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ARTES
"Tesouros de Etchmiadzin", na Pinacoteca, torna-se ponto de atração para 50 mil descendentes que vivem em São Paulo
Comunidade armênia peregrina até exposição
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
Foi com o filme "Ararat" (2002)
que o diretor canadense Atom
Egoyan tratou de suas raízes armênias. A produção, sobre o genocídio de 1,5 milhão de armênios pelo Exército turco, entre
1915 e 1922, é exibida, hoje, na Pinacoteca do Estado, como evento
paralelo à mostra "Tesouros de
Etchmiadzin", que trata justamente da cultura armênia.
Não por acaso, esse percurso
em busca das origens tem sido
uma constante entre os visitantes
da exposição.
"Vim porque meu coração
mandou", afirmou, na última
quinta-feira, Elizabeth Simonian,
paulistana filha de armênios. Desde que foi inaugurada, no último
dia 7, a mostra tornou-se um centro de peregrinação de armênios e
seus descendentes, como Simonian: "Estou muito emocionada.
Muito do que vejo aqui aprendi
com meus pais, que chegaram em
São Paulo, após o genocídio. Raízes são raízes".
Apesar de não contar com monitores, graças à visitação de descendentes de armênios, até os seguranças da exposição andam bem informados sobre o conteúdo da mostra. "Há muitas pessoas
que nos contam o significado do
que está exposto aqui, alguns até
lêem os textos em armênio escritos em algumas peças", conta
Marcelo Luiz Quatrini, um dos seguranças de "Tesouros de Etchmiadzin".
Quem se aproxima da réplica da
lança que teria ferido Cristo na
cruz pode ouvir de Quatrini que
"a original se encontra na Armênia, de onde nunca sai, e que a peça só é exposta a cada 15 anos".
"Um dos papéis do museu é
apresentar culturas diversas, distantes da nossa. Fico fascinado
que, em tempos de globalização,
ainda haja culturas a serem descobertas, tão singulares e específicas
como a armênia", diz o diretor da
Pinacoteca, Marcelo Araújo. Para
ele, um dos trunfos da exposição é
retratar a cultura de um grupo
que vive próximo à Pinacoteca:
"Essa é uma região histórica onde
se instalou a comunidade armênia, suas igrejas estão por aqui, a
proximidade é imediata".
Religião é, aliás, o tema central
da exposição, que apresenta um
conjunto de objetos litúrgicos do
acervo do Museu da Santa Sé de
Etchmiadzin. Sendo assim, torna-se normal que a palavra "peregrinação" seja mais do que adequada para se referir à visitação da
mostra. E religiosos não faltam
nessa empreitada. Agop Basmacilar, 76, arquidiácono da Igreja
Apostólica Armênia, em São Paulo, visitava, pela segunda vez, a
mostra, na última quarta. Orgulhoso, Basmacilar contou que a
trilha sonora da exposição "é a
mesma que eu canto lá na igreja".
A mostra, segundo a diplomata
Helena Gasparian, também descendente de armênios, foi organizada "em tempo recorde": "Nossa
primeira reunião ocorreu em fevereiro. Em menos de quatro meses conseguimos montar tudo.
Foi um milagre".
Em sua maioria, os imigrantes
armênios chegaram ao Brasil em
1926, fugindo do genocídio. Hoje,
segundo Ochin Leon Mosditchian, um dos responsáveis pela
mostra, estima-se que em São
Paulo vivem 50 mil descendentes.
"Nós não sabíamos que tínhamos
um tesouro tão valioso. Com isso,
conquistamos dois benefícios:
apresentar para novas gerações
princípios e tradições desconhecidos e mostrar o vínculo entre arte
e fé", conta Mosditchian.
Após "Ararat", o ciclo de debates paralelo à mostra segue na
próxima semana, dia 25, com o tema "A Imigração Armênia no
Brasil", com palestra de Sossi
Amiralian; no dia 8 de junho, com
"A Pintura Armênia no Século
19", que será abordada por Shahen Khachatryian, curador da
mostra, e no dia 15 de junho, sobre "A Pintura Armênia no Século 20", também a ser tratada por
Khachatryian. Todas as palestras
são gratuitas.
TESOUROS DE ETCHMIADZIN. Mostra
com cerca de 70 peças litúrgicas do
Museu de Etchmiadzin e ciclo de debates
todas as terças, às 18h30 (gratuitas).
Curadoria: Shahen Khachatryian.
Quando: de ter. a dom., das 10h às 18h.
Até 20/6. Onde: Pinacoteca do Estado
(pça. da Luz, 2, Bom Retiro, tel. 0/xx/11/
229-9844). Quanto: R$ 4. Patrocinador:
banco Sofisa.
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