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CINEMA
Diretor russo apresenta "The Sun", filme sobre o imperador japonês, na mostra competitiva do Festival de Berlim
Sokúrov revê humanidade de Hiroito
FABIO CYPRIANO
ENVIADO ESPECIAL A BERLIM
Depois de traçar um retrato de
Hitler, em "Moloch" (1999), e de
Lênin, em "Taurus" (2001), o cineasta russo Alexander Sokúrov
apresentou, ontem, em Berlim, na
mostra competitiva, sua mais recente produção, agora sobre o imperador japonês Hiroito, em "The
Sun" (o sol).
Novamente, Sokúrov centra seu
foco no caráter humano do personagem, com o típico requinte visual de imagens granuladas dos
outros filmes da trilogia. Agora,
entretanto, usando também um
sutil humor, que levou a platéia às
gargalhadas em vários momentos
dos 110 minutos do filme.
"O imperador Hiroito é um
grande caráter, uma lição humanitária, e por isso o escolhi como o
terceiro personagem desta série",
disse Sokúrov. O filme se passa no
segundo semestre de 1945, após o
imperador ter pedido aos japoneses, pelo rádio, que as operações
militares fossem interrompidas,
evitando mais mortes, quando a
Segunda Guerra já havia chegado
ao fim e a bomba atômica já tinha
atingido Hiroshima.
"Eu não estava particularmente
interessado em focar a história
daquele período, mas em como
um indivíduo enfrenta uma situação muito difícil e como ele pode
superar essa condição, o mesmo
drama dos outros filmes dessa série", contou Sokúrov.
Outra motivação para a escolha
de Hiroito como personagem tem
a ver com a própria história da
terra natal de Sokúrov: "O imperador salvou a União Soviética,
pois ele não quis mandar tropas
para lá, e por isso sou grato. Ele
acreditava no poder do diálogo,
da negociação, e creio que é disso
que o mundo precisa hoje". Hiroito não foi processado por um
tribunal militar, após a Segunda
Guerra, justamente por um pedido do general norte-americano
Douglas MacArthur.
Hiroito (Issey Ogata) é visto em
seu cotidiano num abrigo, cercado por súditos, no laboratório de
biologia, e em encontros com o
general MacArthur (Robert Dawson), até que o imperador decide
renunciar ao seu poder divino.
África
O festival assistiu ainda, ontem,
a "Sometimes in April" (algumas
vezes em abril), com direção e roteiro do haitiano Raoul Peck, sobre o genocídio ocorrido em
Ruanda, em 1994. Entre os filmes
com temática africana, "Sometimes" foi o mais aplaudido nas
sessões para jornalistas.
"Todas as histórias que conto
foram baseadas em casos reais,
busquei dar o máximo de credibilidade a essa triste história", disse
Peck, em Berlim. O filme está centrado no julgamento do radialista
Honoré, que incitava seus ouvintes a cometer atrocidades. "Há
partes do filme que são transcrições do processo no tribunal."
O jornalista Fabio Cypriano viaja a convite da organização do festival
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