São Paulo, sexta-feira, 18 de março de 2005

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ERIKA PALOMINO

MODA OLHA (DE NOVO) PARA A NOITE

Acha que acabou? Os desfiles continuam -agora é a vez da Casa de Criadores, que rola de hoje a domingo em nova e absurdinha locação, o hospital Humberto Primo (al. Rio Claro, 190, Bela Vista).
A idéia é misturar moda com música, performances e shows. Os desfiles rolam na sala de parto e na capela, além do jardim do hospital. Herchcovitch já desfilou lá nos anos 90.
E quem desfila na capela é justamente o profano Walério Araujo, mestre da montação. E ele assume de vez sua inspiração na noite (clubbers, travas e glamourosas em geral), homenageando a inesquecível Andréia de Maio. Morta em 2000, ela era a maternal dona da boate Prohibidu's, na Amaral Gurgel.
"Não dava pra não falar dela", conta Araujo, que fez uma camiseta estampada com a foto de Andréia.
Entre os nomes recentes que o evento revelou, Rita Wainer e Priscilla Darolt. As duas saíram nesta edição -é verdade que vão fazer falta.
E o babado continua forte. A nova estilista Juliana Jabour, hit de vendas da Pelu, estréia amanhã sob o tema "Disco", com um bar de verdade funcionando dentro da sala de desfile e servindo dry martíni. Tá bom para o Zarif!!
Já a marca Gêmeas, das irmãs Carol e Isadora Fóes, personagens cativos do underground eletrônico da cidade, desfila inspirada na vida de Christiane F. Ajudada pelo momentinho minimalista da moda atual, a grife deverá agradar.
Para completar essa atmosfera musical, quem vem cobrir o evento é o jornalista e DJ Jonty Scruff, da cena club-kid de Nova York, que escreve para o descolado zine on-line scruff.com. Ele toca domingo no evento.


Colaborou Sergio Amaral

@ - epalomino@folhasp.com.br

CONVERSINHA

Cruzei com o apresentador e jornalista Zeca Camargo no meio do SoHo londrino. E eu nem sabia que ele estava lá, de férias. Conseguimos jantar depois num restaurante hype na Charlotte Street. Na saída, emendamos num lugar ali perto, onde Zeca foi reconhecido e passou de anônimo a celebridade. Como acho absurdo encontrar com pessoas conhecidas numa cidade do tamanho de Londres, fiz questão de aproveitar para fazer essa conversinha sobre assédio, fama e sobre o mundo, já que ele é viajandão profissional.
 

Folha - É igual esbarrar com as pessoas em Londres, em São Paulo e no Rio?
Zeca Camargo -
No Brasil é mais fácil. Aqui, você que é conhecido vira um instrumento público de matar a saudade da pessoa. A reação é muito mais efusiva, mais forte.
Folha - E em relação ao Rio? Lá as pessoas estão acostumadas a cruzar com os artistas, e ninguém liga se é a Glória Pires ou a Glória Menezes.
Camargo -
Ou a Gloria Maria!
Folha - Ou a Gloria Maria!
Camargo -
No Rio, os espaços onde as pessoas circulam são mais limitados, se esbarra mais em pessoas conhecidas.
Folha - Como é ser uma celebridade paulistana no Rio?
Camargo -
Ahhhh! Sabia que ia chegar a isso. Tem que brincar com isso. Há uma antipatia atávica entre Rio e São Paulo, que é uma bobagem. Tem gente interessante em São Paulo, no Rio, em Bancoc, em Londres... As pessoas são ótimas em qualquer lugar!

ARTE EM LONDRES ABRE PORTAS DA PERCEPÇÃO
Depois dos desfiles de Paris, fui fazer pesquisa e ver como está Londres. Quer saber? Está incrível, e eu poderia fazer uma coluna inteira de tudo o que vi.
Para falar a verdade, não me interessei por nenhum dos DJs que estavam tocando por lá, então decidi fazer uma programação diurna com muitas exposições de arte. Que me abriram (mais) as portas da percepção.
Na Tate Modern, perdi a fala diante de uma mostra do Beuys que não me atrevo a comentar -nem tenho erudição para isso. Mas posso falar da instalação "Raw Materials", de Bruce Nauman (no térreo do sensacional prédio da dupla de arquitetos Herzog & De Meuron, os mesmos da Prada Tóquio). Bem, ao menos descrever, sem pretensão. Ele colocou 22 gravações, espalhadas em alto-falantes laterais, que logo na entrada surpreendem: "Thank you, thank you, thank you".
Aos poucos, ele vai criando uma tessitura sonora, transformando as palavras em esculturas, palpáveis na sua mente. Impossível não se aproximar para ouvir melhor, e elas têm, intencionalmente, diferentes volumes e idiomas. Tem até português, na fala "amazing luminous fountain" ("o verdadeiro artista é uma fonte luminosa", famosa frase criada por ele em 67). Ao caminhar pelo espaço, lentamente, as passagens e sons, fora de seu contexto, trazem ironia e sublimação.


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