São Paulo, quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

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Cidade da Música abre inacabada

Idealizado pelo francês Portzamparc, complexo tem lançamento oficial amanhã com a Orquestra Sinfônica Brasileira

CAIO JOBIM
ITALO NOGUEIRA
DA SUCURSAL DO RIO

A Cidade da Música, mais ambiciosa construção cultural realizada no Rio nas últimas décadas, é uma obra aberta. Ou melhor, inacabada.
Após cinco anos de adiamentos e R$ 518,4 milhões gastos, o projeto de 95 mil m2 (equivalente à area de dez campos como o do Maracanã), do premiado arquiteto francês Christian de Portzamparc, tem lançamento oficial amanhã comandado pelo prefeito Cesar Maia.
A obra, que apanhou de quase todos os candidatos nas últimas eleições municipais, é criticada pela falta de planejamento e de transparência. Seus custos consumiram neste ano um quarto dos investimentos da prefeitura em obras. Mas é aplaudida por quem vê nela um marco arquitetônico e cultural.
Localizada na Barra da Tijuca (zona oeste), a área no cruzamento das avenidas das Américas e Ayrton Senna não seduziu Portzamparc no primeiro sobrevôo de helicóptero. Ele só se convenceu quando subiu no monte de dez metros de altura que havia no terreno.
"De lá, era possível descobrir de novo as montanhas, o mar e toda a cidade. Mas, no chão, a única visão era a dos carros passando", lembra ele, ganhador do Pritzker em 1994 (leia entrevista ao lado).
Escolhido pela prefeitura por sua experiência na construção de halls sinfônicos, o arquiteto decidiu elevar o piso do prédio a dez metros da superfície. Os pilares que partem das fundações se transformam em parede ao atingir o nível da laje. "Entendi subitamente o grande terraço como uma grande varanda, arquétipo da arquitetura moderna brasileira", conta.

Custos em alta
Mas, quando o projeto foi apresentado pelo secretário das Culturas, Ricardo Macieira, em 2002, o valor final da obra não era claro para a prefeitura.
"Dado o grau de complexidade, não se consegue prever todos os custos no momento inicial. Havia estimativas, mas ninguém ia ser irresponsável de dizer que ia custar R$ 250 milhões e, no fim, sair por R$ 500 milhões, porque ficaria totalmente desmoralizado", diz o secretário municipal de Obras, Rodrigo Dantas.
"Deu-se início aos empenhos de determinados valores, que foram sendo aumentados sem se saber qual era o limite", afirma a vereadora oposicionista Andréa Gouvêa Vieira (PSDB).
A obra chegou a ser abandonada durante os dois anos anteriores aos Jogos Pan-Americanos de 2007, que sobrecarregaram o orçamento. O atraso irritou o francês e aumentou o custo da obra em mais de 30%, fruto dos reajustes pedidos pelas construtoras e dos aditivos para adaptar os contratos às constantes mudanças no projeto.
A Cidade da Música só deve ficar totalmente pronta em "cinco ou seis meses", diz Portzamparc. Isso se o prefeito eleito, Eduardo Paes, assumir os gastos restantes -entre eles, outra renovação com o arquiteto para acompanhar a obra.
Na campanha, Paes -que não quis falar à Folha- disse que o complexo "é um profundo equívoco". Ele assumirá cerca de R$ 34 milhões de "restos a pagar".
A Cidade da Música abre as portas improvisada. A OSB (Orquestra Sinfônica Brasileira) vai se apresentar na Grande Sala, que ainda não está pronta para receber concertos nem óperas. O espaço só estará preparado para ambos após a instalação de um sistema pneumático para movimentar quatro torres de camarotes -o que pode ser cancelado por Paes.

Falta o gestor
O complexo cultural tem ainda outros três grandes espaços (ver quadro nesta página), longe de serem concluídos.
E falta saber quem assumirá a responsabilidade por sua gestão. A Cidade da Música nasceu também justificada como uma casa para a OSB, mas não é certo que vá cumprir esse ideal.
A Fundação OSB não se manifestou oficialmente. A fundação participou de licitação antes e foi julgada inabilitada pela própria prefeitura.
Segundo estudo de viabilidade feito por uma consultoria, a gestão exigirá muitos recursos públicos ou fortes mantenedores privados, pois o déficit anual será de R$ 10,6 milhões.
Na programação já divulgada, só estão previstas apresentações da Orquestra Sinfônica do Teatro Municipal nos dias 20 e 21 de dezembro. E da Orquestra Sinfônica Jovem nos dias 27 e 28 deste mês.


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