São Paulo, quinta-feira, 18 de abril de 2002

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ARTES PLÁSTICAS

Reitor escolhe Elza Ajzenberg, contrariando tendência do conselho do museu pelo atual vice-diretor

Nova diretora assume hoje MAC-USP

DA REPORTAGEM LOCAL

Um dos museus mais importantes do país ganha hoje, às 17h, nova direção. Elza Ajzenberg, professora titular da Escola de Comunicações e Artes (ECA), passa a responder pelo Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo.
Ajzenberg foi escolhida pelo reitor da USP, Adolpho Melfi, a partir de uma lista tríplice indicada pelo conselho do museu, na qual seu nome recebeu só um voto.
A decisão causou polêmica, já que o conselho pendia pelo atual vice-diretor, Martin Grossmann: dos nove votos que definiam a lista tríplice, ele tinha cinco.
A nova diretora não quis se pronunciar quanto aos rumos que o museu deve tomar na sua gestão. Por meio da assessoria de imprensa da universidade, disse preferir guardar silêncio até estar empossada, em respeito ao diretor em exercício, Grossmann, cuja permanência no cargo de vice-diretor está prevista até agosto.
Apesar de nenhum plano ter sido exposto, pode-se dizer que o fato de o nome de Elza Ajzenberg ter batido a preponderante indicação de Martin Grossmann expressa um desejo de ruptura por meio da reitoria.
Em comunicado, também divulgado pela assessoria de imprensa da USP, a reitoria afirmou ser a escolha uma "prerrogativa do reitor", orientada por três critérios: análise do plano de trabalho de cada candidato, currículo de cada um e uma entrevista.

Extroversão
A opção por Grossmann representaria a continuidade do movimento de extroversão do museu universitário empreendido por Teixeira Coelho.
Ilustrando essa direção, estão as mostras que passaram a ocupar o espaço cultural da Fiesp (na avenida Paulista) e o concurso, vencido pelo arquiteto suíço Bernard Tschumi, para uma nova sede do museu, na Água Branca (região oeste de São Paulo).
Grossmann, 40, defende a posição de "abrir o MAC para a cidade e para o mundo". "A situação do museu caminharia para o MAC ser o museu mais representativo de arte contemporânea e moderna do Brasil", diz Grossmann, lembrando a reforma que modernizou as instalações, realizada por Teixeira Coelho.
O acervo do MAC, que o vice-diretor qualifica como "único", permite que, sem pedir empréstimos a instituições internacionais, o museu monte exposições que cubram praticamente qualquer período da arte moderna e contemporânea.
Destacam-se obras tão variadas como os quadros "O Enigma de um Dia" (1914), de Giorgio de Chirico, e "A Negra" (1923), de Tarsila do Amaral, ou esculturas de Boccioni, Max Bill, Victor Brecheret e Franz Weissman.
Grossmann ressalta ainda que o MAC é público e, assim, tem responsabilidade de "prestar contas" à sociedade que o mantém.
Para ele, "é um crime um museu público se fechar a uma visitação maior", possibilitada por sua expansão, tanto em mostras em outros lugares como em futura sede.
Um novo edifício para o MAC não eliminaria, mas complementaria o do campus, podendo expor uma fatia maior do acervo do museu. Abrir filiais, assinala, é tendência em museus como o nova-iorquino Guggenheim ou a londrina Tate Gallery.
O vice-diretor acha que "o projeto do novo MAC está em momento crítico", podendo passar a ocupar uma espécie de praça de museus que a USP planeja criar no campus.
Grossmann teme ainda que a nova direção não continue a aproximação que o museu vinha fazendo com a comunidade artística. Comunidade, aliás, que saiu em apoio à indicação de seu nome, em abaixo-assinado que circulou na internet na semana anterior à divulgação da lista tríplice.
Entre os que assinaram o apoio, estavam artistas como Nelson Leirner e Leda Catunda, além dos ex-diretores do museu Walter Zanini (primeira gestão, entre 63 e 78) e Aracy Amaral (de 82 a 86).
(CASSIANO ELEK MACHADO E FRANCESCA ANGIOLILLO)


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