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ILUSTRADA
Crise teve início com exoneração de secretário acusado de irregularidade
Três se demitem da Cultura, e Gil questiona permanência
PEDRO DANTAS
FREE-LANCE PARA A FOLHA, DO RIO
LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
O ministro Gilberto Gil (Cultura) afirmou ontem que a pasta
passa por uma "crise séria de gestão" e que espera do presidente da
República confirmação sobre sua
permanência no comando do ministério. Disse ainda que pedirá a
Luiz Inácio Lula da Silva "tempo
para recompor" a sua equipe.
Ontem, a situação na Cultura ficou ainda mais complicada com o
pedido de demissão de três pessoas da confiança de Gil: seu assessor especial Antonio Risério, o
coordenador nacional do Programa Monumenta, Marcelo Ferraz,
e a presidente do Iphan (Instituto
do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), Maria Elisa Costa.
Os três assinaram a mesma carta
ao ministro. O texto traz duras
críticas à pasta e começa com a
frase "Mais uma vez, infelizmente, o sonho acabou".
A saída do grupo foi uma consequência da exoneração, anteontem, de Roberto Pinho, secretário
de Desenvolvimento de Programas e Projetos do ministério.
Ele foi acusado por Juca Ferreira, secretário-executivo da pasta,
de irregularidades no contrato
que firmou com o Ibrac (Instituto
Brasil Cultural) e de coletar de
forma irregular a assinatura de Gil
para o projeto. A parceria previa
que a entidade iria receber do governo cerca de R$ 1,5 milhão para
a construção de 16 BACs (Bases de
Apoio à Cultura), totalizando um
patrocínio de R$ 24 milhões, que
seria feito pela Petrobras.
O presidente do Ibrac, Sérgio de
Souza Fontes Arruda, é um funcionário público, amigo e dono da
casa onde Pinho mora.
As BACs, centros artísticos que
serão instalados nas periferias das
grandes cidades, são a espinha
dorsal da política cultural de Gil.
O ministro declarou ontem que
nos últimos meses vinha administrando uma crise de "diálogo,
confiança e autoridade" entre
Ferreira e Pinho. E disse que precisará de tempo para recompor a
equipe. "Enquanto Lula continuar confiando a mim essa tarefa,
e eu estiver disposto a encará-la
-e posso dizer que estou, porque
senão teria aproveitado esse episódio para entregar o cargo-,
continuarei no MinC e pedirei
tempo para recompor a equipe."
André Singer, porta-voz de Lula, disse que a crise na pasta da
Cultura não terá mais desdobramentos. "Tenho entendido que
Gil já tomou providências a respeito da questão do MinC."
Para os demissionários, a exoneração de Pinho foi resultado de
"disputa de poder, politicagem,
intrigas e mesquinharia". Ferraz
afirmou que não acredita que
houvesse irregularidades no contrato com o Ibrac e que Pinho foi
vítima "de uma grande armação".
Pinho também rebate as acusações de Ferreira e diz que o Ibrac é uma
sociedade civil de interesse público e que, por isso, a parceria dispensa concorrência.
Ontem, Gil disse que tanto a
controladoria quanto o setor jurídico do MinC avaliaram que a exigência ou não de licitação e o
portfólio apresentados por Pinho
estavam no limite entre o "jurídico perfeito e imperfeito" e afirmou não acreditar que seu amigo
de infância tenha tentado conscientemente algum ato ilícito.
"Houve uma tendência a insubordinação aos procedimentos
regulamentais por parte do Roberto (Pinho). Não vejo como
uma coisa grave. Era uma tendência bem intencionada em apressar
o processo diante da lentidão da
máquina governamental. Não tenho motivos para acreditar em
outra coisa", disse Gil.
Colaborou a Sucursal de Brasília
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