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Novelas em xeque
Jefferson Coppola/Folha Imagem
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O escritor Silvio de Abreu, que está buscando novos talentos e treinando-os para fazer novelas |
Silvio de Abreu vê possibilidade de o gênero "acabar" e busca novos autores para a Globo; "É grave se fica sempre a mesma coisa, se não aparece nada de novo", afirma
CLÁUDIA CROITOR
FREE-LANCE PARA A FOLHA, DO RIO
Um dos autores mais consagrados da Globo -são dele novelas
como "Rainha da Sucata", "A
Próxima Vítima" e "Guerra dos
Sexos"-, Silvio de Abreu, 62, pediu à emissora um tempo para ficar sem escrever tramas. O motivo: não deixar que as novelas entrem em extinção.
O novelista resolveu se dedicar
em tempo integral a descobrir novos dramaturgos. "É preciso que
surjam novos talentos. Senão, as
novelas vão acabar", afirma.
Abreu enumera grandes autores mortos nos últimos tempos e
outros tantos que em alguns anos
vão se aposentar.
Mas, segundo ele, a busca de novos nomes não é apenas para
"preencher vagas". "A novela precisa se renovar para se manter.
Sempre que aparece um autor novo, surge com ele algum novo estilo", afirma.
Desde abril, ele supervisiona o
trabalho de João Emanuel Carneiro. Roteirista do filme "Central do
Brasil", de Walter Salles, é dele a
nova novela das sete, que tem estréia prevista para o dia 26. "Ele é
de uma nova geração. Mesmo que
não traga novos formatos, trará
com certeza novas idéias de personagens", diz.
Abreu já fez o mesmo com escritores como Carlos Lombardi,
Alcides Nogueira e Maria Adelaide Amaral. "Tudo o que sei de TV
aprendi com ele", afirma a autora
da minissérie "Um Só Coração".
Mas esses já haviam sido seus
colaboradores antes do vôo solo.
Com Carneiro, foi diferente. "Fui
à Divisão de Recursos Artísticos
da Globo [que promove oficinas
periódicas para selecionar novos
autores e tem um arquivo com as
sinopses escritas por eles] e pedi
algumas sinopses. Peguei para ler
mais de 30. Li a do Carneiro, gostei e disse ao Mário Lucio Vaz [diretor-geral artístico da Globo]
que queria supervisioná-lo."
A seguir trechos da entrevista
que ele concedeu à Folha.
Folha - Por que o sr. decidiu ir à
caça de novos autores de novela?
Silvio de Abreu - Pedi um tempo
à Globo para tentar descobrir novos autores, senão a novela vai
acabar. Já perdemos muitos autores, muitos de nós já passamos
dos 60, é preciso surgir novos talentos. Continuamos trabalhando, claro, mas temos que pensar
no futuro. A novela é o esteio da
Rede Globo, e é nossa obrigação
passar o conhecimento.
Folha - Com isso existe a intenção
de buscar uma renovação nas novelas, com novos formatos, novas
linguagens?
Abreu - A idéia é essa mesmo. A
novela precisa se renovar para se
manter. Sempre que aparece um
autor novo, surge com ele algum
novo estilo.
Aconteceu isso comigo, em
"Guerra dos Sexos" [83], com
"Dancing Days" [78, de Gilberto
Braga], com o Aguinaldo Silva,
com o Carlos Lombardi.
A única maneira de a novela ficar interessante é ela se renovar. É
grave se fica sempre a mesma coisa, se não aparece nada de novo.
Claro que continuam existindo os
grandes autores já conhecidos,
mas o bom é que convivam o novo e o velho.
Folha - Mas até que ponto um autor iniciante terá liberdade para
trazer alguma inovação em um
produto tão essencial na programação da Globo?
Abreu - É claro que o autor não
terá liberdade de inovar de primeira, porque a emissora não pode arriscar com alguém que não
conhece. Mas, se ele tiver algo a
dizer, com certeza fará diferença
na segunda, na terceira trama que
escrever. O autor tem que ficar
confiante, e a emissora também.
Folha - Isso aconteceu com o sr.
quando entrou na Globo?
Abreu - Na minha primeira novela, "Pecado Rasgado" [78], eu
quis colocar um monte de coisas
novas, mas o diretor não permitiu. Depois de ter substituído Cassiano Gabus Mendes em "Plumas
& Paetês" [80] e ter escrito com a
Janete Clair, as coisas mudaram.
Em "Guerra dos Sexos" [83] eu já
tinha respaldo e consegui introduzir elementos novos na novela.
Folha - O que espera de um autor
como João Emanuel Carneiro?
Abreu - Acho que ele pode trazer
um olhar diferente, porque ele só
tem 32 anos. Mesmo que não venha com novos formatos, virão
com certeza novas idéias e visões
de personagens, porque ele é de
uma geração diferente da geração
da maioria dos autores da atualidade. Mas a idade não é tudo. Eu
fiz "As Filhas da Mãe" [2001] com
60 anos [risos].
Folha - Como funciona a supervisão feita pelo sr. com um iniciante?
Abreu - Primeiro precisa haver
uma identificação entre nós, e
houve, porque ele assistiu a muitas das minhas tramas.
Então peguei a sinopse, aparamos algumas arestas, remexemos
na história, desenvolvemos os
personagens. Claro que, se ele não
aceitava uma sugestão, a última
palavra era dele. Eu ajudo a executar o que está na cabeça do autor. Ele não tem prática, mas tem
talento.
Escrever novela é difícil, é preciso ter visão, porque uma coisa feita no capítulo 25 vai influenciar
no 125. Fiz com ele até o capítulo
36, depois deixei por conta dele.
Folha - O sr. tem planos de voltar
a escrever novela em breve?
Abreu - A Globo ainda não definiu a programação dela para
2004, então não sei o que farei.
Também tenho planos de voltar
para o cinema. Mas quero continuar descobrindo novos autores.
Continuo lendo sinopses, já descobri mais algumas boas, mas as
pessoas não estavam disponíveis.
Queria que surgissem outros autores para fazer o que eu estou fazendo, é um trabalho importante.
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