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São Paulo, sexta-feira, 18 de abril de 2003

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MÚSICA VIGIADA

Além de barrar execução paga de canções no rádio, deputado quer coibir esquema em programas de TV

Projeto tentará proibição de jabá nas TVs

LAURA MATTOS
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL

O projeto de lei de criminalização do jabá (execução de música mediante pagamento) nas rádios também tentará proibir a prática nas emissoras de televisão.
A proposta, que está sendo elaborada pelo deputado Fernando Ferro (PT-PE) e que já conta com o apoio do ministro Gilberto Gil (Cultura), foi divulgada na terça-feira pela Folha e gerou controvérsia em gravadoras e nas principais FMs de São Paulo.
A idéia do político é proibir tanto o jabá informal, negociado na surdina, como as operações com nota fiscal, chamada pelas gravadoras de "verba de divulgação".
Críticos desse esquema, comum nas rádios, dizem que ele também é presente na TV. Afirmam que apresentações de artistas em alguns programas de auditório, por exemplo, seriam pagas.
Para Ferro, a idéia é coibir a prática independentemente do veículo. "Rádios e TVs têm a responsabilidade de ser concessões públicas." Ele enviará o projeto ao ministro Miro Teixeira (Comunicações) solicitando apoio. O texto, em estudo, poderá sugerir penas severas a quem receber jabá, incluindo perda da concessão.
A Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e TV se declarou contrária à iniciativa. "Antes, o jabá era uma gratificação dada ao programador, uma coisa escusa. Isso sempre existiu. Hoje, a operação está mais organizada. As empresas vendem seus espaços eticamente, com nota fiscal", afirmou Paulo Machado de Carvalho Neto, presidente do órgão.
Sobre as TVs, ele afirma acreditar que o jabá não exista. "O que determina a programação atualmente na televisão é audiência. Os produtores trabalham com o olho colado na tela do ibope [com audiência em tempo real"."
De acordo com Carvalho Neto, a punição proposta pelo deputado "não tem sentido". "É difícil saber se um funcionário está recebendo para selecionar a música."

Rádios
A ABPD (Associação Brasileira dos Produtores de Discos), que representa as gravadoras, mantém a decisão de não comentar o projeto. Questionado pela Folha sobre a existência do jabá, o diretor-geral da ABPD, Paulo Rosa, disse: "Nunca vi jabá. Vi muita promoção, trabalho para convencer rádio de tocar uma música. Dificilmente uma rádio sobreviveria junto a seu público se aceitasse negociações desse tipo".
Não é o que afirma o diretor da ABMI (Associação Brasileira de Música Independente), Pena Schmidt, que trabalhou em grandes gravadoras nos anos 70 e 80.
"Não tenho provas do "crime", nunca participei, mas as circunstâncias estão todas aí, todo mundo sabe", disse. "Música independente não toca em rádio por causa do jabá. Quem é independente não tem verba para isso."
Duas das FMs de maior audiência de São Paulo, Mix e Band, negaram praticar o jabá e afirmaram que, por essa razão, não são contrárias à proposta de proibi-lo.
É diferente do discurso de Antonio Rosa Neto, presidente do GPR (Grupo dos Profissionais do Rádio). Ele defende que esse tipo de receita é importante para o setor, que sofre fuga de anunciantes.
"Deve até existir rádio que vende a programação, mas essa não é a linha da Band", afirmou Acácio Luiz Costa, diretor geral da estação, que não faz parte do GPR.
Ele criticou, no entanto, o fato de o cantor Lobão estar apoiando o projeto de lei. "Pergunta ao Lobão se ele estava preocupado com jabá quando suas músicas tocavam no rádio. Pergunta para o Zezé Di Camargo se ele reclama."
Marcos Vicca, coordenador artístico da Mix, disse que a emissora "não compactua" com o jabaculê. "Estamos nesse patamar de audiência [3º lugar, segundo o Ibope] em razão do projeto artístico. Sobrevivemos exclusivamente do mercado publicitário."
Para ele, o jabá pode ser lucro rápido, fácil, mas vira prejuízo a longo prazo. "Tocar música por pagamento descaracteriza o posicionamento da rádio. Com o tempo, derruba a audiência."


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