São Paulo, segunda-feira, 18 de abril de 2005

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SKOL BEATS

Após dois anos de falhas estruturais, evento amplia espaço, minimiza problemas e reúne mais de 57 mil clubbers no Anhembi

Festival ganha público e perde ousadia

Flávio Florido/Folha Imagem
Vista aérea do Skol Beats, evento ocorrido no Anhembi, em SP


DIEGO ASSIS
THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL

Filas quilométricas, banheiros entupidos, problemas com o som, gente saindo pelo ladrão. Essa vinha sendo a história do festival Skol Beats nos últimos dois anos. Em sua sexta edição, realizada anteontem no Anhembi, em São Paulo, muita coisa mudou.
O espaço para as tendas e palcos, que antes eram confinadas ao longo do Sambódromo, cresceu 53%, dos antigos 95 mil m2 para 167 mil m2. O público deste ano também foi maior: 57,5 mil pessoas passaram pelo evento entre as 16h de anteontem e as 9h30 de domingo, segundo os organizadores (em 2004 foram 50 mil).
Além da ampliação física, conseguida após permissão da prefeitura para interditar a avenida Olavo Fontoura e transferir três tendas para um terreno em frente ao Anhembi, houve também melhorias significativas na infra-estrutura do festival: os 950 banheiros impediram grandes congestionamentos, comidas e bebidas estiveram disponíveis do começo ao fim da maratona eletrônica.
Todas as melhorias, no entanto, pareceram ter seu motivo claro. Antes freqüentado por DJs e amantes da eletrônica menos comercial, este Skol Beats foi mais conservador musicalmente. Apesar de algumas novidades, como o trio liderado pelo escocês Mylo e o produtor alemão Anthony Rother, a escalação privilegiou artistas que já haviam se apresentado no país ou ainda que freqüentam as programações das rádios de dance music comercial.
Duas das atrações mais concorridas da noite, por exemplo, eram os sets de progressive -gênero mais digerível da house- dos ingleses Sasha e John Digweed, na tenda Club, e o pop eletrônico do grupo Faithless, que lotou pela primeira vez a área em frente ao palco principal, por volta da meia-noite.
Entre as apresentações do holandês Michel de Hey, este uma das decepções do evento, que apelou até a um Blur para dar cara mais pop ao seu set, e do escocês Mylo, que só conseguiu realmente tirar a platéia do chão na última música, o hit absoluto "Drop the Pressure", a trilha que emanava dos alto-falantes era digna de um clube da Vila Olímpia.
Dizer que a house do americano Erick Morillo, com direito ao batido remix de "Seven Nation Army", dos White Stripes, conquistou mais simpatia do público do que o tecno barulhento e bem construído do alemão Chris Liebing -sem dúvida um dos melhores da noite- ajuda a entender a mudança de perfil dos freqüentadores desta edição.
Já na manhã de domingo, utilizando laptops, pedais de efeitos e toca-discos, Chris Liebing mostrou que o tecno alemão não se resume a batidas pesadas e retas, sem muitas variações. O DJ tocou desde clássicos do tecno até novas produções, como "Alloy Mental", de Phil Kieran -esta "a" música da hora, tendo sido tocada também por Renato Cohen.
O primeiro grande momento do festival aconteceu cedo, às 19h30 de sábado. Produtor dos mais respeitáveis do planeta quando o assunto é electro, o alemão Anthony Rother apresentou-se como live PA -mostrou suas músicas ao vivo. No meio do palco principal, Rother estava cercado por 146 quilos de equipamentos, entre eles sintetizadores e microfones, e utilizou até um megafone para mostrar que o electro vai muito além de Fischerspooner e Benny Benassi -dois que se apresentaram no Skol Beats do ano passado. O set foi curto -cerca de 50 minutos. "Até subir ao palco, não tinha a menor idéia do que iria tocar", disse o produtor após sua apresentação.
Entre os DJs brasileiros, foi o drum'n'bass de Marky e Patife que mais gente levou à tenda Movement, historicamente a mais concorrida do festival. Os britânicos Zinc e Friction também deixaram boas lembranças.
As apresentações de tecno de Mau Mau e Cohen, escolhido para encerrar a festa já à luz do dia, foram não menos do que memoráveis. Cohen conseguiu levantar o cansado público com um set vibrante, em que entrou até o seu hit "Pontapé", música que, com três anos de vida, já pode ser considerada "clássica".
Em resposta aos rumores de que esta seria a última edição do Skol Beats, a organização do festival afirmou à Folha que, sim, em 2006 tem mais.

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