São Paulo, segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

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"Brat Pack" questiona super-heróis

Obra de Rick Veitch, que lembra "Watchmen", vê com cinismo o realismo e merchandising no mundo das HQs

PEDRO CIRNE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O mundo dos super-heróis é muito mais sombrio, deprimente e nocivo do que você pode imaginar. Ao menos é o que apresenta o quadrinista Rick Veitch em sua história "Brat Pack", que está sendo lançada no Brasil. Não há personagens famosos em "Brat Pack", mas seus protagonistas foram inspirados em heróis clássicos. Assim, o Doninha Noturna é calcado no Batman; a Senhora da Lua, na Mulher-Maravilha etc.
Na história, Trueman, o primeiro e maior de todos os heróis, sumiu há anos. Os quatro combatentes do crime que restaram formam duplas com parceiros adolescentes, que lembram Robin, Moça-Maravilha e Ricardito. Esses heróis juvenis são mortos no início da HQ, e é aí que o mistério começa. Poderia ser uma simples história de super-heróis, mas não é. A morte dos jovens não é o mais importante da trama. O que Rick Veitch retrata, a cada cena, é uma pesada crítica ao gênero super-herói.
Doninha, o "Batman" da história, é um pedófilo que dá em cima de seu parceiro mirim. Rei Rad ensina seu companheiro a beber e a não se importar com as vítimas de seus confrontos contra bandidos. A Senhora da Lua chega a castrar, com uma espada, um inimigo. Não há heroísmo nenhum: aqui, ninguém presta.
Três grandes fatores influenciaram Rick Veitch na criação de "Brat Pack", no início dos anos 90. O primeiro remonta ao "terremoto" por que haviam passado as HQs de super-heróis com a publicação de "Watchmen" e "Batman - O Cavaleiro das Trevas".
Os artistas não conseguiam atingir o nível dessas duas obras, mas seguiam seu tom sombrio e que se aproximava de algum nível de realismo.
Além disso, a editora DC Comics havia feito uma consulta aos leitores: Robin deveria morrer? A resposta foi sim, e o Coringa o assassinou (ele já ressuscitou, mas isso é outra história).
E, por fim, Veitch foi censurado pela mesma DC Comics por uma história escrita e desenhada por ele, em que o Monstro do Pântano viajaria no tempo e encontraria Jesus Cristo.
"Brat Pack" questiona as HQs de super-heróis em vários níveis. Por que um herói colocaria um adolescente em risco ao levá-lo para enfrentar perigosos supervilões? Tanto merchandising e preocupação com o lucro não estragam a linha editorial das revistas? E, afinal, essa onda de "realismo" faz algum sentido em um gênero essencialmente fantasioso como o dos super-heróis?


BRAT PACK
Autor:
Rick Veitch
Editora: HQM
Quanto: R$ 29,90 (180 págs.)


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