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CDS
SAMBA POP
CD flerta com dub e post-rock, mas acerta mais no feijão-com-arroz
Em "Max de Castro", Max de Castro busca outro Max de Castro
DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL
Filho de Wilson Simonal, irmão
de Simoninha, puxador do cordão da nova MPB da gravadora
Trama, o carioca Max de Castro
chega hoje ao seu terceiro disco
na insistência de se reinventar.
"Cada disco é um registro físico.
Não tenho vontade de fazer uma
coisa que eu já fiz, as pessoas percebem", diz o produtor, arranjador e compositor da nova empreitada, que atende pelo nome curto
e grosso de... "Max de Castro".
E se reinventar, em partes, ele
consegue. Mais do que a linhagem
samba-rock, big band eletrônica
de seus dois trabalhos anteriores
- "Samba Raro" (1999) e "Orchestra Klaxon" (2002)-, seu novo álbum embarca no dub, no nu-jazz e até em um flertezinho tímido com o post-rock.
"Tenho ouvido menos música
brasileira. Tive uma fase de ouvir
muita coisa de MPB obscura, mas
dei um tempo. É normal a gente
se reciclar", defende Max, sugerindo Lee "Scratch" Perry, Gil
Evans, TV on the Radio e até um
Radiohead como inspirações.
E é essa roupagem etérea que reveste faixas como "Ciranda ao Redor da Galáxia", com Naná Vasconcelos na percussão, "Iluminismo", grudenta no bom sentido, a
instrumental "Pixinguinha Superstar" e "Stratosfera", em que a
espacialidade se arrasta tanto que
se perde na estratos... bobagem!
Por irônico -ou óbvio- que
pareça, é justamente nos sambinhas mais feijão-com-arroz, ainda que "dos excluídos", como diz
em "Rosa", que Max acerta.
"Silêncio no Brooklyn", com
um discurso à Fred04 ("A cidade
é um circo/e a platéia da arquibancada/ assiste ao show bizarro/
a vida na corda bamba/ se equilibrando no fio da navalha/ mas os
carros estão salvos /no estacionamento") representa um dos pontos altos. Aqui, e esse é um dos
grandes méritos da tal nova MPB,
a cuíca se funde com a eletrônica,
o cavaco encontra o jazz, o contrabaixo do samba se encontra
com o dub e tudo gira redondo.
"Gosto de poder ter todas essas
ferramentas à mão. Está tudo cada vez mais bem integrado. Tem
horas que não se sabe mais o que é
acústico ou eletrônica, eles têm o
mesmo peso e a mesma medida, o
velho e o novo", salienta.
O lustro nas gravações é resultado de suor. Max se internou por
um período de seis meses nos estúdios da Trama, onde recebeu
outros convidados, como Pupilo,
Toca Ogan, Lan Lan, Nailor Proveta, e de lá só saiu com o disco
pronto. "Tive sorte de pegar uma
época em que o estúdio não estava sendo muito usado. Ia todo dia.
Chegava lá no começo da tarde e
só saía à noite. A música é a coisa
mais importante da minha vida. É
o que paga a comida do meu filho,
a roupa que eu visto, a casa onde
eu moro", discursa, incorporando o espírito de classe também sublinhado em "Ciranda..." e "Vontade de Potência", na qual, com
um riff redondo de guitarra, propõe autocrítica a seus pares: "O
poder corrompe, sim, o juízo livre
da razão".
Em outros momentos, como
em "Stereo" e "Teia Dramática", a
bola volta a cair. Porque talvez o
mais difícil na tarefa de se reinventar seja acertar a dose.
Max de Castro
Artista: Max de Castro
Gravadora: Trama
Preço: R$ 30, em média
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