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São Paulo repagina livrarias
Livraria da Vila abre hoje nova loja com arquitetura de "luxo"; Cultura segue a tendência nos próximos meses
Teatros, auditórios, bares e restaurantes são oferecidos como vantagens a público que poderia comprar livros na internet ou em megastores
RAFAEL CARIELLO
DA REPORTAGEM LOCAL
"Quando vão a livrarias, as
pessoas querem ler -e ser lidas
também", afirma Rui Campos,
diretor da Livraria da Travessa,
tradicional casa carioca.
A idéia de criar um ambiente
sofisticado e, ao mesmo tempo,
agradável, que prenda o consumidor e faça com que ele freqüente e permaneça na livraria
-tanto quanto comprar livros- explica em boa parte o
sucesso da Travessa. E chega
-o "conceito", como dizem publicitários- agora a São Paulo.
Com grande importância para o projeto arquitetônico e o
ambiente "sofisticado", a Livraria da Vila e a Livraria Cultura abrem novas lojas, que
nascem com a ambição de ser,
mais do que pontos de varejo,
lugares "cult" e de encontro
na cidade.
São também a resposta de redes mais tradicionais e de referência na venda de livros -para
além dos best-sellers e obras
de rápida circulação- à internet e a "megastores" como a
Fnac e a Saraiva.
De fato, se o objetivo do consumidor for apenas adquirir este ou aquele livro, o método
mais fácil é recorrer ao comércio eletrônico, em sites como
Amazon ou Submarino.
Outras grandes redes são capazes de articular a venda de livros com a de produtos eletrônicos ou até eletrodomésticos -o que descaracterizaria marcas como a da Cultura e a da Livraria da Vila. A saída de ambas foi investir em algo tão etéreo
quanto "sofisticação" e "ambiente", mas que pode ser medido e percebido, de alguma
forma, nos metros quadrados,
cafés, restaurantes, teatros e
auditórios de suas novas lojas.
Quando abrir hoje, oficialmente, as portas de sua nova loja na alameda Lorena, 1.731, a
Livraria da Vila terá a oferecer a
seus clientes cerca de 1.000 m2
divididos em três andares -um
deles dedicado às crianças e à
literatura infanto-juvenil, outro primordialmente aos livros
e um terceiro para CDs e
DVDs-, onde também se encontram um bar e um pequeno
auditório para até 70 pessoas.
Aliás, "portas" é modo de dizer. Em seu lugar, na entrada
da loja, há estantes giratórias,
repletas de livros, que se abrem
para a passagem do freguês.
Dentro, também, há livros para
todo lado -são 180 mil ao todo-, até em "estantes" inacessíveis em vãos entre os andares
e, em fotos, de "costas", como
se fossem as prateleiras vistas
por trás, nos banheiros.
A idéia do espaço da loja é do
arquiteto Isay Weinfeld, responsável por projetos de luxo
em São Paulo como a Casa
Fasano.
"Nos últimos poucos anos,
houve uma certa "sofisticação",
uma preocupação com que a livraria fosse também um lugar
gostoso, charmoso e funcional,
acompanhando a evolução do
próprio mercado editorial",
afirma Samuel Seibel, dono da
Livraria da Vila.
Sua livraria, ele diz, mudou
como os livros, que em anos recentes passaram a valorizar
mais o design das capas, ficaram "mais atraentes e bonitos",
com edições e coletâneas mais
"sofisticadas". Ele pede, no entanto, cuidado com a palavra,
para que não pareça uma preocupação fútil. "É antes de mais
nada uma questão de bom gosto. Não é "sofisticado" no sentido elitista. Não há essa preocupação", afirma Seibel.
"Ambiente de sebo"
O projeto da nova Livraria
Cultura, com abertura prevista
para os próximos meses, tem
semelhanças com o da loja de
Seibel, embora numa escala
maior. Ocupará o espaço do antigo Cine Astor, no mesmo
Conjunto Nacional, "sede" da
livraria. Terá, no entanto,
4.000 m2, em três andares, teatro para 200 pessoas -equipado com aparato para comportar peças- e um restaurante no meio da loja e galeria de arte.
Além de livros, claro.
Toda essa grandiosidade será
compatível, segundo Fernando
Brandão, arquiteto da loja, com
"um ambiente de sebo", com
luz agradável e conforto intimista para os clientes. "Não é
um supermercado de livro. Não
tem luz de supermercado. Nas
livrarias convencionais, a primeira coisa que você vê é o caixa. Na Cultura não será assim."
"Será um grande espaço acolhedor e agradável. É um lugar
de que as pessoas certamente
vão gostar de fazer parte", diz.
Por que essa preocupação
com o ambiente? Brandão afirma que "São Paulo vai ficando
uma cidade muito difícil". "As
pessoas procuram lugares
agradáveis, e as livrarias são lugares mágicos. As bibliotecas
deveriam ser esse espaço -mas
é uma pena que no Brasil não
seja assim."
Colaborou EDUARDO SIMÕES , da Reportagem
Local
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