|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Crítica
Filme mostra um Gregory Peck intelectual
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Há alguns anos não haveria
razão para ver "As Neves do
Kilimanjaro" (TCM, 16h30).
Talvez hoje não haja também
uma razão cinematográfica para encarar este filme, bastante
pesado, na verdade, que Henry
King fez em 1952.
Gregory Peck interpreta o
escritor em crise que um dia
sonhou ser um grande romancista, mas nunca foi mais do
que um cara capaz de ganhar
muito dinheiro. Será uma metáfora de Hollywood emprestada de um texto de Hemingway?
O fato é que o cinema americano da época costumava ver
Peck como a imagem do intelectual, coisa que eu não consigo. Para mim, Peck é muito
melhor ator quando faz papel
de imbecil.
Ficamos lá, na infelicidade
do escritor, em seu fracasso
afetivo e existencial, no que ele
acredita ser sua incapacidade
de fazer qualquer coisa em favor da humanidade.
Estamos nisso quando aparecem as neves, brancas, copiosas, e nos lembramos do documentário de Al Gore, do terrível momento em que aparece o
Kilimanjaro e suas neves. E
não sei nem se dá para falar no
plural: o que existe agora, a crer
na imagem que se mostra, é
uma neve rala, quando há.
E essa é uma das questões
que Al Gore, seu documentário, sua pregação e o aquecimento global suscita: uma catástrofe climática como essa
que já vivemos afeta até nossa
memória. Essas neves que um
dia esnobamos agora são um
precioso bem do homem.
Texto Anterior: Bia Abramo: Pais e filhos diante da televisão Próximo Texto: Ferreira Gullar: É o mar e o sol misturados Índice
|