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MÚSICA VIGIADA
Além de barrar execução paga de canções no rádio, deputado quer coibir esquema em programas de TV
Projeto tentará proibição de jabá nas TVs
LAURA MATTOS
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL
O projeto de lei de criminalização do jabá (execução de música
mediante pagamento) nas rádios
também tentará proibir a prática
nas emissoras de televisão.
A proposta, que está sendo elaborada pelo deputado Fernando
Ferro (PT-PE) e que já conta com
o apoio do ministro Gilberto Gil
(Cultura), foi divulgada na terça-feira pela Folha e gerou controvérsia em gravadoras e nas principais FMs de São Paulo.
A idéia do político é proibir tanto o jabá informal, negociado na
surdina, como as operações com
nota fiscal, chamada pelas gravadoras de "verba de divulgação".
Críticos desse esquema, comum
nas rádios, dizem que ele também
é presente na TV. Afirmam que
apresentações de artistas em alguns programas de auditório, por
exemplo, seriam pagas.
Para Ferro, a idéia é coibir a prática independentemente do veículo. "Rádios e TVs têm a responsabilidade de ser concessões públicas." Ele enviará o projeto ao
ministro Miro Teixeira (Comunicações) solicitando apoio. O texto, em estudo, poderá sugerir penas severas a quem receber jabá,
incluindo perda da concessão.
A Associação Brasileira de
Emissoras de Rádio e TV se declarou contrária à iniciativa. "Antes,
o jabá era uma gratificação dada
ao programador, uma coisa escusa. Isso sempre existiu. Hoje, a
operação está mais organizada.
As empresas vendem seus espaços eticamente, com nota fiscal",
afirmou Paulo Machado de Carvalho Neto, presidente do órgão.
Sobre as TVs, ele afirma acreditar que o jabá não exista. "O que
determina a programação atualmente na televisão é audiência. Os
produtores trabalham com o olho
colado na tela do ibope [com audiência em tempo real"."
De acordo com Carvalho Neto,
a punição proposta pelo deputado "não tem sentido". "É difícil
saber se um funcionário está recebendo para selecionar a música."
Rádios
A ABPD (Associação Brasileira
dos Produtores de Discos), que
representa as gravadoras, mantém a decisão de não comentar o
projeto. Questionado pela Folha
sobre a existência do jabá, o diretor-geral da ABPD, Paulo Rosa,
disse: "Nunca vi jabá. Vi muita
promoção, trabalho para convencer rádio de tocar uma música.
Dificilmente uma rádio sobreviveria junto a seu público se aceitasse negociações desse tipo".
Não é o que afirma o diretor da
ABMI (Associação Brasileira de
Música Independente), Pena
Schmidt, que trabalhou em grandes gravadoras nos anos 70 e 80.
"Não tenho provas do "crime",
nunca participei, mas as circunstâncias estão todas aí, todo mundo sabe", disse. "Música independente não toca em rádio por causa
do jabá. Quem é independente
não tem verba para isso."
Duas das FMs de maior audiência de São Paulo, Mix e Band, negaram praticar o jabá e afirmaram
que, por essa razão, não são contrárias à proposta de proibi-lo.
É diferente do discurso de Antonio Rosa Neto, presidente do GPR
(Grupo dos Profissionais do Rádio). Ele defende que esse tipo de
receita é importante para o setor,
que sofre fuga de anunciantes.
"Deve até existir rádio que vende a programação, mas essa não é
a linha da Band", afirmou Acácio
Luiz Costa, diretor geral da estação, que não faz parte do GPR.
Ele criticou, no entanto, o fato
de o cantor Lobão estar apoiando
o projeto de lei. "Pergunta ao Lobão se ele estava preocupado com
jabá quando suas músicas tocavam no rádio. Pergunta para o Zezé Di Camargo se ele reclama."
Marcos Vicca, coordenador artístico da Mix, disse que a emissora "não compactua" com o jabaculê. "Estamos nesse patamar de
audiência [3º lugar, segundo o
Ibope] em razão do projeto artístico. Sobrevivemos exclusivamente do mercado publicitário."
Para ele, o jabá pode ser lucro
rápido, fácil, mas vira prejuízo a
longo prazo. "Tocar música por
pagamento descaracteriza o posicionamento da rádio. Com o tempo, derruba a audiência."
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