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ANÁLISE
Roupas refletem padrões sociais
VIVIAN WHITEMAN
EDITORA-INTERINA DE MODA
A força e o impacto visual dos
figurinos de "Mad Men" vêm,
mais do que do luxo e da beleza
dos modelos, de sua capacidade
de ilustrar as importantes mudanças de comportamento social que começaram a eclodir
durante os anos 60.
A recriação histórica precisa
e dinâmica, que inclui o cigarro
como um acessório de estilo essencial aos personagens, estão
por trás do sucesso dos figurinos assinados por Janie Bryant.
As roupas de "Mad Men"
mostram, por exemplo, como o
glamour vaporoso dos anos 50,
representado pelo "new look"
Dior e pelos vestidões de Grace
Kelly, foi aos poucos adquirindo elementos mais práticos e
silhuetas mais ajustadas ao corpo, à moda de atrizes como Audrey Hepburn. A série ilustra
também o quanto as mudanças
da moda afetam as mulheres
muito antes dos homens.
Para eles, as mudanças acontecem bem mais lentamente e
são sutis. O publicitário Don
Draper (John Hamm) faz a linha Cary Grant -com seus ternos alinhados e gravata fina, representa o padrão de estilo vigente desde o início dos anos
50. Personagens mais velhos,
como os sócios velhotes Bertram Cooper (Robert Morse) e
Lane Pryce (Jared Harris)
usam modelos mais antiquados: o primeiro, com gravatas-borboleta e o segundo, com ternos de três peças à inglesa.
Entre as mulheres, as diferenças são bem mais estereotipadas. Betty (January Jones)
encarna o ideal da dona de casa,
a mulher casada exemplar e reprimida, com seus vestidos e
saias amplos e estampas florais.
Um dos episódios mais interessantes da última temporada
mostra Betty numa viagem a
Roma e aborda diretamente o
poder de expressão das roupas.
Passeando sozinha pela cidade,
ela troca o look "mamãe" por
um tubinho preto e muda totalmente de atitude: arruma os cabelos num coque-escultural no
alto da cabeça, recorda sua antiga carreira de modelo e até
flerta com estranhos.
Outro foco fashionista da série é a poderosa Joan (Christina Hendricks), uma mulher
com sede de sucesso que tem de
se virar entre os homens num
ambiente machista. A cabeleira
ruiva ousada, símbolo de poder,
rege a escolha das roupas. As
peças, muito modernas para a
época, mais para o despojamento de Chanel do que para a
graça de Dior, têm cores vivas e
contrastantes. Verdes, vermelhos-fogo, pretinhos ousados,
rosas fortes, azuis intensos e laranjas acesos avisam que a moça não está para brincadeira.
Na próxima temporada, a série se aproxima de 1964, e a onda "mod" das minissaias deve
revolucionar parte do figurino.
Os "mad men", ao que parece,
terão novos estímulos visuais
para enlouquecerem de vez.
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