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EVENTO
Cerca de 400 mil compareceram; Gilberto Gil participou do encontro espanhol com show "diplomático"
Carlinhos Brown leva Carnaval ao Fórum das Culturas
IVAN PADILLA
FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM BARCELONA
Não era o circuito Barra-Ondina, mas sim o Passeio de Gràcia, a
avenida mais elegante de Barcelona, projetada por Ildefons Cerdà.
Entre lojas de alta-costura e edifícios modernistas, cerca de 400 mil
pessoas se aglomeraram para ver
e ouvir o trio elétrico de Carlinhos
Brown, na tarde do último sábado, como parte da programação
do Fórum das Culturas.
A idéia era promover um imenso Carnaval de rua. Foi quase isso.
As brasileiras requebravam os
quadris, mas os espanhóis, perplexos, pouco se mexiam. O evento durou quase cinco horas, em
vez das três previstas. "O show é
para caminharmos juntos, não
para ficarmos parados", disse
Brown mais de uma vez.
Protegidos por seguranças,
Brown e um grupo de 39 músicos
cantaram e tocaram, com os pés
no asfalto, músicas do disco "Carlito Marrón", sucessos como "Já
Sei Namorar" e até o hino catalão
"Els Segradors". A parte de cima
do Camarote Andante, um caminhão de 26 metros decorado com
duas enormes serpentes, transportado em navio de Salvador a
Bilbao, ficou reservada a convidados. Um dos mais animados era o
prefeito Joan Clós.
O primeiro fim de semana do
Fórum das Culturas foi brasileiro.
Além do Carnaval de Brown, a
outra grande atração foi Gilberto
Gil. Como ministro, ele participou do diálogo "A Memória
Compartilhada". Enquanto a
guatemalteca Rigoberta Menchú
e o argentino Adolfo Pérez Esquivel, prêmios Nobel da Paz, falaram de temas como terrorismo e
ressaltaram a importância das reformas da ONU e do FMI, Gil recitou em português um poema de
Waly Salomão, citou pensamentos de Gilberto Freyre e fez referência a Ramón Llull, escritor catalão do século 13. O público parecia não entender a mensagem, pela complexidade do discurso.
Gil conseguiu se comunicar melhor através da música. Em dois
espetáculos ao ar livre, nas noites
de sexta e sábado, misturou sucessos antigos com músicas mais
engajadas. "O repertório foi bastante diplomático. Foi o mesmo
do show que fiz no ano passado,
na ONU, em homenagem às vítimas do Iraque", disse Gil, em conversa com jornalistas brasileiros.
Não faltaram "Imagine" e "Nos
Barracos da Cidade". O ponto alto
foi "Asa Branca", pontuada por
gritinhos e coreografada com saltinhos com uma perna só. "Esse é
o ministro da Cultura do Brasil?
Vocês têm certeza?", comentavam, incrédulas, três espanholas.
Os brasileiros levantaram a audiência do fórum, bastante baixa
na primeira semana devido às
chuvas e a uma certa desconfiança do público em relação a um
evento tão inovador. Os organizadores acertaram na escolha dos
músicos. Brown ficou conhecido
na Espanha com o sucesso dos
Tribalistas. O conjunto é anunciado como "o encontro dos três
grandes da música brasileira".
Gil é mais do que consagrado na
Europa. Pere Pinyol, diretor de
programação de espetáculos no
fórum, havia sugerido um encontro dos músicos no trio elétrico.
"Acho que há jeitos melhores de
se fazerem as coisas...", desconversou Gil.
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