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Cidade da Música abre inacabada
Idealizado pelo francês Portzamparc, complexo tem lançamento oficial amanhã com a Orquestra Sinfônica Brasileira
CAIO JOBIM
ITALO NOGUEIRA
DA SUCURSAL DO RIO
A Cidade da Música, mais
ambiciosa construção cultural
realizada no Rio nas últimas
décadas, é uma obra aberta. Ou
melhor, inacabada.
Após cinco anos de adiamentos e R$ 518,4 milhões gastos, o
projeto de 95 mil m2 (equivalente à area de dez campos como o do Maracanã), do premiado arquiteto francês Christian
de Portzamparc, tem lançamento oficial amanhã comandado pelo prefeito Cesar Maia.
A obra, que apanhou de quase todos os candidatos nas últimas eleições municipais, é criticada pela falta de planejamento e de transparência. Seus
custos consumiram neste ano
um quarto dos investimentos
da prefeitura em obras. Mas é
aplaudida por quem vê nela um
marco arquitetônico e cultural.
Localizada na Barra da Tijuca (zona oeste), a área no cruzamento das avenidas das
Américas e Ayrton Senna não
seduziu Portzamparc no primeiro sobrevôo de helicóptero.
Ele só se convenceu quando
subiu no monte de dez metros
de altura que havia no terreno.
"De lá, era possível descobrir
de novo as montanhas, o mar e
toda a cidade. Mas, no chão, a
única visão era a dos carros
passando", lembra ele, ganhador do Pritzker em 1994 (leia
entrevista ao lado).
Escolhido pela prefeitura por
sua experiência na construção
de halls sinfônicos, o arquiteto
decidiu elevar o piso do prédio
a dez metros da superfície. Os
pilares que partem das fundações se transformam em parede ao atingir o nível da laje.
"Entendi subitamente o grande
terraço como uma grande varanda, arquétipo da arquitetura
moderna brasileira", conta.
Custos em alta
Mas, quando o projeto foi
apresentado pelo secretário
das Culturas, Ricardo Macieira,
em 2002, o valor final da obra
não era claro para a prefeitura.
"Dado o grau de complexidade, não se consegue prever todos os custos no momento inicial. Havia estimativas, mas
ninguém ia ser irresponsável
de dizer que ia custar R$ 250
milhões e, no fim, sair por R$
500 milhões, porque ficaria totalmente desmoralizado", diz o
secretário municipal de Obras,
Rodrigo Dantas.
"Deu-se início aos empenhos
de determinados valores, que
foram sendo aumentados sem
se saber qual era o limite", afirma a vereadora oposicionista
Andréa Gouvêa Vieira (PSDB).
A obra chegou a ser abandonada durante os dois anos anteriores aos Jogos Pan-Americanos de 2007, que sobrecarregaram o orçamento. O atraso irritou o francês e aumentou o custo da obra em mais de 30%, fruto dos reajustes pedidos pelas
construtoras e dos aditivos para adaptar os contratos às constantes mudanças no projeto.
A Cidade da Música só deve
ficar totalmente pronta em
"cinco ou seis meses", diz Portzamparc. Isso se o prefeito eleito, Eduardo Paes, assumir os
gastos restantes -entre eles,
outra renovação com o arquiteto para acompanhar a obra.
Na campanha, Paes -que
não quis falar à Folha- disse
que o complexo "é um profundo equívoco". Ele assumirá cerca de R$ 34 milhões de "restos
a pagar".
A Cidade da Música abre as
portas improvisada. A OSB
(Orquestra Sinfônica Brasileira) vai se apresentar na Grande
Sala, que ainda não está pronta
para receber concertos nem
óperas. O espaço só estará preparado para ambos após a instalação de um sistema pneumático para movimentar quatro torres de camarotes -o que
pode ser cancelado por Paes.
Falta o gestor
O complexo cultural tem ainda outros três grandes espaços
(ver quadro nesta página), longe de serem concluídos.
E falta saber quem assumirá
a responsabilidade por sua gestão. A Cidade da Música nasceu
também justificada como uma
casa para a OSB, mas não é certo que vá cumprir esse ideal.
A Fundação OSB não se manifestou oficialmente. A fundação participou de licitação antes e foi julgada inabilitada pela
própria prefeitura.
Segundo estudo de viabilidade feito por uma consultoria, a
gestão exigirá muitos recursos
públicos ou fortes mantenedores privados, pois o déficit
anual será de R$ 10,6 milhões.
Na programação já divulgada, só estão previstas apresentações da Orquestra Sinfônica
do Teatro Municipal nos dias
20 e 21 de dezembro. E da Orquestra Sinfônica Jovem nos
dias 27 e 28 deste mês.
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