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TV a cabo se abre para obras nacionais
Incentivo fiscal e interesse do público estimulam canais a fazer coproduções
Séries infantis brasileiras, que não encontram espaço na TV aberta, são exportadas por Discovery Kids e Nickelodeon
DA REPORTAGEM LOCAL
"No Brasil, temos uma piada
pronta: "A TV fechada é aberta e
a TV aberta é fechada"." O trocadilho feito por Kiko Mistrorigo, da TV Pinguim, grife na animação, ajuda a explicar o curto-circuito desencadeado pelas
declarações do professor Marco Aurélio Garcia.
"Estou fora dessa curva que
ele vê", retruca Mistrorigo. A
série infantil "Peixonauta",
criada pela TV Pinguim, pegou
mão oposta à da "4ª Frota".
Comprado pela Discovery
Kids, o programa levou bonecos e cenários brasileiros para
vários cantos do mundo.
"Quando começamos a tentar
vender o "Peixonauta" lá fora,
era difícil explicar por que ninguém aqui tinha comprado",
diz. Destino semelhante tiveram "Escola para Cachorro"
(Nickelodeon) e "Princesas do
Mar" (Discovery Kids).
Fora do universo dos bonecos e bichos, tem-se "9 MM"
(Fox), "Mandrake", "Filhos do
Carnaval" e "Alice" (HBO).
O empurrão às coproduções
foi dado por um mecanismo
que oferece benefício fiscal às
programadoras estrangeiras
que destinem parte do lucro a
obras brasileiras.
"Está comprovado que os
programas nacionais dão uma
média de audiência acima dos
outros", diz Roberto d'Ávila,
produtor de "9 MM". "Se não
investem mais é porque o tamanho dessas empresas, no
Brasil, é incompatível com o
custo de uma produção. E, é
claro, procuram um produto
que possa se adequar à grade."
Essa adequação é, não raro, a
pedra no caminho que os produtores encontram antes de
cruzar a porta das emissoras.
"Já tentei fazer seriados, mas
eles querem formatar tudo do
jeito deles", reclama o cineasta
Domingos Oliveira.
"Cabe aos produtores criar
produtos que sejam interessantes para as emissoras", rebate o diretor Bruno Barreto.
"E ninguém pode dizer que a
TV a cabo não se abre para a
criatividade. Sabemos muito
bem que, hoje, as estruturas
não maniqueístas e a imprevisibilidade mudaram do cinema
de Hollywood para a TV. O
Marco Aurélio [Garcia] deveria
ver TV antes de falar."
(ANA PAULA SOUSA)
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