São Paulo, domingo, 18 de abril de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ANÁLISE

Roupas refletem padrões sociais

VIVIAN WHITEMAN
EDITORA-INTERINA DE MODA

A força e o impacto visual dos figurinos de "Mad Men" vêm, mais do que do luxo e da beleza dos modelos, de sua capacidade de ilustrar as importantes mudanças de comportamento social que começaram a eclodir durante os anos 60.
A recriação histórica precisa e dinâmica, que inclui o cigarro como um acessório de estilo essencial aos personagens, estão por trás do sucesso dos figurinos assinados por Janie Bryant.
As roupas de "Mad Men" mostram, por exemplo, como o glamour vaporoso dos anos 50, representado pelo "new look" Dior e pelos vestidões de Grace Kelly, foi aos poucos adquirindo elementos mais práticos e silhuetas mais ajustadas ao corpo, à moda de atrizes como Audrey Hepburn. A série ilustra também o quanto as mudanças da moda afetam as mulheres muito antes dos homens.
Para eles, as mudanças acontecem bem mais lentamente e são sutis. O publicitário Don Draper (John Hamm) faz a linha Cary Grant -com seus ternos alinhados e gravata fina, representa o padrão de estilo vigente desde o início dos anos 50. Personagens mais velhos, como os sócios velhotes Bertram Cooper (Robert Morse) e Lane Pryce (Jared Harris) usam modelos mais antiquados: o primeiro, com gravatas-borboleta e o segundo, com ternos de três peças à inglesa.
Entre as mulheres, as diferenças são bem mais estereotipadas. Betty (January Jones) encarna o ideal da dona de casa, a mulher casada exemplar e reprimida, com seus vestidos e saias amplos e estampas florais.
Um dos episódios mais interessantes da última temporada mostra Betty numa viagem a Roma e aborda diretamente o poder de expressão das roupas. Passeando sozinha pela cidade, ela troca o look "mamãe" por um tubinho preto e muda totalmente de atitude: arruma os cabelos num coque-escultural no alto da cabeça, recorda sua antiga carreira de modelo e até flerta com estranhos.
Outro foco fashionista da série é a poderosa Joan (Christina Hendricks), uma mulher com sede de sucesso que tem de se virar entre os homens num ambiente machista. A cabeleira ruiva ousada, símbolo de poder, rege a escolha das roupas. As peças, muito modernas para a época, mais para o despojamento de Chanel do que para a graça de Dior, têm cores vivas e contrastantes. Verdes, vermelhos-fogo, pretinhos ousados, rosas fortes, azuis intensos e laranjas acesos avisam que a moça não está para brincadeira.
Na próxima temporada, a série se aproxima de 1964, e a onda "mod" das minissaias deve revolucionar parte do figurino. Os "mad men", ao que parece, terão novos estímulos visuais para enlouquecerem de vez.


Texto Anterior: Beleza americana
Próximo Texto: Coleção Folha traz Adoniran Barbosa
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.