São Paulo, domingo, 18 de março de 2007

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Crítica

Filme mostra um Gregory Peck intelectual

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Há alguns anos não haveria razão para ver "As Neves do Kilimanjaro" (TCM, 16h30). Talvez hoje não haja também uma razão cinematográfica para encarar este filme, bastante pesado, na verdade, que Henry King fez em 1952.
Gregory Peck interpreta o escritor em crise que um dia sonhou ser um grande romancista, mas nunca foi mais do que um cara capaz de ganhar muito dinheiro. Será uma metáfora de Hollywood emprestada de um texto de Hemingway? O fato é que o cinema americano da época costumava ver Peck como a imagem do intelectual, coisa que eu não consigo. Para mim, Peck é muito melhor ator quando faz papel de imbecil.
Ficamos lá, na infelicidade do escritor, em seu fracasso afetivo e existencial, no que ele acredita ser sua incapacidade de fazer qualquer coisa em favor da humanidade.
Estamos nisso quando aparecem as neves, brancas, copiosas, e nos lembramos do documentário de Al Gore, do terrível momento em que aparece o Kilimanjaro e suas neves. E não sei nem se dá para falar no plural: o que existe agora, a crer na imagem que se mostra, é uma neve rala, quando há.
E essa é uma das questões que Al Gore, seu documentário, sua pregação e o aquecimento global suscita: uma catástrofe climática como essa que já vivemos afeta até nossa memória. Essas neves que um dia esnobamos agora são um precioso bem do homem.


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