São Paulo, sexta-feira, 18 de fevereiro de 2005

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CINEMA

Diretor russo apresenta "The Sun", filme sobre o imperador japonês, na mostra competitiva do Festival de Berlim

Sokúrov revê humanidade de Hiroito

FABIO CYPRIANO
ENVIADO ESPECIAL A BERLIM

Depois de traçar um retrato de Hitler, em "Moloch" (1999), e de Lênin, em "Taurus" (2001), o cineasta russo Alexander Sokúrov apresentou, ontem, em Berlim, na mostra competitiva, sua mais recente produção, agora sobre o imperador japonês Hiroito, em "The Sun" (o sol).
Novamente, Sokúrov centra seu foco no caráter humano do personagem, com o típico requinte visual de imagens granuladas dos outros filmes da trilogia. Agora, entretanto, usando também um sutil humor, que levou a platéia às gargalhadas em vários momentos dos 110 minutos do filme.
"O imperador Hiroito é um grande caráter, uma lição humanitária, e por isso o escolhi como o terceiro personagem desta série", disse Sokúrov. O filme se passa no segundo semestre de 1945, após o imperador ter pedido aos japoneses, pelo rádio, que as operações militares fossem interrompidas, evitando mais mortes, quando a Segunda Guerra já havia chegado ao fim e a bomba atômica já tinha atingido Hiroshima.
"Eu não estava particularmente interessado em focar a história daquele período, mas em como um indivíduo enfrenta uma situação muito difícil e como ele pode superar essa condição, o mesmo drama dos outros filmes dessa série", contou Sokúrov.
Outra motivação para a escolha de Hiroito como personagem tem a ver com a própria história da terra natal de Sokúrov: "O imperador salvou a União Soviética, pois ele não quis mandar tropas para lá, e por isso sou grato. Ele acreditava no poder do diálogo, da negociação, e creio que é disso que o mundo precisa hoje". Hiroito não foi processado por um tribunal militar, após a Segunda Guerra, justamente por um pedido do general norte-americano Douglas MacArthur.
Hiroito (Issey Ogata) é visto em seu cotidiano num abrigo, cercado por súditos, no laboratório de biologia, e em encontros com o general MacArthur (Robert Dawson), até que o imperador decide renunciar ao seu poder divino.

África
O festival assistiu ainda, ontem, a "Sometimes in April" (algumas vezes em abril), com direção e roteiro do haitiano Raoul Peck, sobre o genocídio ocorrido em Ruanda, em 1994. Entre os filmes com temática africana, "Sometimes" foi o mais aplaudido nas sessões para jornalistas.
"Todas as histórias que conto foram baseadas em casos reais, busquei dar o máximo de credibilidade a essa triste história", disse Peck, em Berlim. O filme está centrado no julgamento do radialista Honoré, que incitava seus ouvintes a cometer atrocidades. "Há partes do filme que são transcrições do processo no tribunal."


O jornalista Fabio Cypriano viaja a convite da organização do festival

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