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CINEMA
"O Aviador", de Martin Scorsese, é o maior vencedor, com três estatuetas; "Diários de Motocicleta" perde para espanhol
Globo de Ouro pulveriza sua premiação
SÉRGIO DÁVILA
DA CALIFÓRNIA
Em um ano em que os adolescentes, o alvo por excelência de
Hollywood, saíram da sala e deram chance aos mais velhos, o
Globo de Ouro, considerado uma
prévia mais liberal do Oscar, pulverizou seus prêmios em filmes
voltados para o público adulto.
Assim, "O Aviador", a cinebiografia do milionário excêntrico
Howard Hughes com Leonardo
DiCaprio no papel principal, levou três das seis categorias em
que concorria: drama, ator em
drama e trilha sonora. E "Sideways - Entre Umas e Outras" ganhou melhor comédia e roteiro
-o delicado filme com as desventuras de dois amigos quarentões pelos vinhedos californianos
brigava por sete estatuetas.
A Associação dos Correspondentes Estrangeiros de Hollywood, responsável pelas escolhas
do Globo de Ouro, reconheceu
ainda na noite de domingo o veterano Clint Eastwood (melhor diretor, pelo belíssimo drama de
boxe "Menina de Ouro"), um ano
depois de tê-lo ignorado em "Sobre Meninos e Lobos", e desprezou Martin Scorsese (de "O Aviador"), dois anos depois de tê-lo
premiado por "Gangues de Nova
York". Entre os atores, Jamie
Foxx virou o favorito na disputa
pelo Oscar 2005 (e fez o discurso
mais emocionado) ao ser anunciado o melhor ator de comédia
ou musical pela problemática cinebiografia "Ray".
Já Hilary Swank pode repetir
sua performance de 2000, quando
levou o Globo de Ouro como melhor atriz dramática por "Garotos
Não Choram" e semanas depois
seria oscarizada. Na noite de anteontem, foi a escolhida pelo papel-título de "Menina de Ouro",
enquanto Annette Bening levava
na categoria melhor atriz cômica,
por "Being Julia", que não tem
quase nada de comédia -mas
Deus abençoe a associação por dividir os prêmios principais em
drama de um lado e comédia e
musical do outro.
E "Perto Demais", um dos grandes do ano, de Mike Nichols, emplacou nas categorias coadjuvantes: ator para Clive Owen e atriz
para Natalie Portman.
De resto, a cerimônia da 62ª edição em Beverly Hills, na Califórnia, foi pontuada aqui e ali por
menções e pedidos de ajuda às vítimas do tsunami -no discurso
de agradecimento de DiCaprio,
no vídeo transmitido de Nova
York com o ex-presidente Bill
Clinton-, mas ignorou completamente a guinada à direita que o
país deu nas últimas eleições e as
conseqüentes críticas de setores
conservadores de que Hollywood
não estaria em sintonia com a
"América profunda", que colocou
George W. Bush por mais quatro
anos na Casa Branca.
Foi como se os EUA não estivessem no meio de uma semiguerra
civil num país que invadiram dois
prêmios atrás -a palavra "Iraque" só foi mencionada na entrega do reconhecimento pela carreira de Robin Williams (o ator já foi
a Bagdá, assim como duas vezes
ao Afeganistão, entreter os soldados norte-americanos).
Até mesmo "the governator" foi
deixado em paz -Arnold
Schwarzenegger, governador republicano da Califórnia, assistia a
tudo sorridente de sua mesa, sentado ao lado da mulher, a jornalista Maria Shriver.
Assim, não chegou a ser uma
surpresa o fato de "Diários de
Motocicleta", sobre a viagem iniciática de um jovem Che Guevara
(que o locutor pronunciou "Guevéra" ao anunciar o filme), dirigido pelo brasileiro Walter Salles,
ter perdido na categoria de filme
estrangeiro para o espanhol "Mar
Adentro", de Alejandro Amenábar, sobre um advogado tetraplégico, vivido por Javier Bardem,
que luta pela eutanásia.
Prêmios de TV
Por fim, na subcategoria televisão, deu "Desperate Housewives"
(melhor série cômica e melhor
atriz cômica, para Teri Hatcher),
o atual vício nada secreto dos
EUA, em que todos os personagens têm falhas de caráter ou cometeram um crime grave e que,
segundo o colunista Frank Rich,
do "New York Times", revela a hipocrisia da tal "América profunda", que alegou "valores morais"
ao escolher Bush, mas é responsável por colocar o programa como
líder de audiência semana após
semana, desde sua estréia, em outubro último.
Seu autor, o republicano homossexual Marc Cherry, dedicou
o prêmio à mãe, que estava na cerimônia e chorava na platéia.
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