São Paulo, sexta-feira, 18 de março de 2005

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CDS

SAMBA POP

CD flerta com dub e post-rock, mas acerta mais no feijão-com-arroz

Em "Max de Castro", Max de Castro busca outro Max de Castro

DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL

Filho de Wilson Simonal, irmão de Simoninha, puxador do cordão da nova MPB da gravadora Trama, o carioca Max de Castro chega hoje ao seu terceiro disco na insistência de se reinventar.
"Cada disco é um registro físico. Não tenho vontade de fazer uma coisa que eu já fiz, as pessoas percebem", diz o produtor, arranjador e compositor da nova empreitada, que atende pelo nome curto e grosso de... "Max de Castro".
E se reinventar, em partes, ele consegue. Mais do que a linhagem samba-rock, big band eletrônica de seus dois trabalhos anteriores - "Samba Raro" (1999) e "Orchestra Klaxon" (2002)-, seu novo álbum embarca no dub, no nu-jazz e até em um flertezinho tímido com o post-rock.
"Tenho ouvido menos música brasileira. Tive uma fase de ouvir muita coisa de MPB obscura, mas dei um tempo. É normal a gente se reciclar", defende Max, sugerindo Lee "Scratch" Perry, Gil Evans, TV on the Radio e até um Radiohead como inspirações.
E é essa roupagem etérea que reveste faixas como "Ciranda ao Redor da Galáxia", com Naná Vasconcelos na percussão, "Iluminismo", grudenta no bom sentido, a instrumental "Pixinguinha Superstar" e "Stratosfera", em que a espacialidade se arrasta tanto que se perde na estratos... bobagem!
Por irônico -ou óbvio- que pareça, é justamente nos sambinhas mais feijão-com-arroz, ainda que "dos excluídos", como diz em "Rosa", que Max acerta.
"Silêncio no Brooklyn", com um discurso à Fred04 ("A cidade é um circo/e a platéia da arquibancada/ assiste ao show bizarro/ a vida na corda bamba/ se equilibrando no fio da navalha/ mas os carros estão salvos /no estacionamento") representa um dos pontos altos. Aqui, e esse é um dos grandes méritos da tal nova MPB, a cuíca se funde com a eletrônica, o cavaco encontra o jazz, o contrabaixo do samba se encontra com o dub e tudo gira redondo.
"Gosto de poder ter todas essas ferramentas à mão. Está tudo cada vez mais bem integrado. Tem horas que não se sabe mais o que é acústico ou eletrônica, eles têm o mesmo peso e a mesma medida, o velho e o novo", salienta.
O lustro nas gravações é resultado de suor. Max se internou por um período de seis meses nos estúdios da Trama, onde recebeu outros convidados, como Pupilo, Toca Ogan, Lan Lan, Nailor Proveta, e de lá só saiu com o disco pronto. "Tive sorte de pegar uma época em que o estúdio não estava sendo muito usado. Ia todo dia. Chegava lá no começo da tarde e só saía à noite. A música é a coisa mais importante da minha vida. É o que paga a comida do meu filho, a roupa que eu visto, a casa onde eu moro", discursa, incorporando o espírito de classe também sublinhado em "Ciranda..." e "Vontade de Potência", na qual, com um riff redondo de guitarra, propõe autocrítica a seus pares: "O poder corrompe, sim, o juízo livre da razão".
Em outros momentos, como em "Stereo" e "Teia Dramática", a bola volta a cair. Porque talvez o mais difícil na tarefa de se reinventar seja acertar a dose.


Max de Castro
  
Artista: Max de Castro
Gravadora: Trama
Preço: R$ 30, em média


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