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MERCADO EDITORIAL
Revista "Outra Coisa" abordará plágio
Lobão prepara bombardeio contra os vícios da indústria cultural
ISRAEL DO VALE
DA REPORTAGEM LOCAL
A nova trincheira escavada pelo
cantor e "franco-atiçador" Lobão,
45, em sua batalha contra os vícios e vicissitudes da indústria
cultural começa a tomar forma.
Depois de mirar, certeiro, na numeração de CDs, o velho lobo do
rock nacional oitentista junta munição para uma guerra de guerrilha em papel cuchê, com a criação
da revista "Outra Coisa".
Desenvolvida em parceria com
a emissora virtual AllTV e a editora Segmento, a publicação chegaria às bancas em maio, mês em
que a TV transmitida pela internet completa seu primeiro ano de
atividades. Chegaria. A operação
para levantar recursos e o esforço
para que o preço de banca caia
dos R$ 9,90 previstos para os R$
5,90 desejados ainda não permitem cravar uma data.
Cada edição carregará consigo
um CD. O primeiro, inédito, é a
estréia em carreira solo do rapper
B-Negão. De cada exemplar vendido, o artista receberá R$ 1. "A
maioria dos artistas ganha entre
R$ 0,08 e R$ 0,30 por disco vendido", diz Lobão. "É a nossa contribuição contra a pirataria: preço
baixo, com aumento do valor que
o artista recebe."
O duplo atrativo da revista-CD
reafirma o histórico bem-sucedido do cantor em outra frente espinhosa, a da distribuição de discos
-ainda um dos principais dilemas do mercado independente. À
margem das grandes gravadoras,
Lobão sacou da algibeira o recurso da circulação não-convencional e viu seu CD-pôster "A Vida É
Doce" transformar-se em best-seller, com 97 mil cópias vendidas
em bancas de jornal.
A ação agora é mais ambiciosa,
com foco no subtexto político
(mas não partidário). Algo próxima de uma revista-manifesto,
"Outra Coisa" tem como princípio básico a idéia de incomodar.
"Seremos os Bin Laden das igrejinhas culturais", dispara o professor universitário Marcos Barrero,
47, diretor da AllTV e um dos comandantes da operação editorial.
A reportagem de capa do primeiro número é uma bomba de
efeito moral. Será dedicada ao
plágio, a partir de um dossiê que
apontaria inúmeros casos "coincidentes" na carreira de uma das
vacas sagradas da música brasileira. O nome do artista é mantido
em sigilo, para evitar confrontos
judiciais antecipados que possam
levar ao impedimento de que a
edição circule.
Mas "Outra Coisa" não será
uma revista de música. Não apenas. Sob o slogan "rock, cultura e
idéias", abarcará também literatura, moda, turismo e cinema.
Lobão será o editor-chefe. A
edição estará sob responsabilidade do escritor e jornalista José
Paulo Lanyi, com reportagens de
jornalistas como Tom Cardoso,
Silvio Essinger e Júlio Maria.
Artistas escreverão. O esquadrão inclui cartunistas (Laerte,
Adão Iturrusgarai), cineastas
(Erik Rocha, Carlos Gerbase), escritores (Paulo Lins, Austregésilo
Carrano), músicos (Fred 04).
O que unifica tudo, segundo
Barrero, "é o caráter transgressor". "Mas não queremos uma revista raivosa, um panfleto universitário", alerta. "Nosso inconformismo é filosófico; temos que
questionar, mas com seriedade."
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