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Perder foi "alívio", diz Meirelles
SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL
O cineasta brasileiro Fernando
Meirelles perdeu anteontem o
Globo de Ouro. Pela segunda vez.
Meirelles afirma que a sensação
da derrota é de "alívio", porque
ela o poupa da obrigação de fazer
discursos, experiência que caracteriza como "dolorosa".
A derrota de Meirelles não é
exatamente um fracasso. Ele
competiu com os pesos-pesados
de Hollywood Steven Spielberg
("Munique"), Peter Jackson
("King Kong"), Woody Allen
("Ponto Final") e George Clooney
("Boa Noite e Boa Sorte").
Na primeira vez em que o brasileiro sentou-se na platéia do Globo de Ouro, competia ao título de
melhor filme estrangeiro, com
"Cidade de Deus". Era 2003.
Meirelles dividiu a mesa com o
espanhol Pedro Almodóvar, que
venceu e não cumprimentou o
brasileiro. Desta vez, o conviva ao
lado do cineasta era o ator norte-americano Tim Robbins, que fez a
apresentação do filme na disputa.
Robbins, que com a atriz Susan
Sarandon forma um casal notório
em Hollywood pela adesão a
idéias e causas identificados com
a esquerda norte-americana, chamou "O Jardineiro Fiel" de "um
filme impecável".
Na entrevista a seguir, Meirelles
comenta o resultado do Globo de
Ouro, fala de suas chances no Oscar e dispensa, delicadamente, a
top Gisele Bündchen de seu próximo elenco. A modelo declarou
que adoraria filmar com o diretor.
Folha - Quando o sr. ouviu Clint
Eastwood dizer o nome de Ang Lee
teve a mesma sensação de 2003,
em que também competiu e não
venceu? Que sensação é, aliás?
Fernando Meirelles - A primeira
sensação é de alívio por não ter
que subir lá e fazer um discurso.
Ganhar um prêmio é ótimo, mas
ir recebê-lo é doloroso para mim.
Todo mundo estava esperando
que Ang Lee vencesse. Ele estava
em primeiro em todas as bolsas
de apostas que a imprensa norte-americana adora fazer. Vi um site
em que as chances dele eram de 2
em 3; as do George Clooney, 1 em
2; a minha, 1 em 15 e a dos outros
três diretores, 1 em 40.
Não havia muita dúvida de
quem ganharia, por isso não houve sofrimento. Quando fui com
"Cidade de Deus", em 2003, sofri
bem mais, enquanto Zhang Yimou ["Herói"] dormia ao meu lado. [O espanhol Pedro] Almodóvar levou [com "Fale com Ela"].
Folha - A quem o Globo de Ouro
fez justiça e com quem foi injusto?
Meirelles - Adorei ver Hani Abu-Assad ganhar melhor filme estrangeiro com [o título palestino]
"Paradise Now". Ele me contou
essa história que estava escrevendo em 2002. De cara achei que seria um filme vencedor. Injustiça
foi ficar tanto tempo na cadeira,
vendo gente de TV sendo premiada. É meio tedioso quando não se
conhece ninguém.
Folha - Quem estava na sua mesa? Ouviu algo interessante? Combinou novos projetos?
Meirelles - Na mesa estava minha mulher, o produtor do filme,
Simon C. Willians, e sua mulher,
um executivo da Fox, a Rachel
Weisz com seu marido, Daren
Aronofsky, e o Tim Robbins.
Rolou pouca comida e os papos
de sempre. A bebida era boa, mas
peguei leve. Durante os comerciais, todo mundo levanta e vai
para as mesas vizinhas.
Folha - O Globo de Ouro é considerado prévia do Oscar. Acha que
esse resultado antecipa o do Oscar?
Aumentam as chances de Rachel
Weisz? Que indicações você espera
obter para "O Jardineiro Fiel"?
Meirelles - No Oscar, as maiores
chances são para Rachel Weisz, a
montadora Claire Simpson e o roteirista Jeffrey Caine. Torço pelo
Ralph Fiennes, mas sabemos que
é um ano dificílimo para atores.
Cesar Charlone merecia uma
nomeação pela fotografia, mas
não o nomearam no sindicato de
sua categoria, o que não é bom sinal. Não estou contando com nomeação para mim pela mesma razão. Não fui incluído na lista do
Directors Guild.
Folha - O crescimento de "O Segredo de Brokeback Mountain" nas
bilheterias dos EUA, sendo um filme da Focus, assim como "O Jardineiro Fiel", pode enfraquecer a
campanha de seu filme ao Oscar?
Meirelles - Acho que não. Para a
Focus, quanto mais frentes e mais
nomeações, melhor. Cada negócio é um negócio.
Folha - Na próxima vez que o sr.
disputar um prêmio em Los Angeles, o diretor de "2 Filhos de Francisco", Breno Silveira, também estará na platéia?
Meirelles - Seria lindo.
Folha - A top Gisele Bündchen disse à Folha que adoraria filmar com
o sr. Já a dirigiu em comerciais? Há
lugar para ela num filme seu?
Meirelles - Fizemos dois comerciais juntos. Ela é uma pessoa
adorável, mas no filme que estou
escrevendo não há nenhum personagem com seu perfil, de semideusa.
Folha - Qual é o próximo filme?
Meirelles - Teoricamente meu
próximo projeto seria [a produção brasileira] "Intolerância",
mas quero dar uma desacelerada
na minha vida. Então vou empurrá-lo com a barriga até cansar de
fazer nada.
Folha - Na cerimônia do Oscar
2004, em que o sr. concorreu como
melhor diretor, por "Cidade de
Deus", o sr. disse que fez sinais para a câmera a pedido de seu filho.
Desta vez, o que era?
Meirelles - Acho que era total falta de ter o que fazer com aquele
cara apontando a lente a meio
metro do meu nariz. Achei que
aquela imagem só estivesse nos
telões internos...
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