São Paulo, domingo, 18 de janeiro de 2004

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"Problema da internet não é o acesso, e sim como transformá-lo"

SYLVIA COLOMBO
EDITORA-ADJUNTA DA ILUSTRADA

Enquanto nos EUA a internet ajuda a construir a candidatura de Howard Dean, aqui, a comparação entre o gasto cada vez maior dos brasileiros com a rede em relação a despesas com alimentos indica o "aspecto claudicante de nossa modernização, manifesto no desejo de "superação'".
Essa é a opinião do sociólogo Laymert Garcia dos Santos, professor da Unicamp, ao comentar recente pesquisa de orçamento familiar da Fundação Getúlio Vargas, que mostrou que o brasileiro tem mais despesas hoje com provedor de internet e com assinatura de TV do que com arroz e feijão. "Seria esse um indicador de que a população brasileira já está deixando o terreno das necessidades básicas e se elevando ao patamar da sociedade da informação no governo do Fome Zero? Não acredito; a comparação teria sentido se os gastos com informação fossem importantes em relação ao gasto com alimentação."
Segundo a pesquisa, somados, arroz e feijão participam com 1,30% do orçamento familiar, enquanto os gastos com internet e TV por assinatura respondem por 1,49% do consumo.
Para o sociólogo, que acaba de lançar "Politizar Novas Tecnologias" (ed. 34), o acesso à internet no Brasil é fundamental (segundo dados da ONU, o país é o 65º colocado entre os que tem maior acesso digital), mas deve-se alertar para o fato de que, se isso significar apenas mais uma opção de entretenimento, "será como a disseminação da TV a cabo, mais do mesmo". "Quem acompanha a evolução das novas tecnologias sabe que o problema da internet não é mais o do acesso à informação, mas o da capacidade de transformá-la em conhecimento valioso."
O sociólogo acha que os telejornais não têm refletido "a complexidade do mundo contemporâneo" e ataca o arcaísmo da TV ao tratar da tecnologia. "A visão triunfalística que a TV brasileira tem da tecnologia não corresponde ao pensamento que tem sido produzido sobre esta."


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