augusto Malta (no Rio do começo do
século), Jean Manzon (do legendário time da revista "O
Cruzeiro") e Benjamin Abrahão (documentarista do bando
de Maria Bonita e Lampião).
Há também -e estes se mantêm na ativa- Evandro Teixeira (com uma peça do ensaio na região de Canudos cem após a
rebelião), J.R. Duran (o retratista das musas) e outros autores expressivos. Fotógrafas como Vânia Toledo e Nana Moraes contribuem com trabalhos
mais recentes.
A despeito do apelo estético
de belos registros, talvez o mais
fascinante no passeio histórico
organizado pelo editor Leonel
Kaz e pela coordenadora editorial Nigge Piovesan Loddi seja o
(re)encontro com rostos que
engrandeceram os anos 1900.
A candidata a deputada Bertha Lutz discursa em um morro
na década de 30; na de 40, enfermeiras se preparam para ir à
guerra; na de 50, a tenista Maria Esther Bueno conquista o
torneio de Wimbledon.
Na de 60, a escritora Clarice
Lispector participa de uma manifestação; na de 70, Regina
Duarte protagoniza o seriado
"Malu Mulher"; na de 80, Marli
de Oliveira Soares -heroína do
combate à violência- tenta reconhecer em uma fileira de policiais os assassinos do irmão.
Uma coleção de mulheres esplendorosas (Maria Della Costa e Sônia Braga o embelezam)
e de instantâneos dos costumes
(no princípio, nem os tornozelos femininos se revelavam nos
salões), o livro é, na essência,
uma crônica social -exibe desde operárias na fábrica a funcionárias de uma companhia telefônica.
A presença das mulheres nas
contendas políticas aparece na
campanha pelo sufrágio feminino, em ato contra a carestia,
nas marchas da família que isolaram João Goulart em 1964 e
na oposição ao regime militar,
representada por Zuzu Angel.
No olhar do editor Kaz, o livro evoca um país no qual "havia nas relações uma elegância que se perdeu na turbulência
individualista e consumista".
De milhares de imagens garimpadas pela Companhia da
Memória e Vladimir Sachetta,
sobraram em média cem para a
escolha de cada uma a publicar.
A edição teve o patrocínio de
R$ 500 mil da Bradesco Seguros, por meio de lei de incentivo
do Ministério da Cultura. Textos da escritora Nélida Piñon,
da filósofa Marilena Chaui e da
feminista Schuma Schumaher
sobre a condição feminina
emolduram as fotos que contam a história.
SÉCULO XX - A MULHER
CONQUISTA O BRASIL
Organizadores: Leonel Kaz e Nigge
Piovesan Loddi
Editora: Aprazível
Quanto: R$ 150 (204 págs.)
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