São Paulo, terça-feira, 18 de maio de 2004

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EVENTO

Cerca de 400 mil compareceram; Gilberto Gil participou do encontro espanhol com show "diplomático"

Carlinhos Brown leva Carnaval ao Fórum das Culturas

IVAN PADILLA
FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM BARCELONA

Não era o circuito Barra-Ondina, mas sim o Passeio de Gràcia, a avenida mais elegante de Barcelona, projetada por Ildefons Cerdà. Entre lojas de alta-costura e edifícios modernistas, cerca de 400 mil pessoas se aglomeraram para ver e ouvir o trio elétrico de Carlinhos Brown, na tarde do último sábado, como parte da programação do Fórum das Culturas.
A idéia era promover um imenso Carnaval de rua. Foi quase isso. As brasileiras requebravam os quadris, mas os espanhóis, perplexos, pouco se mexiam. O evento durou quase cinco horas, em vez das três previstas. "O show é para caminharmos juntos, não para ficarmos parados", disse Brown mais de uma vez.
Protegidos por seguranças, Brown e um grupo de 39 músicos cantaram e tocaram, com os pés no asfalto, músicas do disco "Carlito Marrón", sucessos como "Já Sei Namorar" e até o hino catalão "Els Segradors". A parte de cima do Camarote Andante, um caminhão de 26 metros decorado com duas enormes serpentes, transportado em navio de Salvador a Bilbao, ficou reservada a convidados. Um dos mais animados era o prefeito Joan Clós.
O primeiro fim de semana do Fórum das Culturas foi brasileiro. Além do Carnaval de Brown, a outra grande atração foi Gilberto Gil. Como ministro, ele participou do diálogo "A Memória Compartilhada". Enquanto a guatemalteca Rigoberta Menchú e o argentino Adolfo Pérez Esquivel, prêmios Nobel da Paz, falaram de temas como terrorismo e ressaltaram a importância das reformas da ONU e do FMI, Gil recitou em português um poema de Waly Salomão, citou pensamentos de Gilberto Freyre e fez referência a Ramón Llull, escritor catalão do século 13. O público parecia não entender a mensagem, pela complexidade do discurso.
Gil conseguiu se comunicar melhor através da música. Em dois espetáculos ao ar livre, nas noites de sexta e sábado, misturou sucessos antigos com músicas mais engajadas. "O repertório foi bastante diplomático. Foi o mesmo do show que fiz no ano passado, na ONU, em homenagem às vítimas do Iraque", disse Gil, em conversa com jornalistas brasileiros.
Não faltaram "Imagine" e "Nos Barracos da Cidade". O ponto alto foi "Asa Branca", pontuada por gritinhos e coreografada com saltinhos com uma perna só. "Esse é o ministro da Cultura do Brasil? Vocês têm certeza?", comentavam, incrédulas, três espanholas.
Os brasileiros levantaram a audiência do fórum, bastante baixa na primeira semana devido às chuvas e a uma certa desconfiança do público em relação a um evento tão inovador. Os organizadores acertaram na escolha dos músicos. Brown ficou conhecido na Espanha com o sucesso dos Tribalistas. O conjunto é anunciado como "o encontro dos três grandes da música brasileira".
Gil é mais do que consagrado na Europa. Pere Pinyol, diretor de programação de espetáculos no fórum, havia sugerido um encontro dos músicos no trio elétrico. "Acho que há jeitos melhores de se fazerem as coisas...", desconversou Gil.


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