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TEATRO/TRÉPLICA
Aquilo que deve sempre prevalecer é a análise da obra
SERGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA
É preciso desmistificar a
idéia de que a crítica é uma
função exercida por uns poucos
oniscientes e infalíveis e uma legião de charlatões usurpadores.
A crítica é uma técnica exercida,
raramente em tempo integral, por
gente que cada vez mais se arrisca
também na criação. Por sua vez,
criadores são convidados a escrever críticas e a avaliação assim
produzida pode ser ou não utilizada pelo público, que sempre
tem como checá-la. Nada está acima ou abaixo da crítica: tudo é ao
lado dela, e o que deve prevalecer
é a análise da obra.
Por isso, é pena que minha análise da montagem de "Ludwig e as
Irmãs" tenha provocado uma resposta tão passional por parte de
seu diretor.
O crítico deve instigar, pois o
endosso pleno é tarefa do divulgador, e a condescendência é a pior
forma de desprezo. Mas, quando
provoca uma réplica que busca
sobretudo desqualificar o crítico,
um espaço precioso de jornal é
desperdiçado com futilidades.
Maurício Paroni de Castro é um
diretor premiado do Centro della
Ricerca Teatrale de Milão, sua
montagem "Náufrago", de 1996,
foi prestigiada por crítica e público; não merece agora ser identificado como aquele que desautorizou o rancoroso e despreparado
sr. Salvia, crítico da Folha.
Ofensas pessoais devem ser respondidas de modo pessoal, com a
calma que dissolve mal-estares e
mal-entendidos. Cabe aqui apenas promover o desagravo aos organizadores da Mostra de Dramaturgia do Sesi, que conseguiram a
proeza de convidar boa parte da
classe teatral de São Paulo sem
ofender ninguém, simplesmente
ao permitir que cada autor pudesse escolher seu diretor ideal.
Nunca tive razão para me ofender nem querer ofender Maurício
Paroni. Há mesmo algo de lisonjeiro na sua intenção de me desqualificar enquanto crítico por ter
deixado prevalecer meu lado artístico. Com todo o bom humor
que a situação exige, agradeço ao
colega por divulgar a informação,
nunca antes publicada na Folha,
de que também sou dramaturgo.
Ouvi com atenção a crítica que
fez à minha crítica, esperando
apenas que da próxima vez argumentos possam ser trocados. Peço desculpas às atrizes, com mais
de dez anos de carreira, por tê-las
chamado de iniciantes. Em minha
defesa, devo dizer que não considero o termo ofensivo; prova é
que nunca me sinto agredido ao
ser qualificado enquanto crítico
iniciante. É longo e fascinante esse
processo de iniciação.
Sou obrigado, no entanto, a corrigir por minha vez a informação
de que seria um iniciante sem
mestre. Para citar dois entre vários, há um professor que tive na
faculdade que me enche agora de
responsabilidade ao aceitar dirigir um texto meu. O outro, primeiro, logo inesquecível, se chama Antunes Filho. Com ele
aprendi a iconoclastia, se me permitem o jargão: uma ferramenta
indispensável que coloco à disposição dos colegas de teatro.
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