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"MAR ADENTRO"
Ator diz que mudou a maneira de encarar a vida após protagonizar novo longa de Alejandro Amenábar
Javier Bardem enfrenta medo da morte
ÉRICA FRAGA
DE LONDRES
O ator Javier Bardem diz ter medo da morte. Mas isso não o impediu de fazer uma impressionante
atuação em "Mar Adentro", que
estréia hoje no Brasil, sobre a história real de Ramón Sampedro,
marinheiro galego que ficou tetraplégico e passou a lutar com
determinação inabalável pelo direito de dar cabo da própria vida.
Não por acaso, Bardem é considerado o melhor ator espanhol da
atualidade pelo diretor Alejandro
Amenábar, que fez um filme diferente de seus anteriores -"Preso
na Escuridão" e "Os Outros"-,
com um enredo dramático e toques de comédia, fugindo do suspense ou "thriller" psicológico.
"Bardem tem ambição, energia,
talento. Provou isso em "Mar
Adentro" ao conseguir se transformar numa pessoa completamente diferente", afirma Amenábar, chileno radicado na Espanha,
que é co-autor do roteiro e também compôs a trilha sonora.
Bardem conta que, quando
Amenábar lhe ofereceu o papel, se
assustou. Não era para menos.
Bardem tem 35 anos, quase 20 a
menos que Sampedro quando este conseguiu se matar com a ajuda
de amigos, em 1998. Além disso, o
ator teve de aprender o difícil sotaque da Galícia e seus recursos de
interpretação se limitavam a movimentos faciais e ao uso da voz.
Modesto, chega a dizer que a
maquiadora britânica Jo Allen fez
50% do seu trabalho. Bardem,
que enfrentou cinco horas diárias
de maquiagem e até dez de filmagem, diz que interpretar Sampedro -de quem ele guarda uma
foto que leva para todos os lados- mudou a maneira como ele
encara a vida: "Acho que adotei
uma forma mais tranqüila de lidar com as coisas", diz.
Apesar de todos os elogios que
tem recebido, Bardem não é o
único a colecionar louros por
"Mar Adentro", que tem faturado
prêmios importantes no mundo.
Ganhou o Grande Prêmio do Júri
no Festival de Veneza, no ano
passado, quando Bardem também foi escolhido melhor ator.
Depois, foi a vez de o Conselho
Nacional de Críticos dos EUA eleger "Mar Adentro" como o melhor filme estrangeiro de 2004.
Em janeiro, voltou a vencer nessa
categoria no Globo de Ouro.
No próximo dia 27, "Mar Adentro" concorre a outras estatuetas
-filme estrangeiro e maquiagem- no Oscar. Hollywood apenas por Hollywood, no entanto,
não atrai ator nem diretor, que dizem estar mais interessados em
bons projetos do que em riqueza e
glamour. "O difícil é conseguir estar nos poucos bons projetos que
surgem", diz Bardem.
O ator evita críticas ao cinema
norte-americano, mas reclama da
pequena oferta de roteiros interessantes e se diz saturado de alguns diretores "ditadores", cujos
nomes ele não cita. "Não preciso
disso. Não sou milionário, mas tenho uma casa. Se puder escolher,
vou preferir trabalhar em projetos
dos quais eu me orgulhe", diz.
Ele elenca como seus melhores
trabalhos os filmes "Mar Adentro", "Segunda-Feira ao Sol",
"Guerrilha sem Face" e "Antes do
Anoitecer" (que lhe rendeu uma
indicação ao Oscar).
A conta deixa de fora "Carne
Trêmula", do espanhol Pedro Almodóvar, mas Bardem se explica:
"Eu me sinto mais confortável como ator desde "Antes do Anoitecer", mas Almodóvar é um gênio,
trabalhar com ele é uma honra".
Já Amenábar diz que a fragmentada indústria européia está
ameaçada pelo cinema de Hollywood e o cinema, de forma geral,
pela pirataria. "Como um espectador, gostaria de ver coisas novas, me aborreço de assistir apenas aos filmes de Hollywood o
tempo todo", diz o diretor.
Mas, quando o assunto são as
críticas de setores conservadores
a "Mar Adentro", Bardem fica
mais agressivo e Amenábar, diplomático. O ator não poupa críticas à Igreja Católica por sua reação: "A igreja criticou sem nem
ter visto o filme. Por isso não respeito a opinião da igreja. Como
você pode criticar algo que nem
viu?", questiona ele.
Bardem afirma que a sociedade
está sempre mais preparada do
que as instituições para aceitar
mudanças e idéias novas. Isso explica o sucesso de "Mar Adentro"
entre a população espanhola, segundo ele. Amenábar se limita a
dizer que já esperava a polêmica.
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