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"O CASAMENTO DE ROMEU E JULIETA"
Esquematismo sabota vitalidade
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
O romance entre um corintiano e uma palmeirense,
provenientes de famílias arraigadamente fanáticas por seus clubes, poderia suscitar uma comédia de costumes das boas -e há
momentos em "O Casamento de
Romeu e Julieta" que deixam entrever essa possibilidade.
Mas Bruno Barreto preferiu a
comédia romântica, que é mais a
sua praia. Uma praia segura e sem
ondas, onde cada banhista recebe
uma bóia, mesmo que a água só
lhe chegue aos joelhos. Todo cuidado é pouco quando o objetivo é
alcançar uma grande bilheteria.
O título já diz tudo: o freguês conhece esse amor impossível há
410 anos, mas, para que ninguém
se afaste do filme por temor ao
desfecho trágico da peça de William Shakespeare, os produtores
se apressam em dizer que aqui o
final será adequadamente feliz.
A opção dos Barreto levou-os a
eliminar quase tudo o que pudesse haver de ambigüidade na história e nos personagens, reduzindo
tudo a um esquematismo de novela das sete. Um exemplo: ao pai
de Julieta, o palestrino doente Baragatti (Luiz Gustavo), corresponde simetricamente a avó de
Romeu, igualmente ensandecida
pelo seu Timão -ambos intolerantes como suas matrizes, os Capuleto e os Montecchio.
Até aí tudo bem: toda comédia
romântica precisa de um certo
grau de simplificação dramática,
de uma certa quantidade de estereótipos, para pôr em funcionamento seu jogo.
O problema é que Barreto não
deixa espaço para o espectador
nadar por conta própria: vai logo
entregando as bóias.
Esse zelo excessivo produz cenas constrangedoras como a de
Romeu (Marco Ricca), um oftalmologista, conversando no carro
com uma imagem de são Jorge,
para que todos fiquem sabendo,
sem nenhuma margem de dúvida, o que ele sente por Julieta
(Luana Piovani).
Dito assim, parece que não há
vida no filme, mas há. As cenas
em estádios são belas e vibrantes,
das melhores que nosso cinema já
realizou. E a seqüência da viagem
de Romeu a Tóquio, travestido de
palmeirense, para assistir à final
do Mundial interclubes, é de
grande comédia.
À parte isso, Luiz Gustavo constrói um Baragatti irresistível, pleno de verdade, superando com
seu talento e sua vitalidade o caráter unidimensional do personagem. Com Renato Consorte, notável no papel de um craque do
passado, ele forma uma dupla que
parece saída de um filme de Ugo
Giorgetti -indicando o que poderia ser a tal comédia de costumes potencialmente contida no argumento do filme.
O Casamento de Romeu e Julieta
Direção: Bruno Barreto
Produção: Brasil, 2004
Com: Luana Piovani, Marco Ricca
Quando: a partir de hoje nos cines
Bristol, Eldorado, Interlagos e circuito
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