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CINEMA
Terceiro longa-metragem dirigido por Quentin Tarantino foi recebido sem euforia, ontem, no festival alemão
"Jackie Brown" não empolga Berlim
AMIR LABAKI
enviado especial a Berlim
Quentin Tarantino fez bem em
cancelar sua vinda ao Festival de
Berlim. Seu terceiro longa-metragem, "Jackie Brown", lotou ontem
salas, mas foi recebido sem euforia. Berlim repete o Oscar. Mais
uma volta por cima é cancelada.
Reconheça-se, de saída, que
"Jackie Brown" é o menos impactante dos trabalhos de Tarantino.
Não se trata propriamente de um
filme ruim, mas sim de uma obra
sem surpresas.
Tarantino engana-se redondamente ao afirmar que "Jackie
Brown" nada tem a ver com "Pulp
Fiction", que nada tem a ver com
"Cães de Aluguel".
Seu novo filme é a síntese evidente dos dois anteriores. A trama, extraída do romance "Ponche
de Rum", de Elmore Leonard, parece soltar a fauna de "Pulp Fiction" em outra história de golpes
emaranhados, como em "Cães de
Aluguel".
Uma aeromoça (Pam Grier, rainha do cinema negro dos anos 70)
traz ilegalmente dinheiro do México para um traficante de armas
(Samuel L. Jackson).
Descoberta pela polícia, busca
um jeito de fingir colaborar, escapar da cadeia e ainda levar um troco. Para tanto, alia-se ao mesmo
advogado chave-de-cadeia (o veterano Robert Forster, indicado ao
Oscar) que serve ao chefão.
Três coadjuvantes de luxo gravitam em torno do trio principal.
Robert De Niro faz um lacônico
ex-presidiário que ajuda Jackson.
Bridget Fonda é a "bimbo" do patrão. Por fim, Michael Keaton reafirma que pode ser ator quando
quer, no papel de um hilário policial.
Em "Jackie Brown", pela primeira vez, Tarantino ousa ir além de
tipos e apostar na construção de
personagens. Os diálogos não
mais se restringem à troca de frases de efeito. A ação interioriza-se,
o ritmo ralenta-se.
Se o Tarantino-roteirista progrediu numa ponta, regrediu em outra. "Jackie" não tem a complexidade estrutural de "Pulp Fiction".
Pior: a história desenvolve-se de
forma linear até o terço final,
quando o grande golpe de Jackie é
recomposto por um esquema de
flash-backs à moda "Pulp Fiction".
Jazz e promiscuidade
Dois outros filmes apenas cumpriram tabela na competição.
"Fang Lang" (Doce Decadência),
de Lin Cheng-sheng, mistura jazz,
tédio e incesto no retrato contemporâneo de um jovem sem rumo.
Já "Jeanne et le Garçon Formidable" (Jeanne e o Garoto Formidável), de Olivier Ducastel e Jacques
Martineau, levou a disputa ao fundo do poço. É um patético musical
engajado sobre os perigos da vida
promíscua, espécie de Jacques
Demy ("Os Guarda-Chuvas do
Amor") para os tempos da Aids.
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