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"Cobrir o papa é uma questão de ibope"
Presidente da Record diz que a emissora decidiu dar espaço à visita do líder católico ao país para não perder audiência
Alexandre Raposo nega que decisão vise apagar imagem do chute na santa; pontífice é parte da guerra contra a Globo, assim como o futebol
DA REPORTAGEM LOCAL
Ex-católico, atual fiel da
evangélica Igreja Universal do
Reino de Deus, Alexandre Raposo assumiu a presidência da
Record com menos de 34 anos.
Dois anos e meio depois, comemora o segundo lugar no Ibope
e planeja ultrapassar a Globo
em "não menos do que cinco
anos e não mais do que dez".
Convicto no projeto de descolar a imagem da Record da
igreja evangélica, Raposo diz
que a emissora decidiu cobrir
amplamente a visita do papa ao
Brasil, em maio, com o objetivo
de não perder audiência.
Em entrevista à Folha, diz
que trabalha para conseguir o
futebol nacional, hoje exibido
pela Globo, fala sobre o novo
canal Record News e os laços
com a Universal.
(LAURA MATTOS)
FOLHA - Qual é o projeto da Record
para tirar o futebol da Globo?
ALEXANDRE RAPOSO - Estamos
mostrando aos clubes que o futebol tem vida própria fora da
emissora líder. Quando o jogo é
exibido às 20h30, como fazemos com os campeonatos Catarinense e Baiano, chega a ganhar da Globo. Temos também uma proposta para que os campeonatos sejam divididos entre
as emissoras. Cada uma fica
com um número de jogos. Uma
pode transmitir na quarta, outra na quinta. Haverá uma exposição muito maior. A questão
é ver quanto os dirigentes estão
preocupados com o futebol.
FOLHA - Mas a Record já ofereceu
R$ 500 milhões pelo Campeonato
Brasileiro de 2009 para ter exclusividade de todos os jogos e não para dividi-los com outra rede, certo?
RAPOSO - A gente não sentou
ainda para discutir um número.
Estamos dizendo que queremos comprar. Se a emissora líder não topa dividir os jogos,
estamos dispostos a pagar por
tudo, até por "pay per view".
FOLHA - O fato de a Record não ter
canal pago prejudica a negociação?
RAPOSO - Se tivéssemos os direitos, poderíamos negociá-los
com a Sky e até com o SporTV
[canal pago da Globo]. Não entendo qual é a dificuldade. Nós
oferecemos mais [do que a Globo] pelo Campeonato Paulista
e não levamos. O que está por
trás dessa história?
FOLHA - Valores altos oferecidos
pela Record, como à Olimpíada, talvez não sejam pagos com o lucro
que virá da publicidade do evento. O
objetivo é ganhar em imagem?
RAPOSO - Até 2012 dá para vender publicidade tranqüilamente. Mas, ainda que isso não fosse possível, valeria pelo valor
agregado à marca da Record,
pela visibilidade, quebra de paradigma. Hoje todo mundo diz
que futebol é em tal emissora,
que Copa é em tal emissora.
FOLHA - A Record comprou a rede
gaúcha Guaíba, com jornal, rádio e
TV. Qual é o objetivo da expansão?
RAPOSO - A consolidação da
marca. Quando se tem uma estrutura de mídia muito mais
complexa do que só um canal
de TV, há mais repercussão.
FOLHA - A Record enviou equipes
para padronizar o jornalismo em outros Estados. No Nordeste, onde a
rede não tem canal próprio, só afiliadas, estão os mais sensacionalistas.
RAPOSO - Temos conversados
com os afiliados para que evitem o sensacionalismo. Eu morei no Nordeste e lhe digo: às
vezes lá uma reportagem um
pouco mais dura é natural para
eles. Choca aqui e lá, não. Nem
por isso, as pessoas devem explorar a miséria dos outros. Estamos acompanhando e não temos visto nenhuma aberração.
FOLHA - A cobertura da visita do
papa ao Brasil, que a princípio seria
discreta, será ampla por determinação de Edir Macedo. Por quê?
RAPOSO - Não [risos], isso foi
uma decisão nossa. Nós e o jornalismo analisamos que seria
interessante do ponto de vista
de audiência. Já cobrimos o papa outras vezes, isso é um mito.
FOLHA - Missas serão exibidas?
RAPOSO - O jornalismo deve
transmitir, senão na íntegra,
pelo menos os principais trechos. O Douglas Tavolaro [diretor de jornalismo] me disse que
seria muito interessante a gente fazer o máximo de cobertura
para manter a audiência e atender a expectativa do público.
FOLHA - É uma mudança grande se
pensarmos no chute na santa, não?
RAPOSO - Ah, mas ali não foi a
Record. Foi uma pessoa num
horário vendido para a Igreja
Universal. Foi um lance isolado
num programa que dava traço
[audiência baixa], que só teve
repercussão porque os nossos
concorrentes tinham interesse
em repercutir a história e atribuí-la à Record.
FOLHA - A emissora quer deixar
programas da igreja só nas madrugadas em outros Estados, como fez
em SP e Rio. Por que a tentativa de
descolar a imagem da TV da igreja?
RAPOSO - O objetivo não é descolar a imagem, é questão de
benefício. Se o horário é vendido à igreja por "x", e posso produzir um programa que pode
ser comercializado por mais e
ainda me trará audiência, por
que não? A decisão é por audiência e questão econômica.
FOLHA - O canal de notícias Record
News será aberto, em UHF, ou veiculado em televisão fechada, em uma
parceria com a Telefônica/TVA?
RAPOSO - Ainda não está decidido. O certo é que estréia no
segundo semestre deste ano.
FOLHA - Dinheiro não é problema
para vocês. Do faturamento de R$ 1
bi em 2006, quanto veio da igreja?
RAPOSO - Era bom que não fosse [risos]. Quanto vale vender a
madrugada a um mesmo cliente? Vendemos também chamadas ao longo do dia para eles.
FOLHA - Por que você fala "eles"? A
Record é do bispo Edir Macedo.
RAPOSO - Porque são "eles",
que não têm a ver com a Record. O bispo é fundador da
igreja, mas não sei como funciona lá. Há hoje no mercado o
anunciante evangélico, que está na Band, Rede TV!, Gazeta.
FOLHA - É interessante o esforço de
dizer que a Record não é da igreja...
RAPOSO - Mas ela não é.
FOLHA - Mas é do dono da igreja...
RAPOSO - Não sei, o bispo é dono da igreja? Ele fundou. Mas
ainda que fosse dono da igreja,
não tem nada a ver uma coisa
com a outra. A igreja é um
cliente, não banca a Record.
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