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"Problema da internet não é o acesso, e sim como transformá-lo"
SYLVIA COLOMBO
EDITORA-ADJUNTA DA ILUSTRADA
Enquanto nos EUA a internet
ajuda a construir a candidatura de
Howard Dean, aqui, a comparação entre o gasto cada vez maior
dos brasileiros com a rede em relação a despesas com alimentos
indica o "aspecto claudicante de
nossa modernização, manifesto
no desejo de "superação'".
Essa é a opinião do sociólogo
Laymert Garcia dos Santos, professor da Unicamp, ao comentar
recente pesquisa de orçamento
familiar da Fundação Getúlio
Vargas, que mostrou que o brasileiro tem mais despesas hoje com
provedor de internet e com assinatura de TV do que com arroz e
feijão. "Seria esse um indicador de
que a população brasileira já está
deixando o terreno das necessidades básicas e se elevando ao patamar da sociedade da informação
no governo do Fome Zero? Não
acredito; a comparação teria sentido se os gastos com informação
fossem importantes em relação
ao gasto com alimentação."
Segundo a pesquisa, somados,
arroz e feijão participam com
1,30% do orçamento familiar, enquanto os gastos com internet e
TV por assinatura respondem
por 1,49% do consumo.
Para o sociólogo, que acaba de
lançar "Politizar Novas Tecnologias" (ed. 34), o acesso à internet
no Brasil é fundamental (segundo
dados da ONU, o país é o 65º colocado entre os que tem maior acesso digital), mas deve-se alertar para o fato de que, se isso significar
apenas mais uma opção de entretenimento, "será como a disseminação da TV a cabo, mais do mesmo". "Quem acompanha a evolução das novas tecnologias sabe
que o problema da internet não é
mais o do acesso à informação,
mas o da capacidade de transformá-la em conhecimento valioso."
O sociólogo acha que os telejornais não têm refletido "a complexidade do mundo contemporâneo" e ataca o arcaísmo da TV ao
tratar da tecnologia. "A visão
triunfalística que a TV brasileira
tem da tecnologia não corresponde ao pensamento que tem sido
produzido sobre esta."
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