São Paulo, domingo, 18 de fevereiro de 2007

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BIA ABRAMO

"Vidas" é resposta ficcional à realidade


O autor acertou ao se abrir para abordagens mais contemporâneas em torno da violência

A MARÉ , realmente, está para a Record. A novela da Globo é das piores dos últimos tempos, com uma abundância de personagens francamente antipáticos, chatos, não-atraentes e tramas bobas -é alguma espécie de sinal o fato de a personagem do bem mais carismática ser um fantasma... O "Big Brother Brasil 7" é um desfile de não-acontecimentos com não-pessoas, do qual até seu diretor já se cansou e pediu dispensa (depois negou, mas o mal já estava feito). Os campeonatos estaduais estão naquele início modorrento e, para coroar, o Palmeiras vai mal...
Nesse vácuo, "Vidas Opostas" vem cavando aqui e ali seus recordes de audiência -coisa que outras novelas da Record já tinham, de certa forma, logrado- e fixando seu prestígio crítico -este, em certo sentido, é o feito inédito de Marcílio Moraes.
O negócio é que, diante de um Rio de Janeiro em meio à disputa encarniçada entre tráfico e milícias e de episódios como o da morte horrenda de João Hélio, a novela tem conseguido produzir algo que pode se chamar de uma resposta ficcional à altura. Não simplesmente por ser mais ou menos fiel à realidade, mas justamente porque consegue ficcionalizá-la de modo mais verossímil.
Digamos, se a realidade entra a machadadas na trama de "Páginas da Vida", transformando seus personagens ora em vítimas, ora em observadores moralizantes, em "Vidas Opostas" ela ganha um tratamento dramático nuançado. Isso permite que os elementos da realidade entrem no tecido da história e que o espectador possa revivê-los de forma subjetiva, ao mesmo tempo mais rica em termos emocionais e intelectuais e muito menos impositiva.
Além dos procedimentos menos conservadores, Moraes acertou em cheio ao se abrir para as abordagens mais contemporâneas da violência e das relações sociais que vêm aparecendo no cinema, sobretudo, mas também na literatura mais recente.
É essa textura, mais dos que os pontinhos aqui ou ali, que distinguem "Vidas Opostas" no cenário das novelas.

 

A MTV marcou um ponto ao veicular uma vinheta que destoa da posição das outras emissoras comerciais em relação à classificação indicativa de faixas de horário. A vinheta da Globo (e que passa também no SBT) "suborna" a opinião pública ao dizer que "ninguém melhor que os pais para decidir o que uma criança deve ver". Em última instância, pode até ser, mas aposto que a maioria dos pais agradeceria se a TV, sobretudo a publicidade, fosse menos inimiga das tarefas educacionais.

biabramo.tv@uol.com.br


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