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São Paulo, sexta-feira, 18 de abril de 2003

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CINEMA/ESTRÉIA

"MEU PEQUENO NEGÓCIO"

Filme aborda apego excessivo ao verossímil

Com roteiro simples, longa é "quase" comédia

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Ivan Lansi é um homem quase despreocupado. Tem uma pequena porém sólida empresa de família, um filho, uma ex-mulher e uns poucos empregados com quem almoça regularmente.
Isso até o dia em que, durante o almoço, é informado de que sua oficina está em chamas. Nada que preocupe imensamente, pois seus equipamentos estão segurados. Ou antes: ele pensa que está. Maxime, seu amigo e agente de seguros, na verdade é um escroque que fica com o dinheiro e não registra a apólice na seguradora. Ou seja, até segunda ordem Ivan Lansi está quebrado.
O que fazer diante disso é o assunto desta quase comédia de Pierre Jolivet. O "quase" entra aí porque não é exatamente um filme que faz rir.
Ivan e um grupo de asseclas parte para a contravenção, que consiste em invadir o computador da seguradora e fazer o devido registro da apólice.
Temos, então, um homem impecavelmente honesto, a quem o acaso leva ao crime. Ao seu lado, Maxime, o árabe Sami, atual marido de sua ex-mulher (que vive de salário-desemprego e do dinheiro que Ivan manda à ex como pensão), e o próprio filho. Em linhas gerais, um grupo de fracassados por razões diversas.
Jolivet acumula elementos para que nós, espectadores, tenhamos uma percepção do mundo como lugar cínico, onde tudo o que se faz de certo dá errado, e tudo o que se faz de errado pode dar certo. O auge disso se verá na personagem da amante e secretária de Maxime.
No mais, a situação inicial de Ivan, e tudo em que se mete a seguir, é aflitiva o bastante para que "Meu Pequeno Negócio" tenha não poucos momentos de suspense -bem levados, no mais.
"Meu Pequeno Negócio" não faz pensar que Jolivet foi, um dia, roteirista de "Subway", de Luc Besson: tudo nele tende à simplicidade e à depuração (no que o baixo orçamento ajuda), isto é, à busca de uma precisão na mise-en-scène que despreza, para chegar àquilo que pretende dizer, o excessivo apego ao verossímil.
Mas aparenta ser, ao mesmo tempo, um pequeno vôo. Como se seu realizador se preparasse para, no futuro (o filme é de 1999), uma empresa de maior alcance.


Meu Pequeno Negócio
Ma Petite Entreprise
  
Produção: França, 2000
Direção: Pierre Jolivet
Com: Catherine Mouchet, Albert Dray e Anne Le Ny
Quando: a partir de hoje no Cinesesc



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