São Paulo, sábado, 18 de maio de 2002

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TEATRO/TRÉPLICA

Aquilo que deve sempre prevalecer é a análise da obra

SERGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA

É preciso desmistificar a idéia de que a crítica é uma função exercida por uns poucos oniscientes e infalíveis e uma legião de charlatões usurpadores.
A crítica é uma técnica exercida, raramente em tempo integral, por gente que cada vez mais se arrisca também na criação. Por sua vez, criadores são convidados a escrever críticas e a avaliação assim produzida pode ser ou não utilizada pelo público, que sempre tem como checá-la. Nada está acima ou abaixo da crítica: tudo é ao lado dela, e o que deve prevalecer é a análise da obra.
Por isso, é pena que minha análise da montagem de "Ludwig e as Irmãs" tenha provocado uma resposta tão passional por parte de seu diretor.
O crítico deve instigar, pois o endosso pleno é tarefa do divulgador, e a condescendência é a pior forma de desprezo. Mas, quando provoca uma réplica que busca sobretudo desqualificar o crítico, um espaço precioso de jornal é desperdiçado com futilidades.
Maurício Paroni de Castro é um diretor premiado do Centro della Ricerca Teatrale de Milão, sua montagem "Náufrago", de 1996, foi prestigiada por crítica e público; não merece agora ser identificado como aquele que desautorizou o rancoroso e despreparado sr. Salvia, crítico da Folha.
Ofensas pessoais devem ser respondidas de modo pessoal, com a calma que dissolve mal-estares e mal-entendidos. Cabe aqui apenas promover o desagravo aos organizadores da Mostra de Dramaturgia do Sesi, que conseguiram a proeza de convidar boa parte da classe teatral de São Paulo sem ofender ninguém, simplesmente ao permitir que cada autor pudesse escolher seu diretor ideal.
Nunca tive razão para me ofender nem querer ofender Maurício Paroni. Há mesmo algo de lisonjeiro na sua intenção de me desqualificar enquanto crítico por ter deixado prevalecer meu lado artístico. Com todo o bom humor que a situação exige, agradeço ao colega por divulgar a informação, nunca antes publicada na Folha, de que também sou dramaturgo.
Ouvi com atenção a crítica que fez à minha crítica, esperando apenas que da próxima vez argumentos possam ser trocados. Peço desculpas às atrizes, com mais de dez anos de carreira, por tê-las chamado de iniciantes. Em minha defesa, devo dizer que não considero o termo ofensivo; prova é que nunca me sinto agredido ao ser qualificado enquanto crítico iniciante. É longo e fascinante esse processo de iniciação.
Sou obrigado, no entanto, a corrigir por minha vez a informação de que seria um iniciante sem mestre. Para citar dois entre vários, há um professor que tive na faculdade que me enche agora de responsabilidade ao aceitar dirigir um texto meu. O outro, primeiro, logo inesquecível, se chama Antunes Filho. Com ele aprendi a iconoclastia, se me permitem o jargão: uma ferramenta indispensável que coloco à disposição dos colegas de teatro.



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