São Paulo, domingo, 18 de março de 2007

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Stooges retornam crus e estúpidos

Com "The Weirdness", o grupo liderado pelo vocalista Iggy Pop lança disco de inéditas após hiato de mais de 30 anos

Álbum que acaba de chegar às lojas do Brasil conserva sonoridade bruta e primária da banda e foi produzido pelo dogmático Steve Albini

THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL

A influência dos Stooges para o rock é inversamente proporcional à quantidade de discos vendidos nos anos 60/70, na primeira encarnação da banda. Muito devido à crueza e agressividade de suas músicas. Após mais de 30 anos, engana-se quem imaginava que as arestas seriam lapidadas. "The Weirdness", que acaba de chegar às lojas brasileiras, é tão bruto e direto quanto os seus antecessores.
Este quarto álbum interrompe uma hibernação que durava 34 anos, desde o problemático lançamento de "Raw Power", em 1973. Se na época a banda estava se esfacelando, com Iggy Pop sendo consumido pela heroína, hoje os Stooges voltaram reabilitados -Iggy Pop disse no mês passado ao "New York Times" que seu abuso são duas taças de Bordeaux por dia. Em 1974, os Stooges terminavam uma história que havia começado em 1967 e gerado discos ("Stooges", de 1969, e "Fun House", de 70) e faixas ("1969"; "TV Eye", "I Wanna Be Your Dog") emblemáticas.
Em retrospectiva, entende-se por que os Stooges não vingaram nos anos 60/70 -eram totalmente diferentes do que havia na música pop da época.
Estavam distantes da sofisticação melódica dos Beach Boys, das inovações propostas pelos Beatles, das viagens psicodélicas, das transformações impulsionadas pela contracultura. Os Stooges não entraram no sonho flower power -eram céticos, cínicos e valentões.
"Raw Power" levou ao fim dos Stooges e empurrou Iggy Pop em carreira solo. O vocalista voltou a se reunir com os irmãos Asheton (Scott na bateria) nas gravações de "Skull Ring" (03). Pipocaram convites para um retorno da banda, e o trio voltou aos shows, com Mike Watt no baixo.
"Não tinha mais o que fazer sozinho", disse Iggy, sobre a volta. "Nós conseguimos permanecer numa banda por um bom período em que estávamos por baixo", disse, lembrando o início dos Stooges. "São os únicos caras que conheço."
Para fazer "The Weirdness", contrataram Steve Albini, um produtor conhecido por seu dogmatismo: grava tudo ao vivo, sem mascarar falhas com truques e sem utilizar efeitos.
Se os Stooges já faziam música bruta, aqui o resultado é um rock intencionalmente primário. Mas música primária e bruta é muito mais comum hoje, e sente-se falta no álbum da sensação de urgência das canções, de riffs realmente marcantes.
Sem falar nas letras, quase todas bobas e estúpidas ("Meu pinto está se transformando numa árvore"???). Um bom achado é "My Idea of Fun": áspera sem ser simplória. Como nos velhos tempos.


THE WEIRDNESS   
Artista:
The Stooges
Lançamento: EMI
Quanto: R$ 35, em média


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