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Peças renovam flerte de teatro e vídeo
"Nu de Mim Mesmo", "Não sobre o Amor" e "Entre o Céu e a Terra", em cartaz em SP, misturam atores em cena à projeção de imagens
Diretores dizem que vídeo não pode determinar a percepção do público; cia. chilena que radicaliza a fusão vem ao país em março
LUCAS NEVES
DA REPORTAGEM LOCAL
No palco, uma jovem e seu
amigo marcam um encontro
para fugir da cidade. Quando
ele estremece, ela decide seguir
só. A partir daí, saem os atores:
o enredo se desenrola em formato de história em quadrinhos, projetada numa tela.
A descrição é de um dos trechos da peça "Nu de Mim Mesmo" em que vídeo e teatro se
amalgamam de modo mais intenso. O espetáculo da Cia. Teatro Autônomo, em cartaz em
São Paulo, colhe um cientista
em fase de reavaliação de conceitos -e fabulação febril.
Além de "Nu", outras produções atualmente vistas na capital paulista que justapõem a cena viva à projeção de imagens
são "Não sobre o Amor" e "Entre o Céu e a Terra".
Na primeira, a troca de cartas
entre os escritores Victor
Shklovsky (1893-1984) e Elsa
Triolet (1896-1970) é narrada a
partir do conceito de "teatro
expandido" caro ao diretor Felipe Hirsch. Ou seja: cinema e
artes plásticas são convocados
a toda hora. "Entre o Céu e a
Terra" casa a exibição de um filme mudo baseado no conto "A
Cartomante", de Machado de
Assis, à enunciação, em cena,
de poemas e escritos teóricos
ligados ao que se vê na tela.
O flerte entre cinema e teatro
vem de longa data (leia mais à
esquerda), mas, com cada vez
mais frequência, encenadores
têm enxergado no uso de vídeos algo além de um expediente decorativo, ilustrativo.
Para o diretor Jefferson Miranda, 47, de "Nu", "a tecnologia deve entrar para ampliar as
experiências subjetivas do espectador, e não como uma forma facilitadora e objetivadora,
que dirija a percepção dele".
Viagem por tempo-espaço
Hirsch, 36, que testou a alquimia entre teatro e vídeo pela
primeira vez em "Juventude"
(1998) e volta a fazê-lo em
"Não...", afirma que a projeção
de imagens ou textos, em seus
trabalhos, "tem por intuito levar a ideia a outros lugares, intensificar o poder que a gente
tem de decupá-la e traduzi-la":
"Mas não acho que usar vídeo dê mais liberdade para viajar por tempo e espaço. Esses
cortes são absolutamente possíveis na própria dramaturgia."
Já Sérgio de Carvalho, 41, de
"Entre o Céu e a Terra", diz
buscar, com seu "filme mudo
comentado", "a perturbação do
cinema pelo teatro": "O espectador está acostumado a se esquecer dentro da tela, entrar na
ficção. Criamos um atrito aí:
você assiste ao mesmo tempo
de dentro e de fora, vê a construção do cinema e cria junto".
A mais radical das fusões entre cinema e teatro que o público brasileiro verá neste ano talvez esteja no chileno "Sin Sangre", da cia. TeatroCinema.
O espetáculo, em que movimentos do elenco em cena têm
impacto imediato sobre as imagens projetadas (como a abertura de uma porta), vem ao Festival de Curitiba, em março.
"Não temos medo de propor
novos formatos, porque grande
parte do teatro que conheço explica tudo por meio de palavras,
literatura, texto. Nossa intenção é expor conflitos, sonhos e
paixões dos personagens pela
poesia da ação", explica o diretor Juan Carlos Zagal.
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