São Paulo, quarta-feira, 18 de janeiro de 2006

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ANÁLISE

Globo de Ouro chuta a porta e sai do armário

SÉRGIO DÁVILA
DA REPORTAGEM LOCAL

A madrugada de ontem entrará para a história como o dia em que o Globo de Ouro saiu do armário. A 63ª edição do prêmio, um termômetro mais liberal do Oscar, foi assumidamente gay.
Se não, vejamos: dos cinco prêmios principais, todos foram para filmes com temática homossexual. "O Segredo de Brokeback Mountain", a história de dois caubóis americanos que se apaixonam, levou filme/drama, diretor (Ang Lee) e roteiro (Larry McMurtry e Diana Ossana).
Já "Capote", que reconstitui a vida do jornalista abertamente homossexual Truman Capote durante o período em que escreveu a reportagem de sua vida, "A Sangue Frio", rendeu o merecido prêmio de melhor ator/drama a Philip Seymour Hoffman.
E "Transamerica", sobre um transsexual masculino em vias de fazer operação de mudança de sexo, deu o também merecido prêmio de melhor atriz/drama a Felicity Huffman, mais conhecida pela série "Desperate Housewives".
Até a premiação televisiva teve um toque GLS: o elenco principal de "Will & Grace", série que tem sua última temporada exibida neste ano, subiu ao palco para dar o principal prêmio da área, melhor série/drama, para "Lost".
Mesmo assim, se a apresentação foi liberal no conteúdo, continua conservadora na forma. Exibido pela TV aberta NBC, o prêmio não mostrou nem uma cena mais polêmica do grande vencedor da noite: para os telespectadores (cerca de meio bilhão em mais de 170 países, segundo os organizadores), o segredo de "Brokeback Mountain" continua um segredo.
O resto foi o resto. Dos três prêmios a que concorria "O Jardineiro Fiel", dirigido pelo brasileiro Fernando Meirelles, saiu apenas o de melhor atriz coadjuvante, para Rachel Weisz, como era esperado.
O que não quer dizer que o filme não seja lembrado nas indicações ao Oscar, que saem no dia 31. Ao contrário: com a exposição do Globo, os prêmios de menor importância já ganhos e a presença freqüente em diversas listas dos dez melhores de 2005, o brasileiro pode ampliar as indicações, incluindo roteiro adaptado e ator.
Mas "Brokeback" pode se prejudicar por motivos diferentes. Quem vota no Globo de Ouro é jornalista estrangeiro que vive em Los Angeles e só cobre cinema (84 pessoas). Os eleitores do Oscar passam de 6.000, são mais diversificados, mas tendem a ser mais conservadores.


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