São Paulo, quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

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Peças renovam flerte de teatro e vídeo

"Nu de Mim Mesmo", "Não sobre o Amor" e "Entre o Céu e a Terra", em cartaz em SP, misturam atores em cena à projeção de imagens

Diretores dizem que vídeo não pode determinar a percepção do público; cia. chilena que radicaliza a fusão vem ao país em março

LUCAS NEVES
DA REPORTAGEM LOCAL

No palco, uma jovem e seu amigo marcam um encontro para fugir da cidade. Quando ele estremece, ela decide seguir só. A partir daí, saem os atores: o enredo se desenrola em formato de história em quadrinhos, projetada numa tela.
A descrição é de um dos trechos da peça "Nu de Mim Mesmo" em que vídeo e teatro se amalgamam de modo mais intenso. O espetáculo da Cia. Teatro Autônomo, em cartaz em São Paulo, colhe um cientista em fase de reavaliação de conceitos -e fabulação febril.
Além de "Nu", outras produções atualmente vistas na capital paulista que justapõem a cena viva à projeção de imagens são "Não sobre o Amor" e "Entre o Céu e a Terra".
Na primeira, a troca de cartas entre os escritores Victor Shklovsky (1893-1984) e Elsa Triolet (1896-1970) é narrada a partir do conceito de "teatro expandido" caro ao diretor Felipe Hirsch. Ou seja: cinema e artes plásticas são convocados a toda hora. "Entre o Céu e a Terra" casa a exibição de um filme mudo baseado no conto "A Cartomante", de Machado de Assis, à enunciação, em cena, de poemas e escritos teóricos ligados ao que se vê na tela.
O flerte entre cinema e teatro vem de longa data (leia mais à esquerda), mas, com cada vez mais frequência, encenadores têm enxergado no uso de vídeos algo além de um expediente decorativo, ilustrativo.
Para o diretor Jefferson Miranda, 47, de "Nu", "a tecnologia deve entrar para ampliar as experiências subjetivas do espectador, e não como uma forma facilitadora e objetivadora, que dirija a percepção dele".

Viagem por tempo-espaço
Hirsch, 36, que testou a alquimia entre teatro e vídeo pela primeira vez em "Juventude" (1998) e volta a fazê-lo em "Não...", afirma que a projeção de imagens ou textos, em seus trabalhos, "tem por intuito levar a ideia a outros lugares, intensificar o poder que a gente tem de decupá-la e traduzi-la":
"Mas não acho que usar vídeo dê mais liberdade para viajar por tempo e espaço. Esses cortes são absolutamente possíveis na própria dramaturgia."
Já Sérgio de Carvalho, 41, de "Entre o Céu e a Terra", diz buscar, com seu "filme mudo comentado", "a perturbação do cinema pelo teatro": "O espectador está acostumado a se esquecer dentro da tela, entrar na ficção. Criamos um atrito aí: você assiste ao mesmo tempo de dentro e de fora, vê a construção do cinema e cria junto".
A mais radical das fusões entre cinema e teatro que o público brasileiro verá neste ano talvez esteja no chileno "Sin Sangre", da cia. TeatroCinema.
O espetáculo, em que movimentos do elenco em cena têm impacto imediato sobre as imagens projetadas (como a abertura de uma porta), vem ao Festival de Curitiba, em março.
"Não temos medo de propor novos formatos, porque grande parte do teatro que conheço explica tudo por meio de palavras, literatura, texto. Nossa intenção é expor conflitos, sonhos e paixões dos personagens pela poesia da ação", explica o diretor Juan Carlos Zagal.


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