ÁLVARO DE MOYA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Georges Rémy, que utilizava o pseudônimo Hergé, tirado foneticamente de suas iniciais G e R, começou nos quadrinhos em 1923, mas foi em 1929 que criou seu famoso personagem, o jovem repórter Tintin. Foi no semanário católico e anticomunista "Petit Vingtième" que lançou a primeira página de "Tintin au Pays des Soviets", contra o regime soviético.
Tintin, sempre acompanhado de seu cão terrier Milou, foi publicado de 1930 a 1968 com tiragens de milhões, não só em francês, mas praticamente em todas as línguas. Apareceu em discos, rádio, TV, desenhos animados, merchandising e longas na telona.
O sucesso do personagem possibilitou o lançamento de uma revista "Tintin", com trabalhos de artistas belgas, evitando os norte-americanos, em 1946. Em 1949, a versão parisiense trazia autores franceses misturados com os belgas. Foi nessa publicação que apareceu, pela primeira vez, "Asterix", de Goscinny e Uderzo.
Quando a Bélgica foi invadida, na Segunda Guerra Mundial, pelas forças de Hitler, Hergé colaborou com os invasores. Logo que os países europeus se libertaram do nazifascismo, os colaboracionistas franceses, italianos e belgas foram processados. Na Bélgica, porém, as autoridades decidiram perdoar seu grande artista. Após sua morte por leucemia, em 1983, soube-se que, mesmo depois de anistiado de suas conexões com o Eixo, continuou, escondido, a colaborar financeiramente em benefício de nazistas foragidos.
Para o mundo todo, contudo, o que vale é a identificação com esse jovem destemido repórter, simpático, cercado de amigos e vilões, em cenários exóticos e cativantes, fazendo com que a juventude viaje em suas aventuras até hoje.
Encontrei com Hergé três vezes. Em uma delas, na Piazza San Silvestro, em Roma. Estava numa farmácia, comprando remédios, e brincou: "Preciso de remédios para manter o charme." Era deficiente da perna e andava com dificuldades.