São Paulo, terça-feira, 18 de janeiro de 2005

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CINEMA

"O Aviador", de Martin Scorsese, é o maior vencedor, com três estatuetas; "Diários de Motocicleta" perde para espanhol

Globo de Ouro pulveriza sua premiação

SÉRGIO DÁVILA
DA CALIFÓRNIA

Em um ano em que os adolescentes, o alvo por excelência de Hollywood, saíram da sala e deram chance aos mais velhos, o Globo de Ouro, considerado uma prévia mais liberal do Oscar, pulverizou seus prêmios em filmes voltados para o público adulto.
Assim, "O Aviador", a cinebiografia do milionário excêntrico Howard Hughes com Leonardo DiCaprio no papel principal, levou três das seis categorias em que concorria: drama, ator em drama e trilha sonora. E "Sideways - Entre Umas e Outras" ganhou melhor comédia e roteiro -o delicado filme com as desventuras de dois amigos quarentões pelos vinhedos californianos brigava por sete estatuetas.
A Associação dos Correspondentes Estrangeiros de Hollywood, responsável pelas escolhas do Globo de Ouro, reconheceu ainda na noite de domingo o veterano Clint Eastwood (melhor diretor, pelo belíssimo drama de boxe "Menina de Ouro"), um ano depois de tê-lo ignorado em "Sobre Meninos e Lobos", e desprezou Martin Scorsese (de "O Aviador"), dois anos depois de tê-lo premiado por "Gangues de Nova York". Entre os atores, Jamie Foxx virou o favorito na disputa pelo Oscar 2005 (e fez o discurso mais emocionado) ao ser anunciado o melhor ator de comédia ou musical pela problemática cinebiografia "Ray".
Já Hilary Swank pode repetir sua performance de 2000, quando levou o Globo de Ouro como melhor atriz dramática por "Garotos Não Choram" e semanas depois seria oscarizada. Na noite de anteontem, foi a escolhida pelo papel-título de "Menina de Ouro", enquanto Annette Bening levava na categoria melhor atriz cômica, por "Being Julia", que não tem quase nada de comédia -mas Deus abençoe a associação por dividir os prêmios principais em drama de um lado e comédia e musical do outro.
E "Perto Demais", um dos grandes do ano, de Mike Nichols, emplacou nas categorias coadjuvantes: ator para Clive Owen e atriz para Natalie Portman.
De resto, a cerimônia da 62ª edição em Beverly Hills, na Califórnia, foi pontuada aqui e ali por menções e pedidos de ajuda às vítimas do tsunami -no discurso de agradecimento de DiCaprio, no vídeo transmitido de Nova York com o ex-presidente Bill Clinton-, mas ignorou completamente a guinada à direita que o país deu nas últimas eleições e as conseqüentes críticas de setores conservadores de que Hollywood não estaria em sintonia com a "América profunda", que colocou George W. Bush por mais quatro anos na Casa Branca.
Foi como se os EUA não estivessem no meio de uma semiguerra civil num país que invadiram dois prêmios atrás -a palavra "Iraque" só foi mencionada na entrega do reconhecimento pela carreira de Robin Williams (o ator já foi a Bagdá, assim como duas vezes ao Afeganistão, entreter os soldados norte-americanos).
Até mesmo "the governator" foi deixado em paz -Arnold Schwarzenegger, governador republicano da Califórnia, assistia a tudo sorridente de sua mesa, sentado ao lado da mulher, a jornalista Maria Shriver.
Assim, não chegou a ser uma surpresa o fato de "Diários de Motocicleta", sobre a viagem iniciática de um jovem Che Guevara (que o locutor pronunciou "Guevéra" ao anunciar o filme), dirigido pelo brasileiro Walter Salles, ter perdido na categoria de filme estrangeiro para o espanhol "Mar Adentro", de Alejandro Amenábar, sobre um advogado tetraplégico, vivido por Javier Bardem, que luta pela eutanásia.

Prêmios de TV
Por fim, na subcategoria televisão, deu "Desperate Housewives" (melhor série cômica e melhor atriz cômica, para Teri Hatcher), o atual vício nada secreto dos EUA, em que todos os personagens têm falhas de caráter ou cometeram um crime grave e que, segundo o colunista Frank Rich, do "New York Times", revela a hipocrisia da tal "América profunda", que alegou "valores morais" ao escolher Bush, mas é responsável por colocar o programa como líder de audiência semana após semana, desde sua estréia, em outubro último.
Seu autor, o republicano homossexual Marc Cherry, dedicou o prêmio à mãe, que estava na cerimônia e chorava na platéia.


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