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HISTÓRIA
"CULTURA AMORDAÇADA"
Pesquisa nos arquivos também disponibiliza bancos de dados e já tem mais três volumes engatilhados
"Garimpo" no Deops vira série de livros
DA REPORTAGEM LOCAL
Com 150 mil pastas de documentos, os arquivos do Deops
guardam um pouco, ou muito, de
tudo. Com relação aos intelectuais, por exemplo, é possível encontrar desde uma importante
lista que recomenda que sejam
constantemente vigiados artistas
como Tarsila do Amaral, Di Cavalcanti e Portinari até radiografias do rim esquerdo do escritor
Geraldo Ferraz e a descrição de
um homem muito perigoso, porque anda sempre com cachorros
de origem russa.
É nesses gigantescos "achados e
perdidos" que os historiadores
Maria Luiza Tucci Carneiro e Boris Kossoy vêm trabalhando desde meados de 1996.
A empreitada leva o nome de
Proin (Projeto Integrado Arquivo/Universidade), iniciativa que
está organizando e sistematizando o acesso às centenas de milhares de documentos produzidos e
armazenados pelo Departamento
Estadual de Ordem Política e Social de 1924 a 1983, quando o órgão foi extinto.
O "garimpo" liderado pela professora Tucci Carneiro tem revelado uma boa média de "pepitas".
Pesquisas coordenadas por ela já
levantaram episódios inéditos ou
pouco conhecidos da história recente do país.
Da pesquisa no Deops saíram
trabalhos importantes como a documentação das atividades de
simpatizantes do nazismo no Estado de São Paulo ou um estudo
sobre a Shindo Renmei, sociedade formada nos anos 40 por imigrantes japoneses que não acreditavam na derrota sofrida pelo Japão durante a Segunda Guerra
(que seria tema do livro "Corações Sujos", de Fernando Morais,
lançado em 2000).
Pequisas como essas estão sendo publicadas na coleção Inventário Deops, parceria do Arquivo do
Estado com a Imprensa Oficial
(veja relação completa ao lado).
"Cultura Amordaçada", sobre a
vigília da atuação dos intelectuais,
é o oitavo volume da série, que já
tem mais três títulos prestes a serem lançados.
Os livros não são os únicos resultados públicos da pesquisa,
que atualmente movimenta 30
pesquisadores, financiados pela
Fapesp (Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado de São Paulo)
e pela Pró-Reitoria de Cultura e
Extensão Universitária da USP.
Já estão disponíveis, ainda que
com uma pequena parte das centenas de milhares de documentos
do Deops, dois bancos de dados
eletrônicos, um de textos e outro
de imagens.
Tucci Carneiro diz que acaba de
ser aprovada verba para começar
a produzir uma página de internet com o que já está sistematizado das pesquisas dos milhares de
prontuários depositados no terceiro andar do prédio do Arquivo
do Estado de São Paulo, no bairro
de Santana.
"Ali há trabalho para muitas vidas", diz a professora de história
da USP, autora de livros importantes da historiografia recente,
como "O Anti-Semitismo na Era
Vargas" (editora Perspectiva).
Especializada em Getúlio Vargas, Tucci Carneiro tem centralizado as investigações no período
que vai de 1924, ano da criação do
Deops, até o suicídio do presidente, 30 anos mais tarde.
Não há previsão por enquanto
de trabalhos abordando o período do regime militar, quando a
polícia política começa a ser chamada de Dops.
Os próximos livros da coleção
Inventário Deops vão abordar "o
perigo amarelo" -a construção
da idéia de que os japoneses eram
perigosos, no período da Segunda
Guerra-, a "revolução no campo" -atividades subversivas do
camponeses- e "na boca do sertão" -o aparato de investigação
do Deops no interior paulista.
"Os temas dentro do arquivo
são infinitos. Ainda é possível fazer estudos sobre os negros, as
mulheres, as operárias", diz Tucci
Carneiro. "Não dá para elogiar a
atuação da polícia, claro, mas é
graças a ela que ficou guardada a
memória das diversas resistências
ao autoritarismo."
(CASSIANO ELEK MACHADO)
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