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São Paulo, sexta-feira, 18 de abril de 2003

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MERCADO EDITORIAL

Revista "Outra Coisa" abordará plágio

Lobão prepara bombardeio contra os vícios da indústria cultural

ISRAEL DO VALE
DA REPORTAGEM LOCAL

A nova trincheira escavada pelo cantor e "franco-atiçador" Lobão, 45, em sua batalha contra os vícios e vicissitudes da indústria cultural começa a tomar forma. Depois de mirar, certeiro, na numeração de CDs, o velho lobo do rock nacional oitentista junta munição para uma guerra de guerrilha em papel cuchê, com a criação da revista "Outra Coisa".
Desenvolvida em parceria com a emissora virtual AllTV e a editora Segmento, a publicação chegaria às bancas em maio, mês em que a TV transmitida pela internet completa seu primeiro ano de atividades. Chegaria. A operação para levantar recursos e o esforço para que o preço de banca caia dos R$ 9,90 previstos para os R$ 5,90 desejados ainda não permitem cravar uma data.
Cada edição carregará consigo um CD. O primeiro, inédito, é a estréia em carreira solo do rapper B-Negão. De cada exemplar vendido, o artista receberá R$ 1. "A maioria dos artistas ganha entre R$ 0,08 e R$ 0,30 por disco vendido", diz Lobão. "É a nossa contribuição contra a pirataria: preço baixo, com aumento do valor que o artista recebe."
O duplo atrativo da revista-CD reafirma o histórico bem-sucedido do cantor em outra frente espinhosa, a da distribuição de discos -ainda um dos principais dilemas do mercado independente. À margem das grandes gravadoras, Lobão sacou da algibeira o recurso da circulação não-convencional e viu seu CD-pôster "A Vida É Doce" transformar-se em best-seller, com 97 mil cópias vendidas em bancas de jornal.
A ação agora é mais ambiciosa, com foco no subtexto político (mas não partidário). Algo próxima de uma revista-manifesto, "Outra Coisa" tem como princípio básico a idéia de incomodar. "Seremos os Bin Laden das igrejinhas culturais", dispara o professor universitário Marcos Barrero, 47, diretor da AllTV e um dos comandantes da operação editorial.
A reportagem de capa do primeiro número é uma bomba de efeito moral. Será dedicada ao plágio, a partir de um dossiê que apontaria inúmeros casos "coincidentes" na carreira de uma das vacas sagradas da música brasileira. O nome do artista é mantido em sigilo, para evitar confrontos judiciais antecipados que possam levar ao impedimento de que a edição circule.
Mas "Outra Coisa" não será uma revista de música. Não apenas. Sob o slogan "rock, cultura e idéias", abarcará também literatura, moda, turismo e cinema.
Lobão será o editor-chefe. A edição estará sob responsabilidade do escritor e jornalista José Paulo Lanyi, com reportagens de jornalistas como Tom Cardoso, Silvio Essinger e Júlio Maria.
Artistas escreverão. O esquadrão inclui cartunistas (Laerte, Adão Iturrusgarai), cineastas (Erik Rocha, Carlos Gerbase), escritores (Paulo Lins, Austregésilo Carrano), músicos (Fred 04).
O que unifica tudo, segundo Barrero, "é o caráter transgressor". "Mas não queremos uma revista raivosa, um panfleto universitário", alerta. "Nosso inconformismo é filosófico; temos que questionar, mas com seriedade."


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