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CINEMA/ESTRÉIA
"MEU PEQUENO NEGÓCIO"
Filme aborda apego excessivo ao verossímil
Com roteiro simples, longa é "quase" comédia
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Ivan Lansi é um homem quase
despreocupado. Tem uma pequena porém sólida empresa de
família, um filho, uma ex-mulher
e uns poucos empregados com
quem almoça regularmente.
Isso até o dia em que, durante o
almoço, é informado de que sua
oficina está em chamas. Nada que
preocupe imensamente, pois seus
equipamentos estão segurados.
Ou antes: ele pensa que está. Maxime, seu amigo e agente de seguros,
na verdade é um escroque que fica
com o dinheiro e não registra a
apólice na seguradora. Ou seja, até
segunda ordem Ivan Lansi está
quebrado.
O que fazer diante disso é o assunto desta quase comédia de
Pierre Jolivet. O "quase" entra aí
porque não é exatamente um filme que faz rir.
Ivan e um grupo de asseclas parte para a contravenção, que consiste em invadir o computador da
seguradora e fazer o devido registro da apólice.
Temos, então, um homem impecavelmente honesto, a quem o
acaso leva ao crime. Ao seu lado,
Maxime, o árabe Sami, atual marido de sua ex-mulher (que vive de
salário-desemprego e do dinheiro
que Ivan manda à ex como pensão), e o próprio filho. Em linhas
gerais, um grupo de fracassados
por razões diversas.
Jolivet acumula elementos para
que nós, espectadores, tenhamos
uma percepção do mundo como
lugar cínico, onde tudo o que se
faz de certo dá errado, e tudo o que
se faz de errado pode dar certo. O
auge disso se verá na personagem
da amante e secretária de Maxime.
No mais, a situação inicial de
Ivan, e tudo em que se mete a seguir, é aflitiva o bastante para que
"Meu Pequeno Negócio" tenha
não poucos momentos de suspense -bem levados, no mais.
"Meu Pequeno Negócio" não faz
pensar que Jolivet foi, um dia, roteirista de "Subway", de Luc Besson: tudo nele tende à simplicidade e à depuração (no que o baixo
orçamento ajuda), isto é, à busca
de uma precisão na mise-en-scène
que despreza, para chegar àquilo
que pretende dizer, o excessivo
apego ao verossímil.
Mas aparenta ser, ao mesmo
tempo, um pequeno vôo. Como se
seu realizador se preparasse para,
no futuro (o filme é de 1999), uma
empresa de maior alcance.
Meu Pequeno Negócio
Ma Petite Entreprise
Produção: França, 2000
Direção: Pierre Jolivet
Com: Catherine Mouchet, Albert Dray e Anne Le Ny
Quando: a partir de hoje no Cinesesc
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