São Paulo, quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

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comentário

Espera-se que "novo" Moz seja só miragem pop

CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA

Quando Morrissey entrou no palco do hoje extinto Olympia (o da Lapa paulistana, não o parisiense), em meados dos anos 90, ostentando uma volumosa pança sob uma camisa de cetim vermelho, muita gente na plateia desviou o olhar para baixo e no caminho encontrou o próprio ventre em inevitável abundância. Naquele show tudo parecia um réquiem, ao menos geracional.
Quase uma década depois, Morrissey levou a Buenos Aires a triunfante turnê do álbum "You Are the Quarry", na qual projetava mais que tudo uma sabedoria pop, nunca intacta, mas transformada.
A inspiração de seu mítico topete encarnava-se corpo abaixo, e Elvis baixava em tudo, a começar no cenário à Las Vegas, como a cortina com letras brilhantes que reproduziam o nome do cantor. Moz assumia aquilo que sempre quis ser e foi: um "crooner", um "entertainer".
Suas imagens de terno, com uma metralhadora, em "You Are the Quarry" (2004), e de smoking, tocando violino, em "Ringleader of the Tormentors" (2006), recriavam um ídolo ao mesmo tempo clássico e cínico.
Em "Years of Refusal" o acessório é um bebê, visivelmente desconfortável no bração que o sustenta. E de quem é o tal braço hipertrofiado? De Morrissey, claro.
Provavelmente a imagem faz parte da estratégia de marketing que começou com o cantor alardeando que "seu novo álbum era o que havia feito de mais forte até hoje", seguida pela foto da capa do single pré-lançamento de "Years of Refusal", no qual Morrissey surgia nu, com os integrantes de sua banda, trajando só um compacto de vinil como tapa-sexo.
Espera-se que este "novo" Morrissey com ares de roqueiro bombado seja só uma miragem pop. Ao menos é o que indica uma declaração recente do cantor: "Sim, claro que sou eu na capa e sem nenhum retoque de Photoshop. Até o bebê sou eu...". Senão, cantaremos outra vez sozinhos este refrão de uma bela balada do álbum -"You were good in your time/ and we thank you"- e passaremos a adorar o Incrível Hulk.


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