São Paulo, Quinta-feira, 18 de Março de 1999
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OSCAR 99
Críticos italianos torcem para "Central do Brasil"

CELSO FIORAVANTE
da Reportagem Local

Às vésperas da entrega do Oscar, "Central do Brasil" e Fernanda Montenegro têm torcida complementar -e especializada- do outro lado do Atlântico. Mas não se trata dos portugueses, que por afinidade linguística poderiam torcer para a ex-colônia. O reforço vem da própria Itália, onde críticos de cinema e editores de cadernos culturais torcem para que atriz e filme brasileiros saiam premiados.
Stefania Berbenni, editora de cultura da revista "Panorama", é uma das que acreditam em e torcem por "Central do Brasil", que nem sequer teve seu título traduzido para o italiano.
""Central" deve ganhar o Oscar de melhor filme estrangeiro e "A Vida É Bela" pode vencer outras categorias. Hollywood tentará encontrar a medida justa para premiar os dois", disse. Também é fã de Fernanda. "Ela realizou uma grande interpretação. Não possui concorrentes a sua altura e mereceria mil vezes ganhar."
Toni Jop, editor de cultura do jornal "L'Unità", de Roma, também opta por "Central" e vê chances de o filme sair premiado.
"Prefiro "Central", pois ele representa o retorno a uma linguagem muito próxima do neo-realismo. É sincero e sereno. Mesmo sem ter sido realizado com um grande orçamento, trata-se de um grande filme. Eu diria que ele tem boas cartas na manga", disse.
Jop, porém, é mais cético quanto ao prêmio de Fernanda. "Ela é uma grande candidata, mas o motor do voto não é o que é melhor ou pior, mas o que mais convém à indústria cinematográfica", disse.
A atriz brasileira, porém, tem fãs ardorosas entre a crítica feminina. Alessandra Mammi, editora de cultura da revista semanal "L'Espresso", disse que se surpreendeu com a atuação de Fernanda e que lhe daria o Oscar com certeza. "Infelizmente, deve lutar contra toda a indústria, que pode acabar premiando Gwyneth Paltrow, uma modelo de Calvin Klein vestida em trajes elisabetanos", disse.
Gloria Satta, crítica do jornal "Il Messagero", de Roma, também torce pela atriz. "Ela é a melhor das cinco. Sou sua torcedora fanática. Não via uma interpretação forte como a dela havia decênios", disse.
Satta, porém, acha que os milhões de dólares investidos pela Miramax na divulgação de "A Vida É Bela" nos EUA devem surtir resultados. "É provável que vença Benigni, com todos esses milhões de dólares por trás. Ficarei contente se isso acontecer, mas eu prefiro "Central do Brasil". É uma pena que não seja um combate justo, que o filme de Walter Salles não tenha as mesmas armas que o de Benigni para combater", disse.
Alfredo Boccioletti, crítico de cinema do jornal veneziano "Il Resto del Carlino", discorda das garotas e acha que o prêmio não deva ir para Fernanda Montenegro: "Ela é uma grande atriz e fez uma interpretação muito dramática, mas que não me pareceu memorável. Não acredito que vencerá", disse.
Boccioletti, porém, vê muitas chances para "Central", pois confia que "A Vida É Bela" acabará ficando com outras categorias. "Acredito que "Central" possa vencer tranquilamente. Ele toca as cordas do sentimento e isso conta na avaliação da Academia", disse.
O mais cético em relação a "Central" é Bruno Ventavoli, editor cultural do jornal "La Stampa", de Turim: ""Central" é um filme belíssimo, que nos restituiu o bom cinema brasileiro, mas talvez Benigni vença, principalmente pelas amizades potentes que tem na América. Fernanda Montenegro também é muito boa, mas a competição é entre americanos", disse.


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