|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"Brat Pack" questiona super-heróis
Obra de Rick Veitch, que lembra "Watchmen", vê com cinismo o realismo e merchandising no mundo das HQs
PEDRO CIRNE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O mundo dos super-heróis é
muito mais sombrio, deprimente e nocivo do que você pode imaginar. Ao menos é o que
apresenta o quadrinista Rick
Veitch em sua história "Brat
Pack", que está sendo lançada
no Brasil.
Não há personagens famosos
em "Brat Pack", mas seus protagonistas foram inspirados em
heróis clássicos. Assim, o Doninha Noturna é calcado no Batman; a Senhora da Lua, na Mulher-Maravilha etc.
Na história, Trueman, o primeiro e maior de todos os heróis, sumiu há anos. Os quatro
combatentes do crime que restaram formam duplas com parceiros adolescentes, que lembram Robin, Moça-Maravilha e
Ricardito. Esses heróis juvenis
são mortos no início da HQ, e é
aí que o mistério começa.
Poderia ser uma simples história de super-heróis, mas não
é. A morte dos jovens não é o
mais importante da trama. O
que Rick Veitch retrata, a cada
cena, é uma pesada crítica ao
gênero super-herói.
Doninha, o "Batman" da história, é um pedófilo que dá em
cima de seu parceiro mirim. Rei
Rad ensina seu companheiro a
beber e a não se importar com
as vítimas de seus confrontos
contra bandidos. A Senhora da
Lua chega a castrar, com uma
espada, um inimigo. Não há heroísmo nenhum: aqui, ninguém
presta.
Três grandes fatores influenciaram Rick Veitch na criação
de "Brat Pack", no início dos
anos 90. O primeiro remonta
ao "terremoto" por que haviam
passado as HQs de super-heróis com a publicação de
"Watchmen" e "Batman - O Cavaleiro das Trevas".
Os artistas não conseguiam
atingir o nível dessas duas
obras, mas seguiam seu tom
sombrio e que se aproximava
de algum nível de realismo.
Além disso, a editora DC Comics havia feito uma consulta
aos leitores: Robin deveria
morrer? A resposta foi sim, e o
Coringa o assassinou (ele já
ressuscitou, mas isso é outra
história).
E, por fim, Veitch foi censurado pela mesma DC Comics
por uma história escrita e desenhada por ele, em que o Monstro do Pântano viajaria no tempo e encontraria Jesus Cristo.
"Brat Pack" questiona as
HQs de super-heróis em vários
níveis. Por que um herói colocaria um adolescente em risco
ao levá-lo para enfrentar perigosos supervilões? Tanto merchandising e preocupação com
o lucro não estragam a linha
editorial das revistas? E, afinal,
essa onda de "realismo" faz algum sentido em um gênero essencialmente fantasioso como
o dos super-heróis?
BRAT PACK
Autor: Rick Veitch
Editora: HQM
Quanto: R$ 29,90 (180 págs.)
Texto Anterior: Resumo das novelas Próximo Texto: Nelson Ascher: Paulo Rónai no seu centenário Índice
|