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CONSCIENTE COLETIVO
Steve Johnson aposta nos mecanismos descentralizados como armas de Howard Dean contra Bush
Auto-organização envolve web e política
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Leia a seguir a continuação da
entrevista com Steve Johnson.
Folha - O ser humano está se tornando menos resistente ao novo?
Steve Johnson - Certamente, à
medida que a média de aceleração
tecnológica cresce, nós temos
crescido mais dispostos a adotar
novas formas -pense nos blogs,
ninguém sabia o que eles eram há
alguns anos e hoje há milhões deles. O efeito disso é que estamos
nos tornando muito mais cientes
dos efeitos colaterais psicológicos
e sociais das novas tecnologias e
novas formas de mídia. Se você
viver toda a sua vida sob o domínio da TV, não notará como ela
molda o mundo. Mas se mudar da
televisão para a web e para sistemas de mensagens instantâneas,
em dez anos começará a perceber
como cada uma dessas mudanças
tem seus efeitos secundários. Todos nós nos tornamos mcluhanitas hoje: não apenas porque nos
lembramos do slogan "o meio é a
mensagem", mas porque os
meios mudam em velocidades cada vez mais rápidas, o que torna
seu impacto mais visível.
Folha - Você cita os programas de
computador como um dos inúmeros exemplos de organização "bottom-up". A internet e a computação pessoal já mudaram tudo?
Johnson - Estamos apenas começando a ver todos os efeitos. O
desdobramento mais interessante
nos EUA é a campanha altamente
baseada na internet de Howard
Dean, o principal concorrente do
presidente Bush para a próxima
eleição. Eles usaram um número
de mecanismos descentralizados
para criar uma organização do tipo "enxame". Tenho bastante orgulho disso, pois algumas de suas
idéias foram aparentemente inspiradas pelo meu livro. É bom ter
um pequeno papel em um movimento histórico tão interessante.
Folha - Por que a internet ainda
não se auto-organizou? Ou seria a
lógica P2P (ponto-a-ponto) o início
dessa organização?
Johnson - A internet propriamente dita não é auto-organizável, mas as coisas construídas sobre a internet estão começando a
apresentar um comportamento
de auto-organização. A forma como a Amazon organiza seus livros, através da tecnologia de filtragem -quando oferecem
aquelas listas "pessoas que compraram este livro também compraram..."- é uma forma de
classificação "bottom-up". São as
novas ferramentas que procuram
as formas como os blogs se linkam entre si ou os serviços que
classificam manchetes, como o
Technorati e o Blogdex, que decidem o que é importante ao observar os links individuais criados
pelos blogueiros -que agem de
forma muito mais parecida com
um enxame do que a web.
Folha - Você acredita que a internet pode ajudar a nos organizar?
Johnson - Ela está começando a
se tornar uma ferramenta poderosa para grupos e pessoas com a
mesma mentalidade se reunirem.
O que vemos agora com a campanha de Howard Dean, por aqui
-novos tipos de grupos, novos
tipos de vizinhanças se formando
graças à rede. É muito animador.
Folha - A doutrina Bush é uma
reação à consciência em rede?
Johnson - Diria que é uma reação natural "contra" essa consciência. Exatamente no momento
em que se torna claro que o mundo está interconectado por formas incrivelmente profundas,
surge esse desejo de assumir a
abordagem de superpoder patife,
basicamente dizendo ao mundo:
"Ou vocês estão do nosso lado ou
contra nós". É deprimente. O terrorismo, contudo, é também um
produto da era da emergência:
grupos pequenos e espalhados
com poder de fazer impérios poderosos de refém. Certa vez, ouvi
o nosso secretário de Defesa, Donald Rumsfeld -que é um cara
muito esperto, embora seja perigoso-, dizer que a guerra contra
o terror era uma "guerra não-linear" e que ele não tinha certeza
se nossos cérebros "lineares" poderiam entendê-la completamente. Foi um momento bem bizarro.
Folha - Qual o papel dos governos
e países quando as pessoas desenvolverem redes pessoais e trabalharem em níveis comunitários?
Johnson - Creio que ainda há um
papel para os líderes no mundo. A
melhor mistura é uma combinação da lógica de baixo para cima
("bottom-up") com a de cima para baixo ("top-down"). É o que há
de genial na democracia. Todo
mundo decide quem deve estar
no comando. Se todo mundo estivesse decidindo tudo, você teria
algo próximo de um verdadeiro
estado anarquista -que seria interessante ver, mas que, suspeito,
fracassaria no final.
EMERGÊNCIA: A DINÂMICA DE REDE
EM FORMIGAS, CÉREBROS, CIDADES.
De: Steve Johnson. Editora: Jorge Zahar.
Quanto: R$ 38 (232 págs.).
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